O técnico espanhol Quique Setién nunca mais voltou aos bancos depois de ter sido despedido do Barcelona, numa passagem menos positiva por Camp Nou. Agora, com grande abertura e tranquilidade, fala à revista Jot Down sobre a transição de jogador a treinador, sobre a relação, que por momentos azedou, com o seu adjunto e ainda sobre os problemas que enfrentou nos «blaugrana».

Setién treinou Lugo, Las Palmas, Betis e Barcelona e teve várias ofertas de fora de Espanha, mas nenhuma era convicente a nível desportivo ou financeiro. O período que vive afastado do futebol tem sido, segundo o próprio, bem desfrutado.

«O futebol que eu estava a viver nos últimos anos não era o futebol de que eu gostava. Eu sempre gostei mais de ser jogador de futebol e jamais pensei que pudesse vir a ser treinador de futebol», disse Setién.

Quando chegou ao Barcelona, vindo de um surpreendente Betis, Setién deparou-se com um balneário triste. «Nunca tinha visto um balneário assim, nem na seleção nem no At. Madrid [como jogador]. Aquilo era outra coisa. E isso sim é que provocou um choque. Há muita coisa que é impossível controlar. Encontras um balneário que não é feliz. O que encontrei ali, digo-te já, nunca tinha visto em quarenta anos no futebol.»

Quique Setién atribui culpas à arbitragem pela perda do campeonato espanhol de 2019/20, num jogo contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, que perdeu por 2-0.

Nesse dia teve um incidente com Eder Sarabia, treinador-adjunto, algo que Setién esclareceu. «Fiquei muito irritado com ele naquele dia porque já o tinha avisado para que controlasse os modos. Acontece que ele é um miúdo de quem gosto muito e que contribui com muitas coisas válidas e então tu aguentas. Tudo o que eu lhe disse foi que ele estava a dar uma má imagem pública.»

O Barcelona está endividado e nem ao treinador espanhol pagou os valores que tinha em dívida. «Depois das eleições, dei-lhes um mês e liguei ao Carlos Naval [delegado do clube] para avisar o presidente que precisávamos de falar. No dia seguinte, ligou-me o vice-presidente e disse-lhes que, caso quisessem negociar antes de ir a tribunal, eu estaria disposto a negociar. Estiveram muito simpáticos comigo, depois de três, quatro conversas num mês, disseram-me «amanhã envio uma oferta». Até hoje, nada, e já passaram dois meses», contou o treinador de 62 anos.

Quique Setién mudou-se para o Barcelona a meio da época 2019/20, depois da saída de Ernesto Valverde. Apesar das grandes expectativas, os «blaugrana» não estiveram na sua máxima condição e terminaram o campeonato na segunda posição.