* com Nuno Madureira

Seis golos, não é por falta de aviso. Nos últimos 50 anos nenhum outro jogador marcou tantos golos a Portugal como Nicklas Bendtner. E em toda a história só um conseguiu mais. Para o confronto desta terça-feira, a seleção deverá estar mais que avisada para o perigo que representa o avançado dinamarquês, mesmo que ande há muito afastado dos golos. E que tenha saído do jogo com a Albânia, no sábado, com uma lesão no nariz, que não o deve impedir de defrontar Portugal.

Bendtner, 26 anos, está agora no Wolfsburgo, depois de terminada uma longa ligação ao Arsenal. Tem andado discreto. Aliás, não marca um golo precisamente desde 1 de janeiro, na vitória dos Gunners sobre o Cardiff. O seu último golo pela Dinamarca tem exatamente um ano, foi a 11 de outubro, no empate a dois golos com a Itália na qualificação para o Mundial. Mas ainda assim.

Se o mundo conhece Bendtner pelo passado no Arsenal, uma ligação de dez anos ao clube inglês com alguns empréstimos pelo meio, mas também por uma série de episódios rocambolescos em que se envolveu, para Portugal o nome do avançado dinamarquês tem toda uma outra dimensão.

É fora do normal a facilidade com que Bendtner marca golos a Portugal. Em 61 jogos pela Dinamarca ele tem no total 24 golos, um a cada três jogos. Frente a Portugal, marcou seis em cinco confrontos.

Está lá em cima entre os jogadores que mais vezes bateram a seleção. Aliás, é ultrapassado apenas pelo espanhol Isidro Langara, que marcou cinco só de uma vez, na estrondosa goleada espanhola por 9-0 de março de 1934. Está a par do espanhol Telmo Zarra e do inglês Tom Fynney, avançados das décadas de 40/50.

Tudo começou no princípio para Bendtner, passe a repetição. O encontro de 1 de setembro de 2006 entre a Dinamarca e Portugal foi apenas o segundo jogo de Bendtner pela sua seleção principal. Tinha-se estreado em agosto de 2006, num particular com a Polónia, com golo. Quinze dias depois, começou no banco nesse particular em Brondby, o primeiro jogo da seleção nacional depois do Mundial 2006.

A Dinamarca, que nunca tinha ganho a Portugal, surpreendeu a seleção nacional. E quem pôs o ponto final no assunto foi um miúdo chamado Bendtner. Saiu do banco aos 71 minutos, em cima do apito marcou o golo que fixou o 4-2 final

Tomou-lhe o gosto. Desde então marcou mais cinco golos a Portugal, num período de seis anos. Números potenciados também pelo facto de Portugal ter tido nada menos que seis confrontos com a Dinamarca neste período.

Passaram dois anos até Portugal voltar a defrontar a Dinamarca. Foi a 10 de setembro de 2008, em Alvalade, já com Carlos Queiroz no banco, na segunda jornada da qualificação para o Mundial 2010. Um golo de Nani antes do intervalo deu a vantagem a Portugal, até que aos 83m um golo de Bendtner abriu caminho ao descalabro. Deco ainda marcou o 2-1, mas depois Poulsen e Jensen selaram a reviravolta dinamarquesa, 2-3.

Um ano mais tarde, o jogo na Dinamarca terminou empatado a um golo. Bendtner, pois, aos 43m, antes de Liedson fazer a quatro minutos do final o golo do empate.

Na qualificação para o Euro 2012 voltou a calhar a Dinamarca no caminho de Portugal. O primeiro jogo assinalou a estreia de Paulo Bento. Nessa partida de 8 de outubro de 2010, no Dragão, Portugal venceu por 3-1. A Dinamarca não tinha Bendtner, ausente por lesão.

Voltou para o jogo da segunda volta, um ano mais tarde, já depois de um verão em que encheu capas de jornais em Portugal, associado ao interesse do Sporting, do Benfica e também do FC Porto, e acabou emprestado pelo Arsenal ao Sunderland.

