Domingo à tarde é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, história de vida e futebol.

No passado recente, alguns avançados colombianos entraram na Europa pela porta do futebol português. Radamel Falcao e Jackson Martínez entrararam pela porta dos grandes clubes do futebol nacional. Porém, há um cafetero que ousou fazer o caminho inverso: Óscar Rojas.

O avançado de 25 anos, passou pela equipa B do Desportivo das Aves e pela União 1.º Dezembro, antes de se fixar no Rebordosa Atlético Clube (Divisão D’Elite da A.F. Porto). No concelho de Paredes, sob a orientação do ex-jogador Andrés Madrid, encontrou o espaço ideal para crescer. Leva 23 golos em 28 jogos.

Após um período sem jogar «devido a problemas burocráticos» na União 1.º Dezembro, da A.F. Lisboa, surgiu o convite do Rebordosa, feito pelo próprio Andrés Madrid.

«Após as férias de verão, apresentei-me na União 1.º Dezembro. Disputei dois jogos e, depois, o mister Andrés Madrid ligou-me e apresentou-me o projeto do Rebordosa. Sabia que era um clube sério e que cumpria em termos salariais. Por esse motivo aceitei o convite», começou por contar ao Maisfutebol, numa mistura de castelhano com português.

«O mister Andrés Madrid já me conhecia. Quando ele treinava o Tirsense viu-me jogar e gostou. Sabia do meu valor», acrescentou.
 



Antes de desatar a fazer balançar as redes contrárias nos distritais do Porto, Óscar Rojas obrigou-nos a recuar até ao momento em que nasceu a paixão pelo futebol. Tudo começou em Ibagué, bem no centro da Colômbia.

«Comecei a jogar com sete anos no Deportes Tolima, em Ibagué. Posso dizer que foi lá que nasceu a paixão pelo jogo. Formei-me como jogador no Deportes Tolima. Quando cheguei a sénior, decidi emigrar. Estive dois anos na Argentina. Em que clube? No Atlético Central Córdoba», recordou.

A experiência no País das Pampas não correu de feição. Volvidos dois anos, Óscar regressou a casa. E foi no conforto do lar que viveu o período mais negro da sua curta carreira.

«Após um ano, não tinha clube. Fiquei sem empresário e tornou-se complicado encontrar clube. Foi um período difícil, nunca tive outro trabalho para além do futebol. Completei o ensino obrigatório, claro, mas foquei-me sempre no futebol», frisou.

Longe dos relvados e a «treinar sozinho para manter a forma», eis que o avançado vê surgir a possibilidade de voltar a emigrar. Com uma mala repleta de sonhos, atravessou o Atlântico e instalou-se na Vila das Aves.

«Um grupo de empresários convidou-me para vir para Portugal. Segundo percebi na altura, vinha para Portugal para integrar o plantel de uma equipa da Segunda Liga. Quando cheguei, fiquei integrado na equipa B do Desportivo das Aves. Aconteceu o oposto daquilo que tinha pensado», recordou.

Pese embora as condições não terem sido do seu agrado, Óscar permaneceu ao serviço do emblema de Santo Tirso. O próprio explica que «ou ficava em Portugal ou regressava à Colômbia».

«Apesar do mal-entendido e de me terem dito que em dezembro seria promovido à equipa principal (algo que nunca aconteceu), foi uma experiência muito porreira (risos)», atirou, em jeito de balanço.




Na primeira metade da época, Óscar Rojas assinou oito golos em quase duas dezenas de jogos. O seu desempenho na formação secundária valeram-lhe várias chamadas de Ivo Vieira aos trabalhos da equipa principal.

«Treinei várias meses com a equipa principal. Durante os treinos destacava-me e marcava golos, mas as portas nunca se abriram. Nunca me disseram nada em relação a isso. Apenas treinava e vinha embora», lembrou.

O Rebordosa deu-lhe uma oportunidade e Rojas agarrou-a com unhas e dentes. Atualmente, a equipa orientada por Andrés Madrid ocupa a terceira posição da Série 2 da Divisão D’Elite da A.F. Porto, um pouco à boleia dos golos do colombiano.

«O meu registo explica-se através do trabalho da equipa. Todos os dias trabalhamos para vencer ao domingo. Tenho tido a felicidade de marcar muitos golos e ajudar a equipa a ganhar. No fundo, isso é o mais importante», esclareceu.

E como é Andrés Madrid no papel de treinador?

«Ser treinado pelo Andrés Madrid é uma experiência muito boa. Todos os dias aprendo muito com o mister. É uma pessoa que transmite bastante confiança aos jogadores. Dá-nos conhecimentos acerca de pequenas coisas que não valorizamos nestas divisões. No fundo, penso que é fantástico ter um treinador que já viveu experiências ao mais alto nível», afirmou.

O registo goleador não passou, naturalmente, despercebido a quem acompanha o futebol distrital. Propostas não faltaram, mas o regulamento forçou a sua continuidade no Rebordosa.

«A meio da época, clubes do Campeonato de Portugal abordaram-me e tentaram contratar-me. Como já tinha jogado pela União 1.º Dezembro esta época, fiquei no Rebordosa, uma vez que não posso jogar em mais de duas equipas. Agora só quero terminar bem a época e ajudar o clube. No final, logo veremos o que acontece», apontou.




Óscar está há quase dois anos fora da sua cidade natal. As saudades apertam de sobremaneira, mas não parecem demover o cafetero do seu objetivo: chegar a patamares mais elevados.

«O futebol português é mais rápido e existe menos contacto físico. Apesar de ser difícil deixar a minha família, a minha casa e os meus costumes, a adaptação correu bem. Objetivos? Fazer golos e ajudar o Rebordosa a subir de divisão. Ambiciono jogar em divisões superiores, tenho qualidade para isso. Resta-me trabalhar», disse, cheio de ambição.

Óscar Rojas define-se como um jogador «rápido e de remate fácil». O seu calcanhar de Aquiles é o jogo aéreo, ou seja, uma característica distinta de Falcao e Jackson Martínez. Ainda assim, o avançado de 25 anos confessa-se admirador de Falcao, embora Aguero seja o jogador com quem mais se identifica.

«Tenho uma grande admiração por Falcao. Tanto ele como o Jackson Martínez construíram uma bela carreira em Portugal. Ainda assim, pelo meu aspeto físico e pelas características que possuo, identifico-me mais com o Kun Aguero. Aprecio a forma como joga e tento imitá-lo», concluiu.

Quiçá não more nas divisões inferiores, o próximo «matador» colombiano do futebol nacional

Artigo original: 23h50, 17/4