O futebol tem muitas histórias que começam assim. Aí está «o novo ...». É só preencher os espaços com um nome grande, daqueles cuja menção apenas basta para fazer brilhar os olhos dos adeptos. Eusébio, Pelé, tantas vezes Maradona, também Cristiano Ronaldo, Messi. Agora Ibrahimovic. Alexander Isak é apenas o último exemplo dessa busca permanente pela próxima grande estrela em projetos de jogadores, demasiado peso para alguém suportar. Se bem que não pode chamar-se vítima a quem, como Isak, já bateu recordes no campeonato e na seleção da Suécia, teve uma ascensão meteórica, andava há meses nas bocas do mundo e aos 17 anos acaba de chegar a um grande da Europa por uma verba que vai dar ao seu clube de origem «estabilidade financeira a curto e longo prazo». E que daqui por umas semanas pode estar no caminho do Benfica, que terá pela frente o Borussia Dortmund, o novo clube do adolescente sueco, nos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Foi o AIK Solna que falou do peso da transferência no equilíbrio do clube, quando comunicou nesta segunda-feira a saída do jovem avançado para o Dortmund, embora acrescentando que ficou acordado com os alemães não revelar o valor do negócio. Mas também admitindo que ele ficará claro quando divulgar as contas. A verba avançada de modo mais ou menos unânime na imprensa internacional para uma transferência que tem de passar pelo crivo da FIFA, por Isak ser menor, é de 10 milhões de euros.

Desta vez, até é possível ir à origem da alcunha de «novo Ibrahimovic» que colaram a Isak. 21 de setembro de 2016, o dia em que Alexander Isak festejava 17 anos, coincidiu com a visita do AIK ao Djurgarden. Um dérbi de Estocolmo intenso, onde Isak marcou o primeiro golo logo aos 16 minutos numa desmarcação rápida e meia hora depois o segundo, de cabeça. O jogo foi dele, uma vitória por 3-0 que centrou em definitivo a atenção naquele jovem que tinha chegado meses antes à equipa principal. Foi assim:

O terceiro golo desse jogo foi apontado por Chinedu Obasi e foi o veterano nigeriano do AIK a associar Isak e Ibra na mesma frase. «O Alexander é um grande talento, tem enorme potencial. Não quero exagerar, mas é brutal. Pode ser o novo Ibrahimovic», dizia Obasi no final do jogo.

A associação pegou, claro, até por vários motivos diferentes. Isak começa a aparecer no momento em que a Suécia ficou orfã do original. Zlatan Ibrahimovic, o melhor marcador da história da Suécia, disse adeus à seleção depois do Euro 2016 e a equipa precisa de uma nova referência.

Além disso, tanto Ibra como Isak têm origens fora da Suécia. O jovem Alexander nasceu em Solna, mas é filho de pais que emigraram da Eritreia. Os percursos de ambos são diferentes, no entanto, Isak está no AIK desde os cinco anos, foi lá que fez toda a formação.

Distinguiu-se cedo, diz quem o treinou em miúdo, e evoluiu, para se tornar especial. Já treinava com a equipa principal do AIK desde os 15 anos e estreou-se em fevereiro do ano passado. Entrou a 15 minutos do fim de um jogo de Taça com o Tenhults, ainda a tempo de marcar um golo. Em abril tornou-se o mais jovem de sempre na história do clube a marcar no campeonato sueco. Teve ascensão meteórica na seleção, dos sub-16 em 2015 aos sub-17, depois aos sub-21. E agora, já em 2017, à seleção principal. Estreou-se pela Suécia já em janeiro num particular com a Costa do Marfim e logo de seguida, frente à Eslováquia, tornou-se o mais jovem de sempre a marcar pela seleção.

Desde que se estreou pela equipa principal não saiu, mesmo com uma mudança de treinador pelo meio, e terminou a Allsvenskan com 10 golos em 24 jogos, uma das figuras da campanha que deixou o clube no segundo lugar. Foi eleito o Melhor Jovem do campeonato e também ganhou o prémio atribuído pelos adeptos.

Alguns dos momentos da curta carreira de Isak

Nos últimos meses o seu nome foi associado a meio mundo, com o Real Madrid à cabeça. Acabou por ser o Dortmund a levá-lo, um Dortmund que se tem mostrado bem agressivo no mercado na hora de contratar e segurar jovens promessas, de Ousmane Dembelé a Pulisic, que aos 18 anos acaba de renovar também com o clube.

Michael Zorc, diretor-desportivo dos alemães, alimentou mesmo a ideia de que o Dortmund ganhou a corrida a outros grandes da Europa. «O Alexander Isak é um avançado de enorme talento, que muitos clubes na Europa queriam contratar. Estamos encantados por ele ter escolhido o Borussia Dortmund», disse Zorc na apresentação de Isak.

O talento de Isak está lá, mas o futebol está cheio de promessas que não vingaram, há sempre tantos factores em jogo. Nem é preciso recuar a Freddy Adu, basta recordar o exemplo bem mais recente de Martin Odegaard. Mas quem conhece Isak acredita que tem tudo para dar certo. Como Magnus Wikman, treinador da seleção sub-17 da Suécia que acompanha Isak desde os 14 anos.

«Tem bom ritmo mas não extremo. Muito boa técnica e um primeiro toque especialmente impressionante», disse o treinador em declarações à Skysports: «É bom com a bola e pode combinar com outros jogadores, mas não é ainda um típico número 9. Não é muito bom de costas para a baliza. É mais dinâmico e gosta de procurar espaços.»

Isto é dentro de campo. Mas fora dele Isak também tem o que é preciso, acredita Wikman. «É um bom miúdo. Um pouco tímido e muito humilde. É maduro quando se fala com ele e especialmente em campo», afirma: «Há muita atenção sobre ele e tenho orgulho que esteja a lidar tão bem com ela. Está a manter os pés no chão.»