DESTINO: 90's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's. 

KAROGLAN: Desp. Chaves (1991 a 1993) e Sp. Braga (1993 a 1999)


Por muito que o Sp. Braga tenha crescido nos últimos anos ( e cresceu) dificilmente se encontrará um estrangeiro que mais rapidamente se identifique com o Sp. Braga do que Mladen Karoglan.

O avançado croata foi grande figura do conjunto bracarense nos anos 90, bem antes da explosão definitiva do clube, que acabaria por jogar, até, uma final europeia em 2011, depois de ter mordido os calcanhares ao Benfica na luta pelo título, no ano anterior.

Era impossível, então, começar um artigo sobre Karoglan sem falar do Sp. Braga, por muito que a carreira do avançado croata em Portugal até tenha começado em Chaves. É como o próprio diz: «Chaves foi inesquecível, mas a melhor fase foi em Braga».

O «Destino:90’s» procurou, desta feita, Mladen Karoglan, avançado rápido, esquerdino, matreiro na área. O telefone tocou em Zagreb, onde mora desde que deixou Braga e encerrou a carreira, em 1999. Tinha 35 anos.

A conversa com o Maisfutebol é toda em português. Algumas palavras saem mais rapidamente do que outras, mas Karoglan, de 50 anos, continua a falar fluentemente o idioma. Começamos pelo presente. O que faz, por estes dias, o ex-bracarense? Karoglan ri. Foi assim quase toda a conversa. «Estou a viver», atira, rompendo numa gargalhada.

Depois abre o livro. «Continuo ligado ao futebol. Tento manter sempre esta ligação, mesmo que não a nível profissional. Trabalhei como olheiro e também numa equipa juvenil aqui da cidade. Cheguei a falar com o Braga para descobrir talentos mas nunca foi nada em concreto. Não tenho ligação a um clube, faço de olheiro para alguns amigos, seja para a Croácia, Inglaterra, Alemanha…», enumera.

De Zagreb garante que «mantém um olho» na Liga portuguesa. No Sp. Braga e nos grandes. Pergunta-nos pelo Desp. Chaves e explicamos que está a lutar pela subida. «Parabéns para eles então. Espero que consigam. Falta uma equipa daquela zona na I Divisão em Portugal», explica.

«Conheço os jogadores do Sp. Braga, FC Porto, Benfica, Sporting. Mais do que isso não me pergunte…», atira, de novo entre risos. Pode estar descansado. Queremos as memórias, isso sim.

O Sp. Braga de Manuel Cajuda com Karoglan (fila do meio, primeiro à direita)
 
Guerra obrigou a uma mudança que ocorreu «muito tarde»

A chegada a Portugal aconteceu em 1991, quando eclodiu a guerra na antiga Juguslávia. Como muitos outros futebolistas daquela zona, Karoglan viu-se obrigado a procurar outro destino para jogar futebol. «Veio fugido da guerra», era a expressão que por cá se utilizava para falar dos jogadores de leste que começavam a ser presença habitual numa Liga, até então, mais restrita.

«Se não fosse a guerra nunca tinha ido. Tinha 26 anos e não me passava pela cabeça sair daqui, ainda por cima para um país como Portugal, tão longe. É a vida. É a guerra e é a vida…», afirma.

Ainda assim, foi um mal que veio por bem: «Ninguém gosta de guerra, mas se não fosse isso se calhar nunca tinha conhecido um país lindo como Portugal. Passei lá oito anos que nunca vou esquecer.»

O lamento é, portanto, apenas um: «Fui muito tarde». Na altura, Karoglan tinha 26 anos e jogava no NK Zagreb. Já levava quase dez numa carreira que começara no Hajduk Split em 1982.

«Para um jogador de futebol 26 anos já é muito tarde, mas ainda joguei muitos mais. Se fosse hoje acho que nem me davam oportunidade. Agora aos 20 anos já são velhos. Pode ter a certeza: um jogador de 20 anos não sabe nada de futebol. É muito verde. Mas agora é assim. Aqui na Croácia aparece um jogador de 18 anos e já falam logo em vender por milhões. Enfim», lamenta.

«Nunca tive empresário. Se fosse hoje trabalhava com o Mendes»

Destino: Chaves. Uma cidade «diferente de todas» as que Karoglan conhecia. Mudança drástica, difícil. «Não conhecia ninguém, não sabia a língua. Digo-lhe que passei dias muito difíceis», assume. «Mas, por outro lado, não me esqueço que era uma cidade de gente boa. Cinco estrelas», aprova.

No plantel estava o búlgaro Slavkov e o sérvio Rudi. «Estavam um pouco como eu. Era difícil. Mas se eles não estivessem lá eu tinha de jogar na mesma e foi isso que meti na cabeça», explica.

Seguiram-se dois anos, 62 jogos, 17 golos. E chegou a hora de mudar, para o clube que deu início a esta reportagem. Karoglan assina pelo Braga em 1993. Única proposta? Concreta sim, mas houve outros interesses.

«Chegaram a dizer-me que o FC Porto também me queria. Nunca soube se era verdade. Eu não sabia muitas coisas. Não tinha empresário, veja lá. Sempre fui eu que tratei de tudo, hoje em dia era impossível», sublinha.

Essa opção, tomada para «não dar muita confiança» a empresários, marcou-lhe a carreira: «Se tivesse empresário talvez tivesse chegado mais longe em Portugal. Nunca se sabe. Pode ter a certeza de uma coisa: se conhecesse o [Jorge] Mendes queria trabalhar com ele (risos). Pena que não existisse um Mendes naquela altura.»

KAROGLAN: o golo à Van Basten e o dia em que virou o Benfica

Fotos cedidas por José Rodrigues, administrador do grupo de Facebook Mladen Karoglan