MK Dons-Wimbledon. O sorteio da segunda ronda da FA Cup trouxe um jogo inédito e especial, que se desenrola neste domingo. Dois clubes em confronto, uma rivalidade inaudita. Dia 2, encontram-se pela primeira vez e os adeptos visitantes não têm dúvidas de que foram vítimas de um assalto histórico. «É como ir ver o jogo a casa de quem te roubou o plasma», disse um deles, numa das muitas declarações dos aficionados do AFC Wimbledon na imprensa inglesa.

Os problemas financeiros do Wimbledon FC originaram o primeiro franchise da história do futebol inglês. O clube deixou o sudoeste de Londres e mudou-se para Milton Keynes, a 90 quilómetros de distância, por indicação de uma comissão de três indivíduos e apoio da própria federação.

Na mudança, levaram os troféus, a prata conquistada pelo Wimbledon FC. Os adeptos revoltaram-se, uma distãncia tão grande significava o adeus ao emblema pelo qual se apaixonaram. E tanto se revoltaram que formaram um novo clube, o AFC Wimbledon, o qual reclamam como único e digno sucessor do vencedor da Taça de Inglaterra de 1987/88.

Bobby Gould era o treinador desse equipa que bateu o Liverpool. Estava-se no apogeu do Crazy Gang, como ficou conhecido o Wimbledon FC da altura, uma vez que os jogadores do clube tinham, por hábito, pregar partidas entre si. Percorrendo o plantel da altura, percebe-se alguma coisa: Dennis Wise era um deles; Vinnie Jones, hoje dedicado ao cinema, era outro.

Levar a sogra ao centro de jardinagem

Ora, o treinador que venceu aquela FA Cup abordou o escaldante encontro deste domingo. Para se ter uma ideia, os olheiros do MK Dons foram aconselhados a não visitar o terreno do Wimbledon e, se o fizessem, para não usar nenhum símbolo dos Dons.

«Entristeceu-me quando eles levaram os nossos troféus com eles, como se aquelas taças lhes pertencessem», disse Gould, ao Mirror. «Não tem nada a ver com eles, seja um troféu de cinco contra cinco ou a Taça de Inglaterra», explicou.

Na verdade, o MK Dons devolveu as taças anos mais tarde. «Mas os adeptos sentiram-se abandonados e as feridas continuam abertas», argumentou o técnico.

«As pessoas falam de um roubo de identidade quando o Wimbledon passou para Milton Keynes. Perdemos a nossa identidade, mas voltámos a ganhá-la quando se reformou o AFC Wimbledon», justificou Bobby Gould.

As organizações de adeptos do AFC Wimbledon ponderaram um boicote ao jogo. Argumentaram que esta é uma partida «que nunca devia ter existido» no futebol inglês. Ainda assim, vai a Milton Keynes domingo quem quiser.

Há quem diga que vai usar guarda-roupa forense para evitar o ambiente venenoso. Outros ainda que querem largar balões negros, por luto ao clube que foi desviado para 90 quilómetros de distância. E quem prefira nem sequer lá meter os pés. «Prefiro levar a sogra ao centro de jardinagem», assumiu um dos muitos adeptos anónimos na imprensa britânica.