No Parken. A 11 de outubro de 2011, Krohn-Delhi fez o 1-0 aos 13 minutos, o segundo foi de Bendtner, aos 63m, a cruzamento de Rommedahl. Cristiano Ronaldo reduziu já nos descontos, mas não evitou a derrota da seleção nacional (2-1). 



Na fase final do Euro 2012 voltou a calhar a Dinamarca no caminho de Portugal. Antes do jogo, confrontado com o seu histórico de eficácia frente à seleção nacional, dizia isto: «Penso que é uma coincidência, mas ficaria feliz se marcasse novamente contra eles. Posso aproveitar coisas desses jogos contra eles, mas isto é um Europeu, é um jogo diferente.»

Esse jogo do Euro 2012 representou a única derrota de Bendtner com Portugal. Vitória portuguesa por 3-2, mas sim, foi ele quem marcou os dois golos da Dinamarca, ambos de cabeça.

Foi o jogo em que Bendtner baixou os calções durante os festejos para mostrar umas boxers que traziam escrito o nome de uma casa de apostas. Foi multado em 100 mil euros e suspenso por um jogo.



Um episódio a juntar a muitos que puseram Bendtner nas bocas do mundo por motivos extra-futebol. Em dezembro de 2011 foi preso, acusado de danificar carros durante uma noitada com amigos, quando jogava pelo Sunderland, por empréstimo do Arsenal. Dias antes tinha-se envolvido num incidente num restaurante por causa de uma pizza, quando o seu cartão de crédito não foi aceite.

O incidente mais grave aconteceu em 2013, quando foi detido por conduzir a 160 km/h em Copenhaga. Esteve seis meses suspenso pela Federação dinamarquesa. Em março deste ano queixava-se de que tinha sido construída uma imagem errada de si. «De tudo aquilo que me apontam, só falhei uma vez, em Copenhaga. E mesmo assim as pessoas julgam-me um psicopata», dizia: «Faça o que fizer, vão passar uma imagem minha que não corresponde à realidade.»

Claro que ele ajuda. Quatro meses depois desta entrevista publicava uma imagem no seu instagram em que aparecia nu a apanhar sol, apenas com os genitais cobertos.

Em 2012, o jornalista dinamarquês Troels Henriksen escrevia no
Maisfutebol, a propósito do Euro 2012, que a principal característica que distinguia Bendtner era uma incrível autoestima. E reforçava, com palavras do próprio jogador. «Um exemplo: se um defesa enfrentar um dos melhores avançados do Mundo e ele achar que não é assim tão bom, então vai certamente tremer. Eu penso sempre que vou ser melhor que o central adversário, seja ele quem for.»

Frente a Portugal, Bendtner tem todas as razões para sustentar essa autoestima. O passado fala por ele. E, mesmo longe dos golos, ele tem andado a afinar a pontaria. Veja o que fez num treino da Dinamarca, esta semana:


Frente à Albânia, no sábado, Bendtner jogou os 90 minutos e fez a assistência para o golo de Vibe, que evitou a derrota dinamarquesa, a nove minutos do final. Ficou com o nariz muito mal tratado depois de uma queda ainda na primeira parte, mas voltou para o campo. No final, ainda com o nariz muito inchado, disse que a lesão não deveria impedi-lo de defrontar Portugal, e também que o médico da seleção não tinha achado necessário que jogasse de máscara na terça-feira.

Os 10 jogadores que marcaram mais golos a Portugal:

Isidro Langara (Espanha), 8 golos
Telmo Zarra (Espanha), 6
Tom Finney (Inglaterra), 6
Nicklas Bendtner (Din) 6
Probst (Austria), 5
Stan Mortensen (Ing) V
Bobby Charlton (Inglaterra), 5
Aebi (Suíça), 4
Tommy Lawton (Inglaterra), 4
Ernest Vaast (Fra), 4