Heverton Martins tem contas a ajustar com o destino. Uma maldita pubalgia atirou-o para o canto escuro do esquecimento. Oito anos depois de ter sido considerado uma das grandes revelações do Atlético Paranaense e do Flamengo, o brasileiro cursa Direito e joga futebol amador em Portugal.
Para trás ficaram as actuações magistrais no Brasileirão. O tempo encarregou-se de dissipar o sonho das ambições de Heverton. Agora, aos 29 anos, o antigo profissional vive na cidade do Porto e estuda na UP. Ao Maisfutebol narra os principais eventos do seu estranho caso de vida.
Formado nas escolas do Joinville, Heverton Martins desde cedo mostrou uma apetência incomum para o futebol. Aos 17 anos estreou-se na formação profissional e em três anos logrou chegar ao Atlético Paranaense e ao Brasileirão.
«Foi tudo rápido. Até a minha estreia no Joinville. Estava na concentração a ver televisão e avisaram-me que o lateral direito tinha sentido uma indisposição. Joguei, fiz um grande golo e durante três épocas não perdi o lugar.»
Uma estreia ao lado de Scolari
Em 2000, o Atlético Paranaense começou a disputar o campeonato brasileiro com Heverton Martins nas suas fileiras. O jovem de 20 anos teve de aguardar algumas semanas até assegurar um lugar na equipa principal. A sua estreia coincidiu com a estreia de Luiz Felipe Scolari no comando técnico do Cruzeiro Belo Horizonte.
«O Mineirão estava cheio. Joguei e vencemos 0-2 em casa do Cruzeiro. Eles tinham o Sorín, o Muller, o Kléber, mas nem assim deram uma vitória ao Scolari. Eu só ouvia o Felipão no banco de suplentes aos berros: bate para a frente, bate para a frente. A equipa deles ficou desesperada.» 20 anos, titular do Atlético Paranaense, para Heverton a vida era só sorrisos.
Mas a esta história faltava o drama. O drama que se veio a revelar na zona dos adutores. «Comecei a sentir uma dor intensa, mas tentei não ligar. Consultei médicos, adiei várias vezes a cirurgia, até que não aguentei mais. Nunca fiquei a 100% e acabei por ser dispensado do Atlético Paranaense. Essa pubalgia marca a minha vida enquanto atleta.»
Adeus futebol, olá Direito
O melhor da carreira de Heverton Martins ficava em definitivo para trás. Apesar dos bons momentos vividos no Flamengo, Avaí, Paraná Clube, Caxias do Sul e Marcílio Dias, o nível do jogo de Heverton ficou limitado nos recorrentes problemas físicos.
No final de 2007, o futebol profissional foi colocado de lado e Heverton agarrou-se à sua segunda paixão: o Direito. Em Agosto de 2008 chegou a oportunidade de vir para a Universidade do Porto. Heverton não pensou duas vezes.
«Não quis deixar o futebol, mas tinha de fazer alguma coisa. Sempre adorei ler e o Direito surgiu naturalmente. Vim para Portugal estudar e tentei também regressar ao futebol. Mas só tenho estado a jogar em competições amadoras.»
No Porto a vida de Heverton divide-se entre a faculdade e o desporto. Treina com o Racing Clube de Portugal (amadores da AF Porto), joga futsal nos All Blacks (liga privada) e ainda dá uma perninha na equipa da sua universidade.
«Sou jogador e treinador. Mas somos muito fracos», diz-nos a sorrir, antes de lamentar duas experiências falhadas já no nosso país. «Treinei no Avintes e no Pedras Rubras. Tudo correu bem, mas quando souberam que tinham de pagar dois mil euros pela minha transferência internacional, os responsáveis desistiram de mim.»