Toni estava longe de imaginar que aquele jovem guarda-redes do Borussia Monchengladbach, que sofreu oito golos num jogo, mas fez cinco defesas extraordinárias e terminou como o melhor em campo, seria seu jogador uns tempos depois, no regresso ao Benfica, em 2000.
Entre o primeiro resumo desportivo testemunhado pela televisão e a observação «in loco» no Estádio da Luz, não deixam dúvidas as qualidades de Robert Enke a Toni, mas é a sua personalidade que prefere recordar neste dia triste para o futebol.
«Quando é um suicídio, há razões que nos ultrapassam, mas o sentimento que tenho é de tristeza e consternação, pela morte de um jovem de 32 anos, numa altura positiva em termos profissionais», começa por dizer Toni, em conversa com o Maisfutebol.
«Tinha um lado humano muito forte, tal como o carácter e a personalidade. Tinha muito sentido de grupo, de solidariedade. Mais do que louvar as qualidades desportivas, que eram muitas, é esta faceta dele que se destaca, da solidariedade, de ajudar os outros», recorda o antigo treinador do Benfica e velha glória do clube.
Foi em 2000 que Toni conviveu com Enke, num ano «difícil» para todos, depois da saída de Jupp Heynckes, primeiro, e de José Mourinho, depois: «Partilhámos uma época que não foi muito boa. Não foi um tempo para ganhar. Tinha uma relação muito boa com o Enke, era o dono do lugar, um profissional íntegro, muito parecido com PreudHomme no sentido profissional, ou seja, exigente com ele próprio, a querer sempre fazer mais.»
Um lado humano que sorria, também, aos abandonados. Robert Enke era um dos rostos da PETA [organização internacional para a protecção dos animais] e não virava a cara aos pedidos de ajuda. «Ele recolhia cães vadios e levava-os para casa», contou Toni.