Paulo Fonseca foi entrevistado pelo Maisfutebol a 29 de janeiro de 2013. Recuperamos agora essa entrevista. Nesta parte, o jovem técnico, natural do Barreiro, identifica algumas diferenças entre os jogadores do norte e do sul.

Aos 25 anos, não passava pela cabeça de Paulo Fonseca ser treinador. Agora, aos 39, não sente qualquer saudade dos tempos de jogador. O homem do leme pacense assume-se obcecado pelo treino e pretende ficar pelo menos mais uma temporada na Mata Real.

As suas expetativas pessoais estão a ser superadas?

«Fiz a escolha certa para a minha carreira. O clube é exemplar a todos os níveis e os resultados têm ajudado a sustentar toda a nossa estratégia. Estou muito feliz e posso dizer que sim, as minhas expetativas iniciais foram superadas».

Viver no norte, longe do seu Barreiro, é um obstáculo-extra?

«Nasci em Moçambique, mas cheguei ao Barreiro com menos de um ano de idade. Sou barreirense, mas adaptei-me facilmente ao norte. As pessoas de cá são muito afetivas. Sou tratado como um membro da família nortenha. Tenho pena de não ter cá a minha esposa e os meus filhos. Estou ansioso por tê-los sempre comigo, mas a situação profissional da minha esposa não o permite. Gosto muito da forma como os nortenhos encaram o futebol e gosto sobretudo do caráter do jogador nortenho».

Nota essa diferença entre o jogador do norte e do sul?

«Nota-se alguma diferença, sim. No D. Aves e no Paços fiquei surpreendido pela entrega impressionante dos atletas, a maioria deles oriundos do norte do país. É verdade que no sul treinei plantéis não profissionais, mas é indiscutível que a paixão é superior nesta zona do país».

Como é o seu dia-a-dia em Paços de Ferreira?

«Vivo em Guimarães, mas só vou lá dormir. Trabalho no estádio e almoço todos os dias no centro de Paços de Ferreira. Sou cumprimentado e felicitado por toda a gente. Quando se ganha é tudo muito mais simples. Acho que até nem tenho sido justo com a massa associativa do clube. Já lhe devia ter feito o elogio público. No último jogo tivemos uma casa cheia».

Quando jogava já pensava em ser treinador?

«Até aos 25 anos isso não me passava pela cabeça. Amadureci, passei a olhar com interesse para o processo de treino, a preparação dos jogos e comecei a ganhar entusiasmo por isso. Na parte final da minha carreira, com 32 anos, não estava minimamente motivado para continuar a jogar. Estava, sim, motivado para começar a ser treinador. Gosto muito mais de ser treinador do que jogador. Nunca senti saudades dos tempos de atleta. Sou obcecado pelo treino e pelos jogadores».

Por onde passa o futuro do Paulo Fonseca?

«Sempre acreditei nas minhas ideias. Esta vontade de ser treinador tem de ser alimentada pelo sucesso. Passei por todas as divisões e este entusiasmo cresce ao ritmo das minhas conquistas. Desconheço por onde passa o meu futuro. Tenho de mostrar resultados. A linha entre bestial e besta é quase invisível. O futuro é o treino de amanhã. Tenho mais um ano de contrato com o Paços de Ferreira e quero cumpri-lo. A não ser que me mandem embora (risos)».

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(Artigo original publicado a 29 de janeiro de 2013)