Depois do Adeus é uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos no Maisfutebol.

José Mourinho investiu em Diogo Luís no Benfica, na primeira experiência como treinador principal. Em 2000, o esquerdino tinha 20 anos e um futuro promissor. Uma década mais tarde, iniciou a nova carreira como Financial Advisor numa instituição bancária.

Mourinho ia lançá-lo antes mas Diogo Luís ficou sem bateria

Diogo Luís foi parar a um banco por opção. Nunca abandonou o curso de Economia na Universidade Nova e decidiu apostar num futuro a médio prazo, sabendo que a carreira de jogador é efémera.

Começou no Banco de Investimento Global, em setembro de 2010, e passou para o Best no ano seguinte. A estreia pelo Benfica tinha sido em outubro de 2000, frente ao Sp. Braga. Seguiu-se um empréstimo ao Alverca, mais o Beira Mar, a Naval, o Estoril e o Leixões. Por fim, o Chipre. E o adeus. Depois, a banca.

«Temos no banco numa carteira de cliente e uma oferta gigantesca de aplicações. A minha função passa pelo aconselhamento financeiro, apresentando as soluções que se enquadram melhor no perfil do cliente. É algo que faço com gosto», explica Diogo Luís ao Maisfutebol.

«Quero fugir ao esterotipo»

A desconfiança fez-se sentir. Um antigo jogador de futebol, ainda com 32 anos, vestindo fato e gravata e apresentando propostas com um discurso maduro, trabalhado, complexo. «Por um lado, a literacia financeira em Portugal é muito baixa. Por outro, é verdade que tive de trabalhar também para afastar aquela imagem de jogador de futebol. Algo que tem vindo a mudar, felizmente.»

«Já tive algumas pessoas que me reconheceram no banco, outras que me devem ter reconhecido mas não falam disso, é engraçado. Mas quero fugir ao esterotipo, penso que os jogadores nesta altura também têm essa preocupação. No meu tempo na formação do Benfica, muitos deixaram de estudar. Isso agora já não acontece», acrescenta o antigo lateral.

Diogo Luís crescia na formação do Benfica mas nunca largou os livros. Demorou oito anos a concluir o curso superior. «Os meus pais sempre me apoiaram no futebol mas tinha de continuar com os estudos. Entrei na faculdade e demorei a acabar o curso, também porque estive algumas épocas a jogar fora de Lisboa.»

«Não foi fácil, as aulas eram à mesma hora dos treinos. Mas, por outro lado, o futebol incutiu-me disciplinar, não fui um aluno excelente mas tinha média de 15. Acabei o curso em 2006 e deixei de jogar em 2009, então com 28 anos», recorda o esquerdino.

«Lidar com as poupanças de uma vida»

A realidade atual é feita de números, de variações, margens de lucro e risco. «Não é fácil. O último mês foi catastrófico, com quedas de 4 e 5 por cento em ativos financeiros seguros. Há sempre um risco e alguns clientes têm consciência disso, mas outros não.»

«Ganho um ordenado fixo, não dependo de prémios, que até nem sido pagos devido à crise. Claro que existem objetivos mas eu perco algumas oportunidades porque sou fiel aos meus valores, opto pelas aplicações em que acredito, porque devo pensar primeiro nos clientes», explica o ex-jogador.

A exigência continua a acompanhá-lo. «O futebol tem um nível mediático superior, mas agora lido com pessoas que têm ali as poupanças de uma vida. A responsabilidade é enorme. Quando recebo o feed back positivos dos clientes, sinto que estou a fazer um bom trabalho», remata Diogo Luís.