ANTÓNIO CARLOS: FC Porto (1992/93)
O pé esquerdo era de sonho. Metia a bola onde queria. Fez, por exemplo, dois golos em jogos do campeonato nacional e mais um par em amigáveis. Para ser bom, até decisivo, António Carlos nem precisava de correr muito.
Os adeptos do FC Porto com mais de 30 anos recordam-se, certamente, deste talentoso brasileiro. Quanto mais não seja pela forma rara como foi obrigado a sair do clube. Sete meses depois de chegar às Antas, proveniente do América mexicano, António Carlos foi recambiado para o mesmo clube.
Porquê? Agrediu Paulinho Santos num treino.
O Maisfutebol encontra António Carlos, 50 anos, a viver na cidade de Veracruz, ainda no México. É empresário na área petrolífera e tem duas companhias.
ANTÓNIO CARLOS no México: «Reyes precisa de músculo, Herrera é fora de série»
Responde com alegria e surpresa ao nosso contacto e começa logo pelo episódio mais polémico da curta passagem pelo FC Porto. Senhoras e senhores, António Carlos conta tudo o que se passou com Paulinho Santos no treino em que assinou o seu adeus.
«Ele acertou-me por trás. Uma e outra vez, o treino todo. E eu respondi com um soco. Vieram todos agarrar-me, mas ao Paulinho não. Fui o único a pô-lo no lugar, ele era meio panca».
O Maisfutebol, sempre interessado na paz mundial e na harmonia entre todos os seres, pergunta se houve um pedido de desculpas. Um abraço entre dois colegas, um almoço para esquecer tudo?
«O Paulinho foi um cobarde! E com um cobarde não há desculpas. Ele vinha de um clube pequeno [Rio Ave], nunca tinha jogado até aí [n.d.r. jogara 22 minutos contra o Union Luxembourg] e depois desse caso passou a ser titular. Muito estranho, não?»
O que terá, então, ocorrido caro António? «Uma armação!», atira, sem hesitar, o simpático ex-dragão.
«O treinador Carlos Alberto Silva era um sem vergonha. Um safado. Não gostava de mim, nunca me colocou na minha verdadeira posição - eu sempre fui médio e com ele jogava a extremo esquerdo - e decidiu afastar-me dessa forma» .
Um golo de livre direto ao Sp. Farense (1m10s):
Calma, vamos lá perceber: Carlos Alberto Silva é brasileiro, tal como António Carlos. Não foi o técnico a aprovar a contratação do esquerdino?
«Não, não. O senhor Pinto da Costa, um homem fantástico, tal como o Reinaldo Teles, quis contratar-me em 1985, ao Botafogo. Não foi possível, mas ele sempre adorou o meu futebol e contratou-me em 1992 ao América. Nunca fui um jogador desse técnico metido à besta».
Ora, ordem na mesa: António Carlos era um jogador de grande valia, importante nas escolhas de CAS (15 jogos oficiais e 2 golos), e do agrado do presidente. Mas saiu.
«Depois da confusão com o Paulinho, o Carlos Alberto foi ter com o presidente e disse: 'ou sai o António Carlos ou saio eu'. Eu adorava o presidente e ele a mim, mas perante isto o melhor foi mesmo eu sair. E voltei ao América».
António Carlos foi um cometa, avassalador e imparável, na passagem pelas Antas. Saiu a mal, mas com uma Supertaça e um Campeonato Nacional no currículo. Além de muitas e boas amizades, claro.
«Faltou-me um empresário para gerir aquele problema. O Paulinho César e o Aloísio eram os meus grandes amigos. Tentei entrar no círculo dos portugueses, mas não era fácil. À quinta-feira havia o almoço do vinho verde e não me convidavam. Tenho pena, precisava de mais tempo».
Carlos Alberto Silva até podia não gostar de António Carlos, mas o esquerdino guarda a memória de algumas grandes exibições.
«Contra o Sion entrei e estive nos dois golos. Ficou 2-2 na Liga dos Campeões. Contra o Benfica marquei um penálti decisivo e ganhámos a Supertaça. No Torneio Cidade do Porto, jogado no Bessa, chamaram-se maestro e solista, compararam-me ao Madjer. Guardo até hoje o jornal com esse título».
António Carlos a brilhar no Sion-FC Porto:
Mas, afinal, o que causou tanta inimizade entre CAS e António? Voltemos ao tema para fechar este artigo.
«Ele tinha mentalidade tacanha. Qualquer jogador que fizesse um drible ou se destacasse estava tramado. E eu tinha essas características. Quase todos tinham medo dele, eu não. Ele chegou a obrigar-me a jogar com umas chuteiras de seis pitons, quando eu estava habituado a uma sola diferente. Exigi respeito e ele não gostou» .
António Carlos Santos é considerado um dos melhores jogadores de sempre na história do Club América. Ao nosso jornal jura que podia ter o mesmo estatuto no Museu do FC Porto. «O CAS não deixou».