DESTINO: 90's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

EMERSON: BELENENSES E F.C. PORTO, DE 1992 A 1996

Emerson aterrou a primeira vez em Portugal em 1992. Tinha 20 anos e Lisboa como destino. Vestiu a camisola do Belenenses durante duas épocas, mostrou qualidades e o F.C. Porto encantou-se. Sem grande concorrência avançou para a contratação e levou-o para norte.

Chegou às Antas em 1994. O campeão era o Benfica, interrompendo uma série de dois títulos seguidos do F.C. Porto, sob orientação de Carlos Alberto Silva. Bobby Robson tinha chegado a meio do ano anterior mas vira o título fugir para a Luz. A hora era de reorganizar as tropas.

«Encontrei um grupo muito bom e isso foi o que mais me fez apaixonar pelo clube. Vinha de Lisboa, do Belenenses, era novo ainda, não sabia como ia ser recebido. Foi fantástico», descreve.

Ao Maisfutebol, Emerson revela ainda que durante a sua epopeia pelo estrangeiro, que passou por Middlesbrough, Tenerife, Deportivo, Atl. Madrid, Glasgow Rangers, AEK de Atenas e Apoel de Nicósia, quando pensava no F.C. Porto lembrava mais o grupo do que os jogos.

«O balneário é o que me deixou mais saudades. Era espetacular. Até o presidente ia lá. Fazia uns comentários, riamos um pouco e depois íamos treinar. Era um grupo muito unido, muito fechado. Parte do segredo do sucesso era o bom ambiente entre todos», garante.

E por isso, Emerson fala do F.C. Porto sem vacilar: «As pessoas perguntam-me sempre onde foi o meu auge. Eu não tenho dúvidas que foi no F.C. Porto. Ali é que estava tudo a sair-me bem. Às vezes nem eu acreditava que jogava aquilo tudo. Fazia coisas e pensava: como é que eu fiz isto?»

Sampdória: Latapy de pernas a tremer e o adeus inglório

No campo, Emerson guarda recordações, acima de tudo, dos jogos grandes. Triunfos sobre os rivais Benfica e Sporting. Mas, acima de todos os jogos está outro. Quartos-de-final da Taça das Taças da época 1994/95. «Com a Sampdória foi memorável. Um ambiente maravilhoso», descreve.

«Aquele dia marcou-me. Não estive depois quando o F.C. Porto ganhou a Taça UEFA e a Liga dos Campeões, mas aquele jogo foi incrível. Víamos as pessoas na janela com bandeiras, a ir para o Estádio, tudo azul. Lembro-me muito bem. Até arrepiou», atira, entre risos.

Emerson recorda que o F.C. Porto tinha ganho em Génova por 1-0. «Fizemos um partidaço», diz. Foi Iuran a fazer o golo que dava vantagem. A cidade acreditou que poderia voltar a uma meia-final europeia.

«Nas Antas também jogámos muito, mas perdemos. Eles foram lá uma ou duas vezes e marcaram. Depois fomos eliminados nos penalties», recorda.

E conta um episódio curioso desse desempate. «Era o Latapy que deveria marcar o primeiro penalty e eu o segundo. Mas ele veio ter comigo e pediu-me para avançar. Eu fui e marquei. Depois foi ele, as pernas tremeram e falhou. Acontece. Mas perdemos porque mais ninguém falhou», lamenta.

Trunfo eleitoral... no Benfica

Emerson deixou Portugal e o F.C. Porto no final da temporada de 1996. Foi para Inglaterra, para duas épocas no Middlebrough. Acreditou que um dia ia voltar. Mas nunca aconteceu.

O F.C. Porto, contudo, até tentou. «Tive a oportunidade de voltar um ano e meio depois. O F.C. Porto queria o empréstimo, o Middlesbrough queria vender, mas era muito dinheiro e não se concretizou. Depois fui para o Tenerife e o interesse resfriou», explica.

E o Benfica também o quis. Ou melhor, um candidato à presidência do Benfica. Abílio Rodrigues apresentou Emerson como trunfo nas eleições de 1997, ganhas por Vale e Azevedo.

«É verdade sim. Houve essa possibilidade, caso ele ganhasse. Como não ganhou ninguém mais falou comigo», esclarece.

Sobre o momento atual do futebol português, Emerson mostra-se um espectador atento. Vê um F.C. Porto muito diferente do seu. «Agora é um clube vendedor», define.

«O F.C. Porto está sempre bem. Tenho visto os jogos deste ano, parece-me que a equipa ainda não conseguiu brilhar, mas está a ganhar e no primeiro lugar. É o mais importante», resume.

O jogo das Antas com a Sampdória:



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