Quais as memórias mais fortes que tem do Itália90?

Foi há 20 anos, mas parece-me que tudo aconteceu ontem. Sinto uma grande emoção quando recordo esses momentos. Em termos pessoais foi absolutamente perfeito. Vestir a camisola da nazionale e fazer seis golos no Mundia... tudo foi uma surpresa, para mim e para os outros.

E como é passar da obscuridade à glória em poucas semanas?

Chocante (risos). Todos os jogadores dependem do momento, da sorte, da inspiração. De estar um centímetro mais à frente ou mais atrás. Quando entrei, no primeiro jogo, senti uma responsabilidade enorme. Soube lidar com isso e com toda a popularidade que chegou depois.

Essa equipa de Itália tinha grandes jogadores. Baresi, Maldini, Vialli, Baggio... Mas quando se fala do Itália90 todas as pessoas se lembram é do Schillaci.

Ainda bem! Era uma grande equipa, de facto. Os golos trouxeram-me a fama. No futebol é assim. Em minha opinião, essa foi uma das melhores equipas italianas de sempre.

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E o Schillaci era mesmo o melhor jogador?

Não, não, nem pensar. O melhor de todos era o Roberto Baggio. Aquele rapaz tinha um dom especial. Era um verdadeiro número dez, como não há muitos. Falava pouco, era muito concentrado e fazia o que queria com a bola. Infelizmente, as pessoas falam demasiadas vezes do penalty falhado na final do Mundial de 1994 e esquecem-se do resto.

Antes do Mundial nunca tinha marcado nenhum golo pela selecção de Itália. Depois da prova marcou apenas um. Como explica isto?

Pelo infortúnio das lesões e pela pressão excessiva. Todos começaram a exigir demasiado de mim, queriam que fizesse um hat-trick todos os jogos. Comecei a ter problemas físicos, perdi velocidade e não consegui manter a qualidade.

A Alemanha mereceu vencer o Mundial de 1990?

Não sei. Mas garanto-lhe que, se tivéssemos ganho à Argentina nas meias-finais, teríamos sido nós os campeões do mundo. Perdemos nas grandes penalidades. O Goycoechea defendeu os remates do Donadoni e do Serena, creio.

Foi com a camisola de Itália que se sentiu um avançado realizado?

Na Juventus também me senti. Fiz muitos golos [26 em 90 jogos] entre 1989 e 1992. Só tenho pena de nunca ter sido campeão nacional.

Ainda foi jogar para o Japão. Como foi a experiência?

Muito boa. Fui o primeiro italiano a jogar lá. Foram três anos fantásticos. Recuperei a pontaria e o prazer pelo jogo. Coisas que tinha perdido na passagem pelo Inter.

Quem vai ser o Schillaci da Itália no Mundial da África do Sul?

O Antonio Di Natale. Sempre o achei parecido comigo. Vai ser um Mundial muito equilibrado e não acredito em grandes goleadas.

E da selecção de Portugal, o que conhece?

Pouco. Adoro o Cristiano Ronaldo e sei que têm um futebol muito técnico. São um dos candidatos ao título. Conhecia melhor a equipa que tinha o grande Figo, o Paulo Sousa e o Rui Costa. Gostava mais de Portugal quando tinha o Figo.

O que faz actualmente? Continua ligado ao futebol?

Sempre estive ligado ao futebol. Mas não tenho feitio para treinador. Possuo uma academia para jovens, em Palermo, e apresento um programa desportivo na RAI. Sinto-me realizado e continuo a viver na minha Sicília.



Recorde os golos de Totó no Itália90: