DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's. 

RONALDO Guiaro: Benfica (1996 a 2001)


O Benfica de hoje é muito diferente do Benfica que Ronaldo conheceu por dentro. A opinião é do próprio. Se, na sua altura, a desorganização era evidente, fomentada pelo «desespero de não vencer títulos», os tempos atuais são de estabilidade.

O central brasileiro, que deixou a Luz em 2001 para jogar no Besiktas, na Turquia, depois de cinco anos de águia ao peito, considera que a diferença é o dinheiro. Afinal, já diz o povo: «Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão».

«Às vezes era difícil perceber o que se passava no Benfica», atira. «Acho que era um problema de dinheiro. Não havia dinheiro, não dava para contratar grandes jogadores», acrescenta.

«Hoje é diferente, o clube tem dinheiro, é campeão quase todos os anos, faz boas campanhas na Europa, esteve dois anos seguidos na final da Liga Europa. Na época era o FC Porto que tinha o dinheiro e ganhava quase tudo. Mas acho que o Benfica já superou o FC Porto», afirmou, num discurso algo inflamado, sobretudo na contabilidade dos títulos internos.

«Brasil-Alemanha lembrou-me o nosso jogo com o Celta de Vigo»

O seu Benfica era, então, bem diferente. Ronaldo recorda vários momentos complicados vividos na Luz, mas houve um jogo em especial que o marcou pela negativa. A ele e a todos os benfiquistas. A goleada (7-0) em Vigo, claro.

«Foi um jogo muito atípico. Cada vez que íamos para cima deles, eles faziam um contra-ataque e marcavam. Lembrei-me bastante desse jogo quando estava a ver o Brasil-Alemanha do Mundial. Foi parecido. Cada vez que iam à baliza era golo», diz, entre risos.

A derrota, que ficou para a história como a mais pesada de sempre nas provas europeias, deixou marcas no grupo: «A partir daquele jogo o ambiente ficou ainda pior. Criou-se uma onda muito negativa. Também é verdade que não se protegia os jogadores, naquele tempo. Sobretudo os defesas. A culpa tinha de ir sempre para alguém.»

Quase esquecida ficou a noite de Salónica, na eliminatória anterior. Frente ao PAOK, Ronaldo viveu o melhor jogo de encarnado vestido. «Tive uma lesão no tornozelo no dia anterior, mas consegui jogar. Depois assisti o Nuno [Gomes] para o primeiro golo e marquei o segundo, o da reviravolta», descreve.

O golo e a assistência de calcanhar de Ronaldo em Salónica:



«Foi nesse jogo que o Benfica ficou encantado com o Sabry. Era um jogador muito diferenciado, parecia um sul-americano, muita fantasia», recorda.

Entre os companheiros que teve no Benfica, porém, outros lhe encheram as medidas. Talvez por ser central, destaca outro: «O Gamarra era um grande jogador. Um defesa espetacular. Infelizmente ficou pouco tempo.»

«Depois havia o Nuno [Gomes], o João [Pinto]. Estive com o João aqui no Brasil durante o Mundial, porque a seleção de Portugal ficou perto de minha casa. Tenho uma boa amizade com o Paulo Madeira, foi também o central com quem joguei mais vezes no Benfica», recorda.

Rivais? O «quase perfeito» Jardel e…Mantorras

Numa altura em que o Benfica não ganhava tanto como queria, Ronaldo teve de enfrentar adversários que lhe deram muitas dores de cabeça. Um, acima dos demais.

«O Jardel fazia a diferença. Não era um avançado habilidoso mas dentro da área era quase 100 por cento perfeito. Marcava por cima, por baixo, tudo», comenta.

Outro, talvez menos esperado, foi Pedro Mantorras, que mais tarde chegaria à Luz, já com Ronaldo na Turquia. «Quando estava no Alvera era impressionante. Muito difícil. Não cheguei a jogar com ele. Infelizmente teve aquela lesão porque poderia ter ido muito longe», afirma.

As memórias do Benfica dos 20 reforços por época

Nos tempos atuais, Ronaldo quer afirmar-se como treinador. Está sem clube e a ver o que surge nesta pausa no futebol brasileiro. Mas se não vier a proposta certa, não vai ficar parado.

«Já tenho um projeto traçado: quero ir para a Europa aprender. Estagiar em Portugal, Turquia, Alemanha. Vou tentar falar com os clubes por onde passei. Quando estive na Grécia [Aris de Salónica] falei com o Jupp Heynkess e ele deixou-me a porta aberta para fazer um estágio. Em março devo arrancar», completa.