DESTINO: 90's  é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis.  DESTINO: 90's. 

NELSON BERTOLLAZZI: Boavista (1986/97; 1988/89; 1990 a 1994; e 1995/96) e U. Leiria (1994/95) 

Apesar de ser um avançado, Nelson Bertollazzi nunca foi homem de quantidades astronómicas de golos. Muitas vezes deslocado para uma faixa do ataque, devido às características de jogador móvel, o brasileiro não era uma máquina goleadora, mas fazia alguns, claro.
 
Ne melhor temporada em Portugal nesse quesito, quando jogou em Leiria, fez 12 golos. Antes nunca passara dos 10. Alguns, claro está, foram especiais.
 
Em conversa com o Maisfutebol, Nelson Bertollazzi recorda dois jogos em que marcou. E que o marcaram.
 
O primeiro logo na época de estreia em Portugal, 1986/87. O Boavista enfrentava a Fiorentina, num jogo que parecia desequilibrado à partida. Bertollazzi recorda: «Eles eram um dos grandes de Itália, nós uma equipa média em Portugal. Pensaram que éramos uma equipazinha.»
 

Na primeira mão, o Boavista sai vivo de Florença apesar da derrota por 1-0. Em casa, Nelson Bertollazi faz o golo que empata a eliminatória e, nos penáltis, Hubart para dois e a equipa de João Alves segue em frente.
 

 

«Foi uma experiência muito boa. Primeiro porque estava a jogar contra italianos e eu sou descendente de italianos, depois porque correu-nos muito bem. Olharam para o Boavista de lado. É normal, aqui no Brasil joga-se xadrez com aquelas camisolas, não estavam habituados e não nos levaram a sério», comenta.
 
Era o prelúdio para a ainda mais icónica eliminatória com o Inter de Milão, quando os portugueses ganharam o epíteto de «equipa das camisolas esquisitas». Foi na temporada 1991/92, numa caminhada que não teve Nelson Bertollazzi, ausente no Brasil.
 
Mas o brasileiro recorda ainda outro jogo histórico, anos antes desse. Questionado sobre o melhor jogo que teve em Portugal não demora muito a responder: «Houve um com o FC Porto que foi muito bom. Ganhámos 4-1 e fiz dois golos.»
 
Foi na 20ª jornada da Liga de 1988/89. No final do jogo, Valentim Loureiro comentava que até estava a torcer para um empate. Mas o Boavista não deu hipóteses e Nelson Bertollazzi fez dois golos, o segundo brilhante.
 
 

«Sempre que jogávamos com uma equipa grande era sempre uma grande noite. Até porque nos podíamos mostrar. Na altura, os jogadores das outras equipas em Portugal jogavam sempre para tentar um contrato com os grandes»,
recorda.
 
«Nunca tive medo de caras feias»
 
Sete anos em Portugal, atravessando duas décadas, serviram para Nelson Bertollazzi conhecer os caminhos mais duros do futebol luso. Para um avançado, há sempre aquele defesa que marca. Muitas vezes, literalmente.
 
Neste caso foram dois: «O Mozer, do Benfica, batia um bocado…E depois havia o [Fernando] Couto, no FC Porto, que também batia bem. Havia equipas como aquela de Santo Tirso, que batia muito.»
 
«Antigamente os jogos eram mais duros. Mas nunca tive medo de caras feias», atira, entre risos.

Quem também o marcou foram os treinadores que apanhou. Manuel José, pela postura ofensiva, foi o primeiro destaque. Mas houve mais: «Também o João Alves e o próprio Raul Águas. Na U. Leiria também o Vítor Manuel, que era uma pessoa maravilhosa.»

Então e quem eram os reis das brincadeiras, quisemos saber. «Havia tantos! Alfredo, Nogueira. O Artur também puxava muita bagunça…. Acabava o treino voava tudo…camisolas, calções…era a bagunça total», comenta, entre gargalhadas.
 
As saudades de Portugal são imensas, mesmo que Nelson Bertollazzi tenha estado cá há ano e meio. «Foram só três dias», lamenta.
 
«Vou ter de voltar porque levei um casal amigo que me está sempre a perguntar quando voltamos para comer de novo o bacalhau da Ribeira. Adoraram. Estou a fazer contas a ver se vou aí mais uns quatro dias», promete. Esperamos a visita, Nelson.