Dos seis aos 20 anos, Gonçalo Paciência só conheceu duas cores. O azul e o branco, adornados pelo emblema do dragão. No último verão, renovou pelo clube de sempre, o FC Porto, e rumou por empréstimo à Académica de Coimbra.

Em entrevista exclusiva ao Maisfutebol, o ponta de lança português fala da concorrência no Dragão, da relação com Julen Lopetegui e dos quatro jogos que fez pela equipa principal, na temporada anterior.

Há paixão, há sentimento, há nobreza em cada palavra de Gonçalo. Mais do que um mero futebolista com ligação ao FC Porto - tem contrato até 2019 e cláusula de rescisão de 25 milhões de euros -, Gonçalo é um fervoroso seguidor do clube e um homem interessado em ver mais gente como ele no balneário azul e branco. 

Sorridente, acessível e inteligente: Gonçalo Paciência - quiçá o mais interessante projeto de ponta de lança de dimensão internacional no nosso país - em discurso direto.

Gonçalo Paciência titular num histórico Sp. Braga-FC Porto

De quem partiu a decisão do empréstimo? Do FC Porto ou do Gonçalo?

«Bem… fiz seis meses com o plantel principal e acho que estive bem nas quatro oportunidades que me deram para jogar. Até fiz um golo à Académica. Sobre o empréstimo, acho que partiu das duas partes. Sabia que ia jogar pouco, mesmo com a saída do Jackson. Percebi que o Aboubakar ia ser a primeira opção. Não fazia sentido continuar na equipa B, por isso decidimos o empréstimo. Quis jogar na Liga e dar boa resposta».

O Gonçalo Paciência não cabia no plantel 2015/16 do FC Porto?
«Acho que cabia. Não me sinto inferior a nenhum dos pontas de lança. Somos diferentes. Enfim, são opções. O mister Lopetegui tomou essa decisão e tenho de a aceitar, claro. Gostaria de ter ficado, mas este ano o André Silva vai desempenhar o papel que tive na época passada».

Os quatro jogos feitos na equipa A do FC Porto souberam a pouco?
«Sim. Respeito as decisões de Julen Lopetegui, mas podia ter feito pelo menos mais três ou quatro jogos. Houve momentos em que podia perfeitamente ter entrado. Respeito todas as decisões».

E a estreia, em Braga, num jogo tão especial? O FC Porto ficou reduzido a nove jogadores muito cedo e segurou o empate.
«Até fico arrepiado, só de me lembrar do meu primeiro jogo (risos). Cumpri um sonho de criança. Senti-me muito bem. Entrei aos seis anos no clube do meu coração e percorri todo o caminho em busca dessa oportunidade. Quem vive na cidade do Porto, como eu sempre vivi, e anda pelas ruas, percebe o que é isto, o que é este amor. Joguei em todos os escalões, fui apanha bolas, fiz parte da claque, segui o clube para todo o lado… e naquela noite joguei, entrei lá para dentro. O FC Porto é o clube do meu coração, será sempre».

Na era dos fundos e dos passes partilhados ainda há espaço para o romantismo e o coração no futebol?
«Há e o Rúben Neves é a prova viva disso. Além da qualidade que tem, é um rapaz apaixonado pelo FC Porto. Para mim é essencial ter jogadores assim, que conheçam efetivamente a História do clube. Quando se ama um clube, olhamos para o emblema e o cansaço passa. Aconteceu-me isso muitas vezes. No FC Porto e na Seleção Nacional. As forças aparecem. Sei que o Rúben, o André Silva, o Sérgio Oliveira e o André André pensam da mesma maneira. Há sempre um bocadinho mais a fazer».

Ficou desiludido com Lopetegui ou não pensa dessa maneira?
«Ele foi muito importante para mim, atenção. Foi o treinador que me lançou na equipa principal do FC Porto. Tenho de lhe estar grato, apesar de poder ter jogado mais. É um bom treinador».

O treinador basco foi muito contestado após a derrota em Londres, mas lidera a Liga. Como avalia o trabalho dele?
«Os adeptos do FC Porto são muito exigentes e às vezes pensam mais com o coração. Perder em Londres foi normal, o pior foi o jogo em casa contra o Dínamo. Mas na Liga Europa tem reais possibilidades de vencer a prova. Apesar de tudo, creio que o Julen Lopetegui está a fazer um bom trabalho».  

Como é Julen Lopetegui no dia a dia? É um treinador próximo dos atletas?
«É um homem que vive muito aquilo que faz. Nos treinos e nos jogos. Não deixa ninguém adormecer, está sempre muito vivo e passa uma mensagem forte à equipa. É um treinador competente».

E o FC Porto de 2015/16 é superior ao da época passada?
«Tem mais cinco pontos nesta altura, não é?  Com a saída do Jackson, acho que há algumas diferenças, apesar de eu achar o Aboubakar um excelente avançado. Continua a ser a mesma equipa, com futebol apoiado, de posse e em busca sempre do espaço. É uma equipa intensa, que cansa os oponentes. Eu agora estou do outro lado e sinto isso (risos). Não joguei contra o Porto, mas joguei contra Sporting e Benfica e senti isso. Corremos muito sem bola e quando a temos já perdemos algum discernimento, devido ao cansaço».