DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

NICA PANDURU: Benfica (1995 a 1998); FC Porto (1998/99); Salgueiros (1999/00)

Steaua Bucareste-Benfica, 2 de novembro de 1994. 1-1, golos de Panduru e Hélder. Sem saber, o virtuoso de Marzanesti ganha nessa noite o bilhete para três temporadas de águia ao peito.

«O Artur Jorge adorou-me, perguntou quem eu era no fim do jogo. Disse-me que marcar um golo ao PreudHomme não era para qualquer um».

A recordação é do próprio Nica, sai num português irrepreensível e no início de um contacto telefónico a partir de Bucareste.

«Sou comentador na televisão romena há cinco anos. Vejo muito futebol, gosto do que faço. Tive um convite para treinar uma equipa da I liga romena, mas decidi adiar».

Estrela do Steaua, 22 vezes internacional pela seleção da Roménia (dois jogos no Mundial94), três épocas no Benfica, transferência para o FC Porto no verão de 1998.

Talentoso com a bola, molengão sem ela. 13 anos após o adeus a Portugal, a entrevista ao Maisfutebol. No mesmo tom de sempre. Arrastado, monocórdico e decorado com apontamentos de craque. 

Alverca-FC Porto, 1-5: o único jogo completo de Panduru


Em 1998 trocou o Benfica pelo FC Porto. Recorde-nos todo esse processo.
«Acima de tudo foi confuso, muito. No Benfica havia grande instabilidade, só tinha conquistado uma Taça de Portugal e fui atrás de títulos. O Porto era muito superior e senti que tinha de aceitar o convite. Se eles me estavam a convidar é porque eu estava a fazer bem as coisas no Benfica, mesmo numa fase ingrata».  

As reações dos colegas no Benfica foram más?
«Dos colegas, não. Dos adeptos, sim. Ainda há poucos anos fui ver o Chelsea-Benfica, a Amesterdão, e uma senhora amiga do Barbas – um bom amigo meu – não quis tirar fotos comigo depois de saber que eu tinha sido jogador do FC Porto».  

Arrepende-se de ter mudado da Luz para as Antas?
«Na altura eu quis ir para o FC Porto. Isso é que é importante. Eu sentia que no Benfica não ia jogar tanto como desejava, porque o treinador que lá estava [Graeme Souness] confiava mais noutros jogadores. E o FC Porto ganhava muita coisa. Correu mal, sim, mas quando eu fui para lá não sabia que ia ser assim».  

PANDURU NO DESTINO 90s: «No meu Benfica era impossível jogar bem»

NICA PANDURU NA LIGA PORTUGUESA

. 1995/96: Benfica, 15 jogos/3 golos (2º lugar)
. 1996/97. Benfica, 19 jogos/2 golos (3º lugar)
. 1997/98: Benfica, 15 jogos/2 golos (2º lugar)
. 1998/99: FC Porto, 6 jogos (campeão)
. 1999/00: Salgueiros, 7 jogos/1 golo (15º lugar)

TOTAL: 62 jogos/8 golos
TÍTULOS: 1 Campeonato Nacional, 1 Taça e 1 Supertaça

O que correu mal no FC Porto? Só fez dez jogos oficiais em toda a época.

«Muita coisa! (risos) Primeiro, cheguei a uma equipa que era tetracampeã e a um meio-campo que tinha Zahovic, Paulinho, Doriva… era muito difícil ser titular numa equipa que vinha de troféus em quatro campeonatos consecutivos. Depois tive vários problemas com lesões e não rendi o que podia quando joguei. Acabei de ir para a equipa B no segundo ano, fui emprestado ao Salgueiros e obrigaram-me a jogar lesionado, muito mau. Recebi vários convites para sair e falhava sempre qualquer coisa».

O treinador Fernando Santos explicava-lhe as opções, dizia-lhe por que não jogava?
«Não falava, nem tinha de falar. Eu agora sou treinador e não posso falar com todos os que não jogam. Às vezes esperava uma palavra, uma motivação, mas não é importante falar disso. O Fernando Santos era bom treinador e a carreira dele prova isso».

Sentiu que o plantel era demasiado bom para ter o Nica Panduru?
«Senti que os titulares eram muito fortes. Posso lembrar ainda o Drulovic, depois o Deco e o Jardel. Eu não tinha a importância deles, mas tinha valor».

 

Panduru, cromo do Mundial94

Qual foi o melhor momento na sua carreira de futebolista?
«A presença no Campeonato do Mundo de 1994, nos EUA. O meu país tinha uma geração fantástica e eu fiz parte desse grupo: Hagi, Raducioiu, Dumitrescu, Petrescu, uma equipa de craques. A Roménia foi aos quartos-de-final [derrota contra a Suécia nos penáltis] e eu estive em dois jogos [5 minutos contra a Suiça e 12 contra a Suécia]».

Há algum jogador romeno que aconselhe aos clubes portugueses?
«O nível baixou muitos nos últimos quatro anos, mas sugiro dois: o Alexandru Chipciu, médio de 26 anos, do Steaua, e o Nelut Rosu, um esquerdino do CFR Cluj, o melhor da seleção de sub21».