[artigo publicado pela primeira vez no dia 28-03-2018, às 23:45]

Domingo à tarde é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e futebol.

Natural de Ovar, Óscar Gomes é dono de currículo riquíssimo nas camadas jovens: Avanca, Vitória de Guimarães, Feirense, e ainda uma passagem pelo Chelsea à experiência.  Segundo o avançado, «faltou a pontinha de sorte» para se ter tornado profissional, mas ainda tem o «sonho de chegar lá». O Maisfutebol foi conhecer a estória do jovem de 20 anos que hoje alinha no Estarreja da primeira divisão da AF Aveiro.

O futebol é paixão desde pequeno e corre nas veias da família Gomes. Daí a marcar golos no clube da terra foi uma evolução natural: «Simples: o gosto é de família, até o meu avô jogava à bola. Desde pequeno que jogo e os meus pais repararam nisso, e inscreveram-me no Avanca.»

Quando ingressou nos juvenis do Avanca, surgiu a oportunidade de uma vida, treinar no gigante Chelsea: «Estava a fazer a minha época e veio a hipótese de ir treinar a Inglaterra. Fui com o empresário, que trabalhava com o Jorge Mendes, e também com o Rui Pedro, que agora é jogador do FC Porto.»

«Eu jogava no Avanca e ele ainda estava no Paivense. Joguei muitas vezes contra ele. Fomos juntos, fizemos amizade e hoje ainda falamos às vezes. Mas foi assim, o agente falou com os meus pais e com a direção do clube, e lá fui eu», contou.

Infelizmente, a semana de treinos não teve o desfecho com que sonhava: «Não conheci ninguém da direção, nem da equipa principal, porque curiosamente estavam em Portugal para jogar com o Benfica. Foi uma semana de treinos normal, surgiram alguns problemas com a papelada de um jogador e eles decidiram mandar todos os jogadores à experiência embora.»

«Foi tudo normal, dentro do comum, menos a comida. Odiei. Não estava habituado, parecia que estava tudo cru. Mas aquilo não tem nada a ver com o que há em Portugal. É um mundo à parte. O centro de treinos do Chelsea parecia uma cidade, é mesmo gigantesco», confessou ao Maisfutebol

Uma confusão com pouco ou nada a ver com futebol recambiou Óscar de regresso para Portugal. Não ficou nos «blues» mas seguiu para os juvenis do Vitória de Guimarães, onde foi campeão nacional do escalão: «Foi uma temporada excelente. No início tive uma adaptação complicada, surgiu a oportunidade de vir embora, mas falou-se com os meus pais e diretores e fiquei. Fiz 13 golos nesse ano. Depois lesionei-me e afastou-me da fase final, e então já não quiseram que eu continuasse.»

Para a última etapa antes do futebol sénior, Óscar voltou a casa, e assinou pelo único clube que atualmente representa Aveiro na primeira divisão: «O empresário trouxe-me para o Feirense. É um clube aqui da terra, tem boas condições de treino e fiz aqui os juniores. A primeira época foi muito boa, subimos e estava a ajudar. Não chegou a oportunidade de renovar, nem sequer houve essa conversa. Treinei uma vez ou outra com a equipa principal, mas nada de especial.»

À semelhança de muitos outros, o contrato profissional não surgiu, mas Óscar não desiste e continua a lutar pelo sonho que movia o pequeno Óscar que se destacava em Avanca. Pequeno, apenas na idade, porque desde cedo se destacou pela altura. «O meu ídolo era e continua a ser o Ibrahimovic. Acho que tenho algumas características em comum com ele», admitiu.

Passou pelo S. Vicente Pereira da segunda distrital de Aveiro na estreia como sénior e agora encontrou a estabilidade em Estarreja, uma divisão acima: «Começamos muito bem esta época, mas fomos abaixo. Neste momento o objetivo é conseguir a melhor classificação possível.»

Mesmo jogando na distrital, Óscar não perde a esperança e não desiste do objetivo que o levou a Inglaterra quando era apenas um miúdo de 14 anos: «Ainda tenho o sonho de lá chegar. Vamos ver como corre o resto da época e se surge alguma proposta. O meu sonho é chegar o mais longe possível, ser profissional. O sonho é a primeira liga.»

Questionado sobre se esperava o rumo que a sua carreira tomou, o avançado admite que «não esperava que fosse ser assim»: «Ao longo dos anos fui-me apercebendo e mentalizando que a realidade é que ainda não ia chegar lá, por agora. Não estou desapontado, são etapas importantes na minha carreira.»

O que faltou para singrar? «A pontinha de sorte». Óscar não continuou os estudos, e por agora, dedica-se única e exclusivamente aos golos. «Se não tivesse qualidade não tinha estado lá. O Estarreja pode ser uma boa rampa de lançamento para mim.»

Óscar faz parte de uma geração de jogadores que está agora em afirmação no futebol profissional: Rui Pedro, Xande Silva, Hélder Ferreira, Miguel Silva, Renato Sanches, Rúben Dias, Luís Mata, Rúben Neves. O avançado jogou com ou contra todos estes, e muitos outros, mas agora, os adversários e objetivos são outros. O sonho comanda a vida, e Óscar não vai desistir até conseguir «lá chegar».