Óliver Torres, com 18 anos e 10 meses, guardará o Estádio do Dragão na memória. No palco portista, fez a sua estreia na Liga dos Campeões. Regressou a casa com a vitória, festejou com os companheiros de equipa e foi para a universidade. Dois dias, duas estreias.

Nada mau para uma figura dos desenhos animados. O seu nome vem de Oliver, o Tsubasa que deixava os jovens colados à TV, meia-hora à espera de um golo, uma eternidade entre o remate e o desfecho.  «Quando nasci, a série Oliver e Benji estava na moda e o meu irmão convenceu os meus país a chamar-me assim», contou o jovem médio do Atlético de Madrid.

Aprendeu a andar com uma bola a seu lado, saiu de casa com 11 anos para agarrar um futuro como jogador mas nunca negligenciou os estudos. Na quarta-feira, um dia após o triunfo colchonero no Porto, Óliver Torres fez a sua estreia na Universidade Francisco Vitoria. O médio ofensivo, dono de uma personalidade forte, não obstante a tenra idade, vai tirar uma licenciatura em jornalismo. «Os estudos e o futebol são compatíveis, a menos que não queiras estudar e uses isso como desculpa. É cansativo mas não me importo, faço isso bem.»

Óliver não arranja desculpas, não se esconde. Aliás, a maturidade e o desejo de assumir o jogo convenceram Diego Simeone rapidamente.

«Óliver, vem para o nosso lado»

Em abril de 2012, num simples jogo-treino, a vida de Óliver Torres mudou por completo. «Foi engraçado, era a primeira vez que treinava com eles. Estávamos a jogar contra a equipa principal, o Cholo parou o treino e disse-me: 'Óliver, vem para o nosso lado'. No dia seguinte, ligou-me o Carlos Aguilera e disse-me que ia ser convocado para o jogo com o Bétis.»

Não jogou mas viria a estrear-se a 19 de agosto, como suplente utilizado frente ao Levante. Tinha apenas 17 anos. Dez jogos até final da temporada, sempre a partir do banco, e caminho aberto para a afirmação.

Nova época, mais um punhado de oportunidades. Dois jogos na Liga, um na Supertaça e a primeira aparição na Liga dos Campeões, ao minuto 79 do F.C. Porto-At. Madrid.

Óliver Torres é o quarto jogador mais jovem na história do clube a disputar a Liga dos Campeões. O esforço compensou.

Nascido a 10 de novembro de 1994, deu os primeiros passos em Navalmoral de la Mata, a duzentos quilómetros da Serra da Estrela. Com apenas 11 anos, saiu de casa em direção a Barcelona, para um ano na Fundación Marcel. Os pais choraram, ele também, mas o sonho comandava a vida.

Cresceu na Fundación Marcel e, após um teste no Atlético de Madrid, mudou-se para a capital espanhola, já mais perto da família. Mas não sem sacrifícios.

O clube colchonero não podia pagar o alojamento de Óliver. Os pais suportaram a despesa, colocando o jovem de 13 anos a morar com a irmã, de 18. Quando ouviram dúvidas sobre a estrutura física do filho, foram a um especialista e suspiraram de alívio.

«No primeiro dia em que cheguei ao Atlético, eu era um pequenote com 1,47 centímetros. Mesmo assim, não tive problemas no clube por ser o mais baixito». O especialista garantiu que Óliver Torres chegaria aos 178 centímetros, mais que suficiente. Assim foi. O resto é talento puro e cabeça no lugar.