DESTINO: 90s é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90s. 

JORGE SOARES: FARENSE, BENFICA, MARÍTIMO, DE 1989 A 2002

Jorge Soares mantém o registo pacato que tinha de quando era jogador. Reconvertido atualmente em professor de educação física, e responsável por uma escola de futebol, o antigo central continua fiel à cidade (Faro) que o acolhe desde os 15 anos.

Realista, pragmático até, soube preparar atempadamente a retirada de cena e não se deu mal. «Acabar a carreira e não fazer nada? Apesar de tudo, não ganhei o dinheiro que hoje se ganha», sublinha, para início de conversa com o  Maisfutebol, o nativo de Messejana, no Baixo Alentejo.

Lembrar Jorge Soares é lembrar aquele Farense forte, que fazia tremer os grandes no São Luís, que ajudou a perceber o que é uma finalíssima no Jamor ou enfrentou o Ol. Lyon na extinta Taça UEFA. O grande símbolo do futebol algarvio dos anos 90, por onde passaram nomes como Hassan, Pitico, Hajry, Peter Rufai, entre muitos outros, treinados, claro está, pela inolvidável dupla Paco Fortes/Fernando Pires (Fanã).

Um desses ex-colegas do central alentejano, Portela, é, justamente, o sócio com quem fundou a Geração de Génios, um projeto que começou por ser independente e tem agora o «know-how» do Benfica por detrás.

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A Luz, precisamente. Comecemos por ai. Em Abril de 1996, quando o imponente central se elevou nas alturas para selar a única vitória do palmarés dos leões de Faro no ninho da águia, começava a escrever-se uma história que o ia ligar ao emblema encarnado nos dois anos seguintes.

«Já tinha assinado em Janeiro e a notícia já tinha saído na Imprensa. Claro que houve algumas brincadeiras», relembra o defesa, ao mesmo tempo que repara na curiosa coincidência dos golos que marcou àquele que viria a considerar como o melhor guarda-redes com quem alguma fez jogou:

«É engraçado. Marquei ao Preud’ Homme nesse jogo e também em Faro, quando ganhámos, no ano anterior, por 4-1. Pelo Marítimo, ganhei também várias vezes ao Benfica.  Para mim, foi o melhor do Mundo, e joguei com grandes guarda-redes, mas ele... era cinco estrelas, um profissional a 200 por cento.»

Além do mítico guardião belga, Jorge Soares elege João Pinto e Valdo como dois dos jogadores que mais o impressionaram nos relvados, mas recorda também duelos com Batistuta ou Jimmy Hasselbaink. «O melhor da minha carreira foi ter conseguido chegar ao Benfica. É o máximo que um jogador pode ambicionar. Claro que, nessa altura, não pensávamos num Barcelona ou Real Madrid. Por isso, era o topo. Chegar a um clube dessa dimensão era o máximo.»

Na primeira época, alinhou em 28 jogos (dois golos), ao lado de Bermudez ou Tahar. A saída de Hélder [Cristóvão] para o Desp. Corunha abriu-lhe definitivamente as portas da titularidade. Já na segunda época, uma lesão estragou-lhe os planos. Ainda fez os primeiros jogos, ao lado de Carlos Gamarra, mas, em Outubro, rompeu os ligamentos cruzados, e, quando voltou, em Fevereiro, já Graeme Souness havia substituído Manuel José.

«Não me conhecia, praticamente. Tinha mais uma época no de contrato, mas optei por sair, porque queria jogar. Não estive para estar à espera. Ele chega, não me conhece, ainda me convoca, mas eu queria jogar. Saí sem rancores, a opção foi minha. Podia ter ficado mais um ano, mas achei que não era bom para mim ficar. Arrisquei e correu bem», explica, socorrendo-se do exemplo daquilo que se passara quando ainda estava em Faro: «No meu primeiro ano de sénior, o Paco queria emprestar-me, mas eu disse que queria ficar, e tive a minha oportunidade.»

«Se lá tivesse ficado poderia ter conseguido o meu espaço. Ainda se falou do Sp. Braga, mas o Marítimo já me queria desde os tempos do Farense. Acabei por rescindir. As coisas correram bem novamente, estive cinco anos no Marítimo», recorda, com visíveis saudades dos bons tempos passados da Madeira.

«As pessoas só vêem o momento, não o jogo todo...»

A passagem, com altos e baixos, pelo plantel encarnado ficou, todavia, marcada por um daqueles instantes em que tudo parece deixar de fazer sentido e fica apenas aquela fração de segundos . «O golo do Jardel? Foi mais um. As pessoas, não sei por quê, é que falam. Falam-me mais disso agora do que na altura. Foi mais um golo. Quantos não fez ele?», questiona, elogiando o agora deputado federal:

«Era um jogador complicado de marcar. Foi dos mais complicados que enfrentei.  É sempre ingrato para qualquer central. Podes estar a fazer um grande jogo, sofres um golo, porque ele fez algo de extraordinário, e já está... »

Há, no tom do antigo camisola 3 encarnado, um ligeiro travo a mágoa.

«As pessoas vêem é o momento e não o jogo todo. Falam, e tal, que foi um bonito golo, sim senhor, porque não é todos os dias que se faz aquilo. A bola vem no ar, mata no peito, e, de primeira, pimba. Vi-o fazer parecidos, mas não igual. Claro que o impacto é maior, é um Benfica-Porto. Ao longo deste anos, tenho visto às vezes os centrais do Benfica a sofrerem golos, não como este, mas parecidos. Marcados, claro, não pelo Jardel, mas do género: o defesa salta, passa a bola...»

O famoso golo de Mário Jardel na Luz: