Raras vezes Vítor Pereira se prontificou a analisar individualmente determinado atleta aos jornalistas. A regra é quebrada nesta entrevista ao Maisfutebol. O treinador enche Jackson de elogios, debruça-se sobre Kelvin, fala de um banco composto por meninos e até considera Steven Defour um elemento «especial».

Gostou sempre da resposta competitiva dada pelos atletas?

«Todos os jogadores do F.C. Porto cresceram. Os que jogam menos têm menos possibilidades de crescer, mas a base da equipa evoluiu bastante. Coletiva e individualmente. Por isso os clubes europeus querem o Jackson, o Mangala, o Alex Sandro, o Moutinho, o James, o Fernando... o Fernando cresceu para uma dimensão completamente diferente e é hoje um jogador completíssimo. Se o Porto quiser vender faz fortunas todos os anos. Como já fez novamente com as vendas do Moutinho e do James, aliás. Acredito que se mantivéssemos a mesma estrutura, e encontrássemos um ou dois jogadores rápidos e desequilibradores, evoluiríamos para outro patamar qualitativo».

Faltaram-lhe esses tais jogadores rápidos e desequilibradores?

«Faltaram, sim. Tínhamos muitos atletas de posse, de passe e qualidade, mas faltava alguma agressividade no um para um ofensivo. Em determinados jogos sentimos isso».

O Kelvin encaixaria nesse perfil de atletas que pretenderia para a próxima época?

«Não podemos pedir a um miúdo de 19 anos, que chega do Paraná, uma afirmação imediata. Não basta passar três vezes o pé por cima da bola e temos um jogador feito. O Kelvin faz aquilo uma, duas, três vezes, a equipa está à espera de sequência e ele não dá. Esse tipo de atleta tem de ganhar maturidade tática para que o individualismo se torne positivo. Isso demora o seu tempo, nomeadamente com jovens sul-americanos. E quando esses jovens chegam cá com estatuto de fora-de-série ainda é mais difícil encaixar, porque esta equipa tem uma tremenda maturidade».

Faltou-lhe um bom banco em determinadas situações?

«Tínhamos muitos meninos. Recordo-me do jogo na Luz, esta época. Tínhamos no banco Sebá, Kelvin, Atsu, Castro... o Castro está numa fase diferente, mas todos os outros eram muito jovens e inexperientes. Tínhamos, felizmente, um jogador especial, capaz de fazer várias posições e que foi importantíssimo para nós nestas duas temporadas: o Steven Defour».

Como é que se encontra um Jackson numa cidadezinha mexicana chamada Tuxtla Gutierrez e num clube modesto como o Jaguares?

«O Jackson foi encontrado há três anos. Custava muito pouco dinheiro. Entretanto, mudou-se da Colômbia para o México e continuou a ser um avançado, do meu ponto de vista, evoluidíssimo. Tecnicamente fantástico, possuidor de uma personalidade forte, com argumentos para ser de top mundial. Acredito que com o crescimento, o profissionalismo e a maturidade que tem, será um dos melhores do mundo. Já devia ter vindo há muito tempo, já devia ter vindo na época passada».

Faltou-lhe um Jackson no seu primeiro ano?

«Senti muito essa falta. Para ganhar o campeonato, e bem criticado fui por isso, tivemos de desviar o Hulk para o meio. De outra forma não tínhamos conseguido ser campeões».