A morte súbita pode ser prevenida e a resposta está no próprio «BI» do atleta. Esta é a convicção de um grupo de investigadores portugueses responsáveis pela criação de um microchip de ADN, apresentado nesta quinta-feira, em Cascais, depois de sete anos de investigação.

Partindo do pressuposto de que a morte súbita está identificada enquanto patologia, ou seja, Miocardiopatia Hipertrófica, uma disfunção primária do coração também conhecida por HCM, foi desenvolvido um microchip que comporta os genes associados à HCM e que «cruzado» com o ADN de um atleta pode ser quanto baste para evitar uma morte trágica como a de Miklos Fehér.

Este microchip de ADN representa «uma esperança para o atleta», garantiu Ana Teresa Freitas, porta-voz do grupo de investigadores, ela própria docente no Instituto Superior Técnico. «O primeiro sintoma normal de morte súbita é a morte súbita», pelo que não existe cura, apenas prevenção, o propósito desta tecnologia.

«Conseguimos detetar o conjunto de mutações, isto é, alterações no genoma que estão associadas à Miocardiopatia Hipertrófica e que, segundo a comunidade cientifica, têm forte relação com a morte súbita. No chip que estamos a desenvolver para o desporto, estamos a associar mais três patologias que cobrem outra grande percentagem das patologias que têm associação à morte súbita. Isto quer dizer que, com todos estes dados, poderemos passar para o clínico uma informação precisa do tipo de alteração que cada atleta tem no genoma. Competirá depois ao clínico atribuir-lhe a gravidade», explicou.

E como funciona? «O chip tem incorporado pequenos fragmentos de ADN, que têm essas alterações. E o que fazemos é agarrar no ADN do paciente e introduzir no chip. Se esse ADN encontrar um ADN que lhe chamamos complementar, quer dizer que tem essa alteração e através de um laser poderemos ler o sinal que é emitido», esclareceu Ana Teresa Freitas.

Um em cada 500 tem a patologia da morte súbita

A patologia da morte súbita tem uma incidência de um em cada 500 indivíduos e já há estudos que apontam para uma incidência maior, de um para 300, em pessoas de raça africana. «É uma patologia com forte cariz genético e com grande incidência na população», alertou.

Foram já realizados 400 testes em Portugal, entre atletas e não atletas, de várias modalidades, e o grau de fiabilidade é elevado. Ana Teresa Freitas não gosta da terminologia «100 por cento fiável» quando se trata de ciência, preferindo apontar que este teste tem uma «especificidade de 99 por cento».

Domingos Gomes, especialista em medicina desportiva e conselheiro científico do projeto, não tem dúvidas de que se trata de «um avanço muito grande». «Não podemos ter um problema de consciência de que não fizemos tudo ao nosso alcance. (...) E um processo destes pode fazer a diferença. Sinto-me muito satisfeito por termos mais dados, que são importantes para a diferença entre a vida e a morte. Permite prevermos, diagnosticarmos, isto é fantástico», regozijou-se.

Este teste genético estará disponível a partir do segundo semestre do ano, «Agosto/Setembro» segundo Pedro Ribeiro, presidente da SHPG, empresa responsável pela comercialização do microchip, e «mediante reserva». O valor final está ainda «em análise», mas «não será extremamente dispendioso, será acessível a clubes e famílias».

O próximo passo é a divulgação do microchip, que ainda não foi promovido junto dos clubes portugueses, por exemplo.

[artigo de 12 abril: 19h32]