Chegou a Portugal depois de correr meia Europa. Aos 30 anos, o internacional maltês André Schembri é titular no ataque do Boavista, clube que o seu pai defrontou numa eliminatória europeia há 37 anos. Sábado, ele será provavelmente uma das principais ameaças da equipa do Bessa à baliza do Sporting. Schembri tem estudado o adversário, viu o jogo contra o Real Madrid e não encontrou grandes diferenças entre os leões e o campeão europeu.

Numa entrevista bem-humorada ao Maisfutebol, no Estádio do Bessa, o avançado maltês confessou a sua satisfação por estar a jogar na Liga Portuguesa, revelou as circunstâncias inusitadas em que lhe surgiu o convite dos axadrezados e deixou uma promessa, que pode ser para levar a sério: vai a Fátima se o Boavista conseguir esta época a façanha de chegar aos lugares europeus.

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Vir jogar para o Boavista era uma espécie de destino. O seu pai jogou aqui no Bessa, embora num estádio bem diferente deste, pelo Sliema Wanderers na primeira ronda da Taça das Taças de 1979/80. Ele falou-lhe dessa eliminatória?

O Sliema Wanderers perdeu 8-0 no Bessa – antes de vencer por 2-1 em Malta. Quando eu era criança o meu pai contou-me que esse foi um jogo especial para ele, porque nesse dia a minha mãe deu à luz o meu irmão mais velho. Ele recordava a atmosfera do jogo, falava-me do Boavista como uma grande equipa. Mais tarde, vi o Boavista ao vivo…

Pai de Schembri a defrontar o Boavista na Taça das Taças de 1979/80 pelo Sliema Wanderers

Contra o Hibernians, na qualificação para a Liga dos Campeões de 2002/03?

Eu já jogava nas camadas jovens do Hibernians e fui ao estádio ver o jogo da segunda mão em casa. O meu tio era o treinador-adjunto do Hibernians nessa eliminatória. Foi um empate (3-3), depois de uma derrota no Bessa por 4-0. Quando eu ainda estava em Malta joguei no Marsaxlokk com o Nuno Gomes – não o que também representou o Benfica – que tinha jogado cá. Fiquei amigo dele e recentemente voltei a falar com ele e a pedir-lhe informações. Portanto, pode dizer-se que sabia muito do Boavista antes de vir para cá. Lembro-me de o Boavista a jogar na Liga dos Campeões. Já era adepto do clube, principalmente por causa do meu pai.

Como é que o Boavista chegou até si?

Fui através de um empresário. Curiosamente, recebi a mensagem a convidar-me a vir para cá quando estava no meu casamento. Fiquei em choque. Portanto, disse «sim» ao Boavista antes de dizer «sim» à minha noiva… [risos] É um motivo de orgulho para o futebol maltês. Não há muitos jogadores a jogarem a este nível.

Chegou em Julho. Já tem opinião formada sobre a Liga Portuguesa?

É o nível mais alto a que já joguei; um campeonato muito difícil. Jogo como avançado, mas aqui sou como que o primeiro defesa da equipa. Trabalho muito esse aspeto. Noutros clubes jogava sobretudo junto à área e despendia a minha energia sobretudo a tentar fazer golos. Aqui, trabalha-se mais a componente tática; tenho de fazer mais a pressão sobre o adversário e jogar mais sem bola.

Tem jogado sozinho no centro do ataque. É a posição em que se sente mais confortável?

Seria mais fácil jogar com outro avançado ao lado, num sistema de 4-4-2. Mas acredito que o 4-3-3 seja um sistema mais apropriado para a equipa neste momento e tento cumprir as indicações do treinador. Afinal, ele é que manda. Só tenho pena de ainda não ter marcado mais: fiz dois golos até agora, o que para um avançado não é assim muito.

Marcou no último jogo contra o V. Guimarães. Isso dá-lhe alguma dose de confiança adicional para a receção ao Sporting deste sábado?

Marcar dá motivação. Estive a ver o jogo do Sporting contra o Real Madrid e não vi grandes diferenças… Aliás, acho que o Sporting até foi melhor do que o Real Madrid, tal como já havia sido lá. Vai ser um jogo muito difícil para nós. Mas, jogando no Bessa e diante dos nossos adeptos, não podemos pôr o adversário num patamar superior.

Que pontos fortes encontra neste Sporting?

Tem jogadores muito tecnicistas…

Destaca algum jogador?

Todos são bons. Já tinha visto o Sporting noutros jogos, mas fiquei impressionado com a exibição deles frente ao Real Madrid.

Durante o jogo contra o Real Madrid também esteve atento aos defesas do Sporting, certamente.

Claro, a tentar ver alguns pontos fracos. Mas não têm muitos, honestamente.

Depois do Cristiano Ronaldo, eles agora vão ter de estar atentos ao Schembri…

Grande diferença! Não acho que eles queiram saber muito de mim. [risos]

Já jogou contra o FC Porto, tem estado atento ao Sporting. Qual é para si o principal candidato ao título?

Honestamente, não vejo grande diferença entre FC Porto, Benfica e Sporting. O Sp. Braga está num patamar intermédio. Acredito que o mais consistente vencerá a Liga.

Ao contrário do jogo do Dragão, acha que jogar em casa frente ao Sporting dá mais oportunidades de um bom resultado ao Boavista?

Jogar em casa é como termos mais um jogador em campo. Portanto, contra o Sporting, vamos jogar para conquistar os três pontos. Queremos o máximo de pontos e ficar acima dos lugares em que temos terminado nas últimas épocas.

É mais motivador ter como casa um estádio de 30 mil lugares como o Bessa?

Claro. Em Malta não há estádios para 30 mil pessoas. Talvez só o aeroporto tenha espaço para tanta gente… [risos]

O Boavista trocou recentemente Erwin Sánchez por Miguel Leal. Que diferenças nota no comando técnico da equipa?

São treinadores diferentes, cada um tem a sua filosofia. Em campo, a principal diferença que noto é que dantes jogávamos em 4-2-3-1 e agora jogamos em 4-3-3.

Que expetativas tem para a sua carreira aqui em Portugal?

Assinei contrato por dois anos e tanto eu como a minha família estamos felizes em Portugal e no Boavista. As pessoas são fantásticas. Gosto muito da vida cá.

Está a adaptar-se bem à vida no Porto?

Estou cá com a minha mulher e com o meu enteado. A cidade é fantástica. Ao longo da minha carreira vivi em Budapeste, Atenas, Nicósia, Frankfurt, mas o Porto é uma das minhas cidades favoritas. Gosto muito da comida, de passear no Cais de Gaia com vista para o Porto: a vista é magnífica... A minha mulher tem tido mais tempo para passear: foi a Fátima, porque como qualquer maltesa é católica. Também tenho de ir lá um destes dias.

Vai fazer alguma promessa para esta época?

Pois bem. Se o Boavista se apurar para a Liga Europa vou a Fátima agradecer.

Portanto, se o virmos em peregrinação no final da época já sabemos o motivo…

É isso mesmo! [Risos]