Elias Mendes Trindade tem uma daquelas histórias que definem o jogador brasileiro: uma história de sonhos e pesadelos, até bater no fundo e subir outra vez a pulso. Filho de uma família pobre do bairro Parque Novo Mundo, em S. Paulo, Elias chegou a passar por uma depressão.

Aconteceu em 2006, quando o saco cheio de sonhos de infância se rompeu e esvaziou uma a uma todas as ilusões. Elias tinha feito a formação no Palmeiras, ao lado de Vagner Love. Chegou ao clube com onze anos, saiu de lá com vinte. Naquela altura porém estava desempregado, e deprimido.

O pai Eliseu conta ao Maisfutebol como foi. «Ele estava tão deprimido por não ter clube que ficava o dia isolado no quarto.» Muitas vezes só se levantava à tarde. «O meu irmão tirava-o de casa à bofetada.» A história é fácil de contar: após a formação no Palmeiras, recebeu uma proposta do Náutico.

Deixou S. Paulo e viajou para o Nordeste. Mas no Recife não recebeu um único salário e dois meses depois voltou a casa. Não conseguiu clube e ficou o ano todo em casa: desempregado. Caiu em depressão. «Foi uma época muito difícil, para ele e para nós», recorda o pai do jogador.

A várzea, contra a vontade do pai

A felicidade foi reencontrada onde menos se esperava: na favela. Elias começou a jogar no Leões da Geolândia, um clube da várzea: puxado pelos amigos, foi levado para jogar em campos de barro e com pessoas perigosas. Contra a vontade do pai. «Eu proibi-o de jogar lá, mas ele fugia e ia escondido.

«Sou funcionário público e trabalhei toda a vida. Saía de manhã e ele ia para lá. Então ligavam-me a avisar, eu saía do trabalho, ia buscá-lo e dava-lhe uma bronca, mas não havia nada a fazer. No dia seguinte voltava». Eliseu ficava furioso, hoje reconhece que aquilo fez bem ao filho. «Na várzea é muito duro.»

«O futebol é jogado por pessoas maldosas e muito violentas. Ficava preocupado. Mas reconheço que lhe fez bem. Ficou uma pessoa mais consciente. Hoje sei que ele saiu da depressão 90 por cento por força da vontade dele e dez por cento pela ajuda da família e dos amigos.»

Ora a depressão, outra vez. «Ele chegou a pensar ir trabalhar, mas não o deixei. Sentia-se inútil e perdido. O meu irmão Inoque é formado em educação física e todos os dias o ia buscar a casa à bofetada, para lhe dar treinos físicos. Mas não era a mesma coisa e ele ficava igual.»

Na várzea Elias foi recuperando da queda psicológica. Foi aliás por lá que mudou a vida. «Conhecemos uma pessoa que trabalhava no São Bento, que levou o Elias a fazer uma experiência no clube.» O São Bento é uma formação da segunda divisão paulista. Profissional, portanto.

Fredy Rincón, na origem de tudo

Quando em 2010 Ronaldo disse que Elias tinha sido o melhor jogador do Brasileirão, o reforço do Sporting teve de fechar os olhos para não chorar. Tinham passado três anos desde que ultrapassara todas dificuldades. Três anos apenas. Por detrás esteve o futebol na várzea, claro... e Fredy Rincón.

Esse mesmo, Rincón: o colombiano, que um dia chegou a estar nos planos do Benfica para substituir Futre, foi fundamental. Era o técnico do São Bento quando Elias lhe apareceu no tal período experimental. Nesse mesmo dia Elias deixou de ser avançado e passou a médio.

«Era avançado de formação, fazia dupla com o Vágner Love no Palmeiras, mas o Rincón transformou-o em médio logo no primeiro treino. Nunca mais foi avançado.» Deu nas vistas e após seis meses foi para o Juventus. Mais seis meses e foi para o Ponte Preta. Outros seis e foi para o Corinthians.

No Timão foi comparado Ramires: um médio direito de grande fulgor, que defende, ataca e remata. Foi eleito o melhor médio do Brasil, foi à selecção e transferiu-se para o At. Madrid por sete milhões. Agora aos 26 anos, o Sporting. «Vai ser uma coisa boa, é um país que tem tudo a ver com o Brasil.»