«Domingo à Tarde» é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e futebol.

«Aranha é nome de família. Desde pequenino que ficou o Aranha, mais que o André. Às vezes, em piadas de balneário, acaba por surgir o “Spider-Man” ou algo do género.»

Esta é uma das particularidades entre a vida pessoal e a de futebolista de André Alexandre Aranha Almeida. Ou só Aranha, como é vulgarmente conhecido o médio do Anadia, engenheiro de profissão e em grande destaque na 5.ª jornada da série C do Campeonato de Portugal.

No último domingo, o jogador de 25 anos apontou um hat-trick na segunda parte, no espaço de 38 minutos, que galgou o Anadia para uma goleada de 5-0 ao Santa Iria e liderança pela diferença de golos.

É, aliás, o melhor início de campeonato de sempre dos Trevos da Bairrada, pelo menos desde 1997: as quatro vitórias e um empate ao fim de cinco jogos só encontram igual registo no clube em 2008/2009, na extinta III Divisão Nacional.

«É sempre especial fazer um hat-trick. Foi o primeiro da minha carreira, mas o mais importante foi ficar com a vitória em Anadia. Sensação boa, mas a melhor foi a vitória, os três pontos», diz Aranha, com sentido coletivo, nas primeiras palavras ao Maisfutebol.

De regresso ao clube que representou entre 2014 e 2016, Aranha enjeita falar em ambição de subida. «Não temos esse objetivo», diz, apesar do início promissor. «Começámos bem, não foi perfeito, porque o objetivo seriam cinco vitórias. Estamos a encarar o campeonato jogo a jogo, pensando no Sertanense, próximo adversário. Não temos meta a longa distância», conclui. Na Taça de Portugal, antes de sonhar «com uma equipa da Primeira Liga», foco em superar o Mineiro Aljustrelense, na segunda ronda.

Do São Sebastião ao Beira-Mar

A ligação de Aranha ao futebol começou bem cedo. Foi ali, no Baixo Vouga, Oliveira do Bairro, no Campo de São Sebastião, que deu os primeiros «chutos na bola» aos cinco anos. Cresceu no clube da terra natal. «Fiz a minha formação toda até aos juvenis. Depois ingressei no Beira-Mar para fazer os dois últimos anos de formação de júnior». A passagem pelos auri-negros coincidiu com a equipa principal ainda nas ligas profissionais, mas a promoção «não se proporcionou» e voltou a Oliveira do Bairro.

Três épocas em casa, mais duas no Anadia, uma no RD Águeda e outra no regresso ao Beira-Mar, no ano passado. Em comum, clubes do distrito de Aveiro e a posição preferida a meio campo. É ali que se sente bem. «Fiz toda a minha formação a médio, consigo interpretar bem o jogo e a minha melhor característica são as transições rápidas», destaca.

Aranha, ao serviço do Beira-Mar, na época 2017/2018.  (Foto cedida pelo jogador)

Do relvado à bancada, só lamenta «um problema quase nacional» refletido em Anadia. «Não temos tantos adeptos como gostávamos». Contudo, acredita que «as vitórias ajudam» e o apoio da massa adepta «acaba por ser um bónus» fruto do trabalho construído pelo plantel às ordens de Nuno Pedro.

Engenheiro de dia, futebolista à noite

Na vida de Aranha, o futebol sempre foi «paixão». Mas não sustento único. É homem de «pés assentes na terra». Não se ilude com o mundo da bola. Viveria só dela se surgisse «uma oportunidade quase única».

Por isso, obteve o Mestrado em Engenharia Eletrotécnica pela Universidade de Aveiro. Labora há cerca de dois anos na terra natal, na área de estudos. «Trabalho das 8 horas às 17h30 e concilio com o futebol, os treinos são ao fim do dia», descreve.

Da casa e trabalho em Oliveira do Bairro, cerca de 15 quilómetros e outros tantos minutos na viagem até Anadia para treinar cinco dias e jogar noutro. Só folga à terça-feira. Uma agenda a pedir planeamento atento.

«É ter de acordar cedo, ir para o trabalho, quase tudo é preparado no dia anterior: horários, lanches, roupa, mas chego ao final do dia e tenho o gosto de que compensou», atira Aranha, nunca esquecendo o apoio dos pilares: «Tenho uma família que me apoia bastante e a minha namorada».

E se não fosse o futebol, que desporto? «O ténis, que gosto bastante. Pratico apenas como hobbie, na pré-época, com amigos». Por enquanto, dentro de campo, Aranha alimenta a dita «paixão» com arrancadas e golos. E o recorde de nove numa época debaixo de olho. «Não é objetivo, mas porque não?», atira. Afinal, o sentido coletivo está lá: «Se der para ajudar a equipa, é o mais importante».

Os golos de Aranha nos 5-0 ao Santa Iria:

Artigo original: 18/09/18, 23h48