O retrato atual da relação entre a mulher portuguesa e o Desporto começa por uma boa notícia. Os números mais recentes mostram que nunca houve tantas mulheres inscritas em federações. Em 2011 eram 131628, um valor quase quatro vezes superior ao de 1996, ano em que havia apenas registo de 35196 em todas as federações.

O crescimento também se vê em termos percentuais: de 13 por cento do total de praticantes, aos atuais 25, a presença das mulheres na prática organizada de desportos foi um fenómeno claramente reforçado nas últimas décadas.

Agora as más notícias: segundo o Eurobarómetro encomendado em 2010 pela Comissão Europeia, Portugal é, de entre os 27, o segundo país com maior grupo de população que nunca praticou desporto (55%), apenas à frente da Grécia. Nesse grupo, as mulheres estão em clara maioria: são 57% na média dos 27, e bem acima dos 60% em Portugal.

As más notícias aumentam com a constatação de que a percentagem de mulheres que pratica desporto regularmente (mais de duas vezes por semana) está abaixo da média europeia, em todos os escalões etários, ao contrário do que acontece com a população masculina, onde a faixa dos 15-24 anos, e acima dos 70, tem valores superiores à média europeia.

Um fenómeno estranho chamado futebol

No que se refere a modalidades, o voleibol continua a ser a mais popular entre as mulheres, posição que ocupa desde 2004, graças a uma forte implantação nas escolas. São 22817 praticantes, quase todas em idade inferior ao escalão júnior. Há mais mulheres (52,7%) do que homens a praticar vólei, o que só acontece mais na ginástica, onde 81,6% dos praticantes são do sexo feminino.

O futebol está no polo oposto: mesmo que barreiras históricas, como a presença de mulheres na arbitragem ou nos cursos de treinador tenham ruído a um ritmo acelerado, é apenas a sétima modalidade mais praticada, com um total de 5790 atletas federadas. E impressiona pensar que estas são apenas 3,8% do total de 151572 praticantes que fazem do futebol a modalidade dominadora em Portugal, a larguíssima distância da segunda, o voleibol (43 mil).

Modalidades mais praticadas em Portugal (2011):

Futebol, 151572

Voleibol, 43240

Basquetebol, 40241

Andebol, 39877

Campismo e montanhismo, 34561

Ténis, 25491

Karaté, 15469

Golfe, 14655

Atletismo, 14565

Judo, 12498

Ginástica, 11636

Total de praticantes femininos em Portugal (2011):

Voleibol, 22817 (52,7% do total de praticantes)

Basquetebol, 16226 (40,3%)

Andebol, 15339 (38,4%)

Campismo e montanhismo, 10249 (29,6%)

Ginástica, 9495 (81,6%)

Ténis, 9169 (35,9%)

Futebol, 5790 (3,8%)

Atletismo, 5642 (38,7%)

Medalhas e títulos

Um último olhar incide no impacto das mulheres na valorização internacional do desporto português. E o recente título europeu de Sara Moreira, nos 3 mil metros em pista coberta, nem precisa de entrar nestas contas. Usando como indicador as medalhas registadas anualmente pelo IDP, considerando os vários escalões e as mais diversas modalidades, a constatação mais evidente é a de que as mulheres têm bom desempenho. De 1997 até 2011, último ano referenciado nas estatísticas, o peso percentual do contributo feminino para títulos foi sempre superior ao da sua presença.

Em 1997, quando as mulheres eram 13% dos atletas federados no país, conseguiram 21% das medalhas portuguesas (20 em 96). Em 2011, numa altura em que representam 25% dos atletas, somaram 93 das 314 medalhas registadas na contabilidade do IDP (29,6%). O ano mais forte foi 2008, quando as mulheres conseguiram 35% dos títulos internacionais, apesar de serem apenas 23 por cento dos praticantes.

As mulheres foram responsáveis por 5 das 23 medalhas olímpicas conseguidas por Portugal, mas quase metade das conseguidas nos últimos 30 anos (5 em 12). E no que se refere às medalhas de ouro, o saldo é rigorosamente partilhado por Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Carlos Lopes e Nélson Évora.