Eduardo Húngaro está a dar-se bem no Botafogo. O sucessor de Oswaldo de Oliveira no comando do clube carioca conseguiu o acesso à Libertadores e no primeiro jogo da fase de grupos, o Bota venceu o San Lorenzo de Almagro, o clube argentino do Papa Francisco, por 2-0, num Maracanã com 30 mil adeptos.

A escolha de Húngaro foi um pouco inesperada. O técnico, de 50 anos, era pouco conhecido mesmo para os amantes do futebol brasileiro, uma vez que, até ter tido esta oportunidade de comandar a equipa principal do Bota, nunca havia orientado um grande clube no Brasil.

Mas Eduardo Húngaro não é um nome estranho para o futebol português: nas épocas 2007/08 e 2008/09, foi o treinador do Sertanense, então na III Divisão Nacional.

Na Sertã, Húngaro teve história de sucesso: subiu a equipa à então II Divisão B e atingiu os oitavos de final da Taça de Portugal (foi eliminado pelo FC Porto).

O bom trabalho no Sertanense fê-lo regressar ao Brasil e logo para o Botafogo. Mas para as categorias de base e sempre com percurso ascendente: treinou os sub-13, depois os sub-15, mais tarde os sub-20 (sendo campeão carioca da categoria, logo no primeiro ano).

Em 2013, a influência de Húngaro na estrutura do futebol do Bota fê-lo responsabilidades acrescidas: Oswaldo de Oliveira chamou-o para seu auxiliar, fazendo a ligação entre a equipa principal e todo o futebol de formação.

Com a saída de Oswaldo do Bota para o Santos, a escolha pode ter gerado surpresa para quem estava de fora, mas no seio do clube carioca foi encarada como natural: tinha chegado a hora de Eduardo Húngaro.

Na história do Sertanense


Eduardo Húngaro está na história do Sertanense. Quem o diz é o próprio presidente do clube da Sertã, Paulo Farinha.

Em conversa com a Maisfutebol Total, o líder do Sertanense não poupa elogios ao atual técnico do Bota: «O Duda, é assim que lhe chamo, é um grande treinador e um excelente condutor de homens. Tecnicamente, é muito bem preparado. É muito organizado e muito competente. O sucesso dele não me surpreende minimamente».

Paulo Farinha dá alguns exemplos: «Quando o contratámos, dei-lhe uma verba que daria para ir buscar uns três ou cinco jogadores. Ele acabou por trazer oito com esse dinheiro e tinha todos qualidade...»

O presidente do Sertanense destaca os créditos de Húngaro no trabalho com os jovens: «Ele foi sempre, no Brasil, um técnico ligado à formação. Mas isso não significou uma desvalorização dele, bem pelo contrário. Para o Sertanense trouxe, na altura, cinco juniores, que conhecia e estavam referenciados. Não me surpreendeu, por isso, que depois de ter orientado a nossa equipa em dois anos coroados de sucesso, tenha ido para as camadas jovens do Botafogo».

A subida e o brilharete na Taça de Portugal

Paulo Farinha não esquece os dois anos de Eduardo Húngaro no Sertanense e bem que tem motivos para isso.

«Foram dois anos fantásticos, em que conseguimos a subida à então II Divisão B, que nos escapava há vários anos. Morríamos sempre na praia, fomos terceiros nos três anos anteriores na III Divisão e só subiam dois, e decidi apostar forte. Através de um amigo, foi-me recomendado o nome do Eduardo Húngaro, que tinha estado cá em Portugal num estágio com uma equipa que orientava. Na altura, disse à minha direção que era uma boa oportunidade, porque era um treinador barato para o valor que tinha, mas que nos podia sair caro, pois podia chegar longe. E assim foi: depois de cumprir todos os objetivos, apresentou-nos uma proposta de renovação que era absolutamente incomportável para os bolsos do Sertanenese», recorda Paulo Farinha.

Além da subida à II Divisão, o Sertanenense atingiu os oitavos-de-final da Taça, feito inédito para um clube que, no próximo dia 28 de fevereiro, completa 80 anos de existência.

«Recebemos o FC Porto, foi uma festa. Até lá chegarmos, eliminámos três equipas da Divisão de Honra: Barreirense, Portimonense e Penafiel, que eliminámos fora», destaca o dirigente máximo do clube da Serrã.

«O melhor treinador que já contratei»

Por tudo isto, Paulo Farinha não tem dúvidas em afirmar: «O Eduardo Húngaro foi o melhor treinador que já contratei. E atenção que o Sertanense tem tido bons treinadores. Mas o Duda tem características que fazem dele um treinador especial. Não por acaso, até já foi homenageado pelo clube. Não pôde vir a esse evento, porque estava no Brasil, mas deixou mensagem comovente, que mostrava bem como ainda está ligado, emocionalmente, ao Sertanense».

Paulo Farinha é presidente do Sertanense há 11 anos seguidos. E confessa que ainda recorda «aquelas duas épocas com o Eduardo Húngaro com um carinho especial».

Valorização

Os dois anos de Eduardo Húngaro no Sertanense não garantiram apenas o título da III Divisão (e consequente subida à II Divisão, claro) e os oitavos de final da Taça de Portugal.

«Houve obviamente uma valorização do treinador, que foi para as camadas jovens do Botafogo e também uma valorização de alguns jogadores nossos. Os clubes passaram a olhar de outra maneira para o Sertanense», comenta o presidente do clube da Sertã, Paulo Farinha.

A mesma estrutura, sem Seedorf e Marques

Pouco depois de ter sido apontado como sucessor de Oswaldo, seu antigo chefe de equipa, Eduardo Húngaro disse logo ao que vinha: queria uma evolução na continuidade.

Mesmo quando já sabia que iria perder Seedorf (a estrela do Bota 2013, atual treinador do AC Milan) e Rafael Marques (avançado referência, que rumou entretanto à Turquia), Húngaro optou pela manutenção da estrutura.

«Há uma tendência de alterar o sistema. Perdendo o Rafael e o Seedorf, acho importante que o sistema se adapte aos jogadores que temos. Imagino um tripé na frente da defesa e com o Jorge Wagner na frente, que está muito bem fisicamente, magrinho. E dois homens na frente. Estou apontando nessa direção», comentou o técnico ao programa «Bem, Amigos», do canal SporTV do Brasil.

Além de apostar forte na Libertadores (meta que está a atingir em pleno), Húngaro tem, para este arranque de 2014, um outro desafio: defender o título estadual carioca, que o Botafogo arrecadou no ano passado.

«Preparei-me toda a vida para isto»

Nesta entrevista, Húngaro revela: «Sou um técnico preocupado com o treino, tendo atualizar meus métodos. Preparei-me toda a vida para isto. Encaro como algo natural, depois de cinco anos nas categorias de base do Bota. Tecnicamente, sou parecido com Oswaldo, me revejo nele. Espero ter sucesso».