Um ano depois de ter sido mãe, Sara Moreira estreou-se na maratona com um brilhante terceiro lugar em Nova Iorque. Mais do que isso, estreou-se com um tempo «acima de todas as melhores expetativas»: 2h25m59s.

Em entrevista ao Maisfutebol, poucas horas após os «duríssimos» 42,195 kms, Sara Moreira fala sobre «o ano mais gratificante» da sua vida. Desportiva e emocionalmente, como está bom de ver.

Guilherme, o bebé de Sara, nasceu a 1 de novembro de 2013. Sem saber, o pequenino tornou-se na fonte de «maior motivação» da atleta do Sporting Clube de Portugal.

Com 28 anos, Sara Moreira ainda não estabeleceu os próximos objetivos profissionais, mas já tem «perfeita consciência» do alcançado nos EUA.

«Superei largamente o previsto. Foram muitos quilómetros, na maratona é muito fácil haver um desfalecimento e consegui sentir-me bem até ao fim», diz a campeã europeia de 3000 metros, em pista coberta.

«O percurso era difícil, irregular, e estava muito frio e vento de frente. Tudo isso tornou o meu tempo e a minha classificação ainda mais saborosos. Achava, honestamente, muito difícil correr abaixo das 2h27m», acrescenta Sara Moreira.

Bay Bridge, Brooklyn, Williamsburg, Long Island, Harlem, Broadway, sempre em sofrimento até ao desejado Central Park. Melhor do que a menina de Santo Tirso, só duas atletas africanas: Mary Keitani e Jemima Sumgong, ambas do Quénia.

«Eu diria que terminar uma maratona é, por si só, um ato de heroísmo. Juntar a isso uma participação como a que consegui é… bem, acho que o meu sorriso no final dizia tudo. Fiquei radiante, estou realizada a todos os níveis».

Antes da corrida, Sara foi colocando vários pormenores curiosos na sua conta pessoas no twitter:
200 quilómetros por semana: a preparação ideal

Nunca é de mais lembrar. Este resultado soberbo foi alcançado na primeira maratona da carreira e num período em que dividiu a preparação com os deveres da maternidade. Como é que Sara Moreira geriu a agitação do quotidiano com os treinos?

«Os meus pais, a minha irmã e a minha prima foram fundamentais, ajudaram-me muito. Criar um bebé é duro, principalmente nos primeiros cinco/seis meses. Por acaso, o Guilherme é um anjinho que dorme sempre bem e isso facilitou também o meu descanso»
.

Sara Moreira dividiu os dias, ao longo dos últimos 12 meses, entre Guilherme e os treinos. Por semana, diz-nos, continuou a treinar correr cerca de 200 quilómetros!

«Acordava, tratava do meu filho, tomava o pequeno-almoço, deixava-o na escola e às 10 horas já estava a treinar. Fazia um trabalho de hora e meia, ia buscar o Guilherme, descansávamos um pouco em casa e à tarde deixava-o com familiares, para eu treinar mais um pouco», explica Sara.

Apesar de dar «grande importância à carreira», Sara Moreira faz sempre questão de dizer que «nada se compara a ser mãe». «Vou continuar a lutar por grandes resultados mas a minha maior e medalha será sempre a felicidade do Guilherme».

De Roriz ao ouro olímpico de Fernanda Ribeiro: assim nasce uma carreira


Sara Moreira começou a correr aos oito anos. Venceu um corta-mato com colegas da quarta classe e foi logo convidada a integrar as fileiras do clube de atletismo de Roriz, na aldeia onde viveu os primeiros anos.

A «diversão»
de correr passou a «algo muito mais sério»
depois de ver Fernanda Ribeiro ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1996. Sara começou «a treinar melhor e com mais motivação»
, para tentar «imitar»
Fernanda Ribeiro.

E as medalhas começara a aparecer, mais de uma década depois. O ouro em Gotemburgo, nos 3000 metros, foi a maior conquista, mas Sara tem muitos e bons resultados para apresentar: em 2009 foi medalha de prata na mesma prova, em Turim, em 2010 ganhou novamente prata nos Europeus de Barcelona (5000 metros) e em 2012 foi medalha de bronze em Helsínquia, na mesma distância.

Como diz a própria, acabar a maratona de Nova Iorque foi um ato de heroísmo. Criar um bebé enquanto o preparava, só pode duplicar o impacto do feito. A mamã Sara está de parabéns.