Lado B é uma rubrica que apresenta a história de jogadores de futebol desde a infância até ao profissionalismo, com especial foco em episódios de superação, de desafio de probabilidades. Descubra esses percursos árduos, com regularidade, no Maisfutebol:

«Demba Ba entrou por alguns segundos porque eu contava que Joe Hart fosse à nossa área no último canto e disse-lhe para marcar o Hart. O Hart não foi mas o Demba foi ocupar o espaço e no último canto foi ele a afastar a bola. Até o tipo que jogou por um minuto deu o seu contributo»

José Mourinho é o género de treinador que maximiza os seus recursos e estuda até à exaustão todos os detalhes. Não surpreende que o português exija a um avançado que entre em campo para marcar o guarda-redes contrário.

Por outro lado, nem todos os jogadores aceitariam de bom grado um papel tão peculiar. Demba Ba sorriu e foi lá para dentro cumprir a sua missão. Deu o seu contributo e o Chelsea venceu o City, em Manchester (0-1).

Pouco utilizado por Mourinho desde o início da temporada, o internacional senegalês não apresenta sinais de desconforto. Para ele, o sonho de uma carreira como profissional de futebol transformou-se em realidade e isso basta para a sua felicidade.

Aos 28 anos, Demba Ba é um nome consagrado na Premier League. Há uma década, tinha apenas um desejo e enfrentava rejeição atrás de rejeição, sem vacilar.

Nascido em Sèvres (França) no seio de uma família senegalesa, o jogador do Chelsea teve de enfrentar dificuldades para sobressair entre seis irmãos e irmãs.

Os pais divorciaram-se e a mãe de Demba lutou para garantir a substistência de todos. O jovem cresceu com a certeza de que o futuro dependeria do limite das suas ambições.

Com tenra idade, Demba Ba e a família mudaram-se dos subúrbios de Paris para o departamento de Seine-Maritime, com vista para o Canal da Mancha. Naquela altura, o Reino Unido já chamava por si.

O jovem cresceu com a bola nos pés, passou por vários clubes amadores e entrou numa academia de estudos e futebol em Saint Valery en Caux. Em 2001, teve de voltar aos arredores de Paris e por lá ficou durante três anos, até tomar uma decisão: seria jogador profissional a todo o custo.

Demba Ba sujeita-se a vários períodos de experiência. É rejeitado por Ol. Lyon, Auxerre e Le Havre mas não desiste. Nessa altura, era um médio defensivo à imagem de Patrick Vieira mas tinha um problema: «Não gostava muito de fazer carrinhos, Nunca gostei muito de defender, de perseguir adversários.»

Seriam o seu melhor amigo e o seu empresário a sugerir a mudança. Com 18 anos, o jogador passaria a apresentar-se como ponta-de-lança. Demasiado tarde?

Em 2004, Demba Ba entra num carro rumo a Inglaterra. Viaja com companheiros de longa data, atrás do sonho. Sem alojamento garantido, aceita dormir no chão da casa onde morava um amigo de um amigo.
«Uns dias mais tarde, fomos para um hotel mas tínhamos pouco dinheiro. Reservámos um quarto para duas pessoas e ficámos quatro a dormir lá», recorda.

A experiência no Watford não correu bem. Seguiu-se o Barnsley e outra resposta negativa. A situação complicava-se. «O Barnsley colocou-nos num hotel fantástico mas percebemos mais tarde que o clube só pagava o alojamento. A alimentação ficava por nossa conta. Um empresário enviou-nos dinheiro para ajudar a pagar a conta, 500 libras. E naquela altura, tivemos de nos limitar a comer batatas fritas e a beber água.»

O jogador ainda passou por Swansea e Gillingham antes de regressar a França, ainda sem o desejado contrato profissional. No regresso a França, mais uma rejeição, a oitava na carreira: portas fechadas no Amiens.

Tudo muda em julho de 2005. Finalmente. O FC Rouen, do quarto escalão, integra Demba Ba com o objetivo de o colocar na equipa satélite. Porém, no final da pré-época, o treinador da equipa principal deixa-se convencer pelo seu talento.

Demba Ba assina o primeiro contrato profissional com vinte anos e começa pela quarta divisão do futebol francês. Um ano depois ruma ao Mouscron da Bélgica e alimenta o interesse do vários emblemas do velho continente. Escolhe o Hoffenheim da Alemanha. 

Em 2010 assina pelo West Ham, depois pelo Newcastle, mais tarde pelo Chelsea. Aos 28 anos, é um homem feliz e consagrado em Inglaterra. Valeu a pena.