Marco de um lado, Flávio do outro. Os gémeos Paixão, separados no futebol iraniano. Parece guião de novela mas assumiu contornos reais no Médio Oriente. Nesta sexta-feira, os dois jogadores portugueses foram adversários por hora e meia.

Para acabar bem, ficaram pelo empate. O Naft Tehran de Marco Paixão não conseguiu vencer o Tractor de Flávio (1-1) mas as duas equipas continuam a lutar pelo título.

Foi a primeira vez que se defrontaram num jogo a doer, no escalão principal. Na época passada, partilharam o balneário do Hamilton, na Escócia. O início de 2012 permitiu o reencontro.

Flávio Paixão, com 60 mil a aplaudi-lo: «É espectacular»

«O Flávio chegou primeiro e já é muito acarinhado no Tractor. Eu estou cá há dois meses mas dizem-me que também estou a fazer um bom trabalho. Defrontar o meu irmão foi uma sensação inacreditável», relata Marco, ao Maisfutebol.

O treinador do Naft Tehran percebeu a enorme cumplicidade entre os gémeos portugueses e descobriu a fórmula para anular a figura do Tractor.

«Chamou-me ao balneário antes do jogo e disse-me que iria marcar o número 17 nas bolas paradas defensivas. Quando eu percebi que o 17 era o meu irmão, ficámos todos a rir.»

Assim foi. Marco brincou com Flávio, pediu-lhe para ficar quieto e, vontade feita ou não, o irmão saiu de lá sem registo de golos.

«Eu bem o agarrava, brincava com ele, dizia-lhe para não se mexer muito nem marcar. Mas fora isso, foi lindo ver os seus adeptos cantaram o nome do Flávio, antes do jogo. Foi muito emocional».

Sem adeptos e movido a petróleo

Flávio Paixão tinha cinco mil adeptos do Tractor a apoiá-lo em Teerão. Marco podia contar os seus a olho nu. Não mais de duzentos. Porquê?

«A minha equipa é da companhia nacional de petróleo. Tem cem ou duzentos adeptos. É muito difícil jogar numa equipa sem adeptos, mas pronto. O meu irmão, nos jogos em casa, tem sempre 30 ou 40 mil», reconhece Marco Paixão.

A experiência no Irão corre da melhor forma e aquele encontro de irmãos fez esquecer o primeiro impacto. Os gémeos estão a adorar a experiência.

«A primeira imagem foi terrível. Saí do aeroporto e só via carros com vinte ou trinta anos. Depois é que percebi que há um imposto extra para carros importados, fazendo com que as pessoas usem os seus durante muito, muito tempo».

Marco Paixão termina com o desejo de desmistificar uma ideia. «Há grande poluição atmosférica, isso sim é um problema. De resto, acho que passam uma imagem mentirosa do Irão, por questões políticas. É um povo generoso e não tenho razões de queixa.»