DESTINO: 90's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's. 

KAROGLAN: Desp. Chaves (1991 a 1993) e Sp. Braga (1993 a 1999)


É inevitável pensar em momentos felizes quando se liga Karoglan e Sp. Braga, tantos foram os golos e as exibições de luxo do croata no velhinho 1º de maio. Passou seis anos no Minho, apaixonou-se pela cidade e pelo clube e é, ainda hoje, figura incontornável da história dos bracarenses.

Mas nem tudo foi fácil. O Sp. Braga de hoje é muito diferente do Sp. Braga daquele tempo. Quando Karoglan trocou Chaves pelo Minho encontrou um clube «cheio de problemas».

«Era uma confusão. Quando cheguei estava numa situação muito má. Não havia presidente, era só diretores e mais diretores. Era incrível. Naquela altura parecia uma equipa condenada a descer», descreve Karoglan, em conversa com o Maisfutebol.

Os problemas não eram apenas organizativos. As finanças falhavam, mesmo numa época de prosperidade no país. «Tínhamos de entrar em campo para jogar sempre, mas não era fácil. Recebíamos ordenado de 3 em 3 meses. Era muito mau», lamenta.

Depois, havia a questão estrutural. Um caos, descreve Karoglan: «Havia uns 50 diretores. Era um grupo que mandava no Braga mas se perguntasse ao António Oliveira [treinador] quem era o presidente ele não sabia responder. Se precisasse de alguma coisa não sabia com quem falar.»

Karoglan, e os restantes, agarraram-se ao que havia e o Sp. Braga, ano após ano, foi garantindo a desejada manutenção. Aos poucos, a situação financeira ficou, também, mais aliviada.

«Em dois três anos o Braga começou a crescer. Estabilizou o clube e subimos uns degraus. Chaves foi inesquecível, mas Braga foi a melhor fase», assume.


 Sp. Braga de 1993/94 (Karoglan é o primeiro a contar da esquerda, em baixo)


«O melhor? Quando dei a volta ao jogo contra o Benfica»


1997/98 foi a melhor temporada de Karoglan no Sp. Braga. Marcou 19 golos. No campeonato foram 16. Na Taça de Portugal três. Mas dois deles inesquecíveis.

«Se tiver de escolher o melhor jogo da minha carreira em Portugal, não tenho dúvidas: Sp. Braga-Benfica nas meias finais da Taça de Portugal», descreve.

A equipa encarnada tentava chegar ao Jamor pelas mãos de Graeme Sounness e até marcou primeiro, de penálti, pelo romeno Panduru. Ao intervalo o Sp. Braga do espanhol Castro Santos perdia e via o sonho da final fugir. No segundo tempo entrou em ação Karoglan.

«Dei a volta ao jogo. Foi uma grande tarde», descreve. Marcou de livre, depois de cabeça e o Sp. Braga chegou à final, perdida depois para o FC Porto.

O jogo que valeu o Jamor:



Escolher esse jogo como o melhor é bem mais fácil para Karoglan do que eleger, por exemplo, o treinador que mais gostou: «Não consigo. António Oliveira, Cajuda, Vítor Oliveira…Todos muito bons.»

O melhor golo, por outro lado, é fácil. Foi ao Gil Vicente. Pedimos uma descrição e Karoglan deu uma imagem bem lúcida: «Foi tipo o do Van Basten, está a ver?»

«Bola cruzada e chutei de pé esquerdo sem deixar cair, para o outro lado», continua.

O golaço à Van Basten (48s):



«O meu filho podia jogar no FC Porto»

Karoglan fez apenas mais uma temporada em Portugal depois daquela final do Jamor. Aos 35 anos, despediu-se de Braga e disse adeus ao relvado. «Estava na hora», comenta.

A decisão, de resto, foi rápida e simples: «Na altura já pensava abandonar. Preferi acabar no Sp. Braga porque era o que fazia sentido. Não foi difícil, já era altura.»

Voltou à Croácia e foi perdendo contacto com o dia a dia do clube, mas nada mais que isso. Os anos de glória viveu-os ao longe. E ao perto. «Fui a Dublin [final da Liga Europa]. Foi uma emoção. Já tinha ido a Liverpool nesse ano. Estou à espera que o Sp. Braga volte a jogar na Europa para o ano», atira.

Planeada está, também, uma viagem a Portugal para matar saudades do Braga. Continua a falar com gente do clube. «Até com o presidente [António Salvador]. Se precisar de alguma coisa ligo-lhe», revela. Um grupo de sócios do clube está, também, interessado nesta viagem pois pretende homenagear o seu ex-jogador.

E quando voltar, talvez traga o filho mais velho, Vid, de 17 anos, para lhe mostrar a cidade que o encantou e onde encantou. Também joga o descendente de Mladen.

«Está nos juniores do Dínamo Zagreb. É extremo esquerdo. Se estivesse em Portugal, podia jogar no FC Porto (risos). Vai ser melhor do que eu. Tem de ser. Espero que seja», deseja, para fim de conversa.

KAROGLAN: «Se não fosse a guerra nunca teria ido para Portugal»

Fotos cedidas por José Rodrigues, administrador do grupo no Facebook de Mladen Karoglan