A fase da inocência nas redes sociais está a terminar. (ou talvez já tenha terminado e eu ainda não tenha recebido a notificação)

A presença dos grandes desportistas em plataformas como Facebook, Twitter e Instagram está a profissionalizar-se e muito do que ali se passa é agora parte do negócio. Em alguns casos, até mais negócio do que partilha.

Sim, no princípio era a
partilha. E ainda é, para alguns.

Quando Salvio divulga um
vídeo do interior do autocarro do Benfica, no regresso de Turim, o que está a fazer é partilhar um ambiente reservado, inacessível, com milhares de adeptos. E com os meios de comunicação, que lhe conferem valor notícia e o difundem para os que não têm acesso às redes sociais. Ou simplesmente estavam distraídos ou ocupados.

O ciclista português Rui Costa, hoje em dia um dos melhores do mundo neste desporto, é um bom exemplo de uma conta
old fashion. Para não escrever genuína.

No Twitter, Rui Costa oferece links para os diários que publica no seu site. Mas também faz retweet de publicações de emigrantes portugueses que o seguem na Suíça. Dedica resultados à mãe e vai até mais longe, publicando uma foto que fala por si.


Este é o mundo das redes sociais tal como o conhecíamos.

Depois há outros casos, como o de Cristiano Ronaldo, o melhor na sua atividade.

Seguido por milhões de pessoas, um pouco por todo o mundo, o avançado do Real Madrid tem utilizado Facebook e Twitter para divulgar as atividades paralelas (por assim dizer...) em que participa. Quase sempre há um produto associado.

Pode ser um relógio, as novas chuteiras, um jogo, uma plataforma online ou outra coisa qualquer.

Pode ser também, como no dia 6, uma mensagem publicitária pura e simples.


Sim, Cristiano, nós não imaginamos.

Até porque o tweet acontece numa altura em que Lisboa (e imagino que outras cidades também) estão repletas de imagens da nova campanha publicitária de Cristiano Ronaldo. A utilização da rede social para comunicar mensagens publicitárias é seguramente legítima, mas a possibilidade de causar dano na relação entre a estrela e o adepto é real. Em casos como este, quebra-se a proximidade, desaparece a partilha. A rede social torna-se apenas mais um canal. Um outdoor, no fundo.

Se em quatro dias Ronaldo sente duas vezes necessidade de colocar um link comercial e não tem uma palavra para os adeptos sobre os maus resultados dos últimos tempos ou a condição física que nos preocupa a todos, o que esperar daquela conta de Twitter?

O problema desta profissionalização do «outro lado» é que torna tudo frio e permite que se instale a dúvida até quando tudo parece tão natural e ocasional, como neste post.


Vistos ali, juntos e sorridentes, parece apenas o encontro entre três portugueses. Se estivermos distraídos, quase nos esquecemos que o tenista João Sousa e o futebolista Cristiano Ronaldo são representados pelas mesmas pessoas. Não tem mal nenhum claro e é de certeza legítimo. Só não é partilha. E assim os meios diretos vão deixando de o ser, tomados que estão por mediações estratégicas. Tudo muito pensado, muito certinho. Distante, numa palavra. Provavelmente era inevitável.

Claro que Ronaldo não é o único. É simplesmente o maior. Há outros exemplos de contas em que o protagonista dá a cara, mas pouco mais. Neymar, por exemplo.

Outros ainda, como Nadal, tentam equilibrar o negócio, que por ali anda, com um simples jantar de amigos.

E nem um tipo como este, que já usou o Twitter para realmente dizer o que pensa, escapa a uma divulgação comercial. Ou duas.

Felizmente ainda há quem se divirta no Twitter, sem se preocupar com o negócio e o politicamente correto. No fundo, é isto que nós queremos ver, não é?