Nicolás Gaitán, El Zurdo. O perfume do génio argentino atravessou o Atlântico e tem morada certa nos Chigago Fire. É a partir de lá que o antigo futebolista do Benfica conversa quase uma hora com o Maisfutebol.
Nico jogou no Benfica de 2010 a 2016, foi três vezes campeão nacional, fez 253 jogos e marcou 41 golos. No caso de Nico, porém, os números são um amparo muito relativo. A sua história é escrita por um pé esquerdo mágico, uma dádiva dos céus.
O menino criado na Bombonera despediu-se há três anos em lágrimas [20 de maio de 2016] do emblema da Luz e aceita falar para Portugal numa altura em que o seu Benfica está muito perto de recuperar a coroa nacional.
Não gosta de conceder entrevistas, admite, mas a partir do momento em que atende o telefone passa a ser um diligente comunicador. Antes de arrancar este jogo de pergunta e resposta, Nico Gaitán só nos faz um pedido: não quer falar do Benfica atual «para não perturbar» e recusa analisar os dois homens que o treinaram na Luz, Jorge Jesus e Rui Vitória.
Condições aceites pelo nosso jornal.
Nesta primeira parte, Nico recorda a chegada a Luz, fala dos melhores companheiros no balneário lisboeta e assume que a saída para o Atlético Madrid acabou por ser «um passo atrás na carreira».
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Maisfutebol – Chegou ao Benfica em 2010 para substituir Di María.
NG – Tinha 22 anos, era a primeira vez que estava fora da Argentina, mas os meus colegas no balneário facilitaram tudo: o Pablo [Aimar], o Saviola, o Cardozo, o Maxi Pereira… todos sabem que o Maxi é um enorme amigo, temos uma amizade forte até hoje. Ele e a sua família abriram-me a porta de casa e nunca me esquecerei disso.
MF – Foram seis anos muito intensos e com três campeonatos nacionais ganhos.
NG – Ganhei muitas vezes, perdi outras, dei sempre tudo. Se tivesse de escolher um momento com a camisola do Benfica… teria de ser o último jogo, a final da Taça da Liga em Coimbra [6-2 ao Marítimo, golo de Nico aos 77 minutos]. E escolho esse jogo porque entrei em campo sabendo já que seria o meu último pelo Benfica. Já tinha tudo feito para sair para o Atlético de Madrid. E tive muita sorte nesse jogo.
MF – Então porquê?
NG – Marquei um golo na última vez que toquei na bola ao serviço do Benfica, eh eh eh. Despedi-me com esse golo, foi perfeito. Aconteceu assim.
MF – É impossível esquecer as suas lágrimas no banco de suplentes, depois de ser substituído. O que sentiu o Nico Gaitán nesse momento?
NG - Não consigo explicar, é impossível. Não sei se você tem a sorte de ser pai. Tem?
MF – Sim, Nico.
NG – Pois, eu ainda não sou pai. Consegue explicar-me o que sentiu ao ser pai? É um pouco a mesma coisa. Há coisas que não são explicáveis, só podem ser sentidas. Todos sentimos as coisas de forma diferente e eu gostaria de não ter sentido vontade de chorar. Passaram-me muitas coisas pela cabeça, imagens dos seis anos no clube, o que me tinha custado chegar até ali, o carinho que toda a gente sempre me deu. Lembrei-me dos problemas no início, por culpa do meu estilo de jogo. Mas é assim, com o tempo senti-me um membro da família do Benfica.
MF – No Benfica era quase sempre titular e no Atlético passou muito tempo no banco ou fora dos convocados. Como é que um futebolista lida com isso?
NG – Muito difícil. Muito difícil… bem, joguei num grande clube, num grande campeonato, mas a verdade é que nunca antes tinha passado por isso [ser suplente]. Cresci como futebolista. Quando assinei pelo Atlético imaginei que as coisas se passassem de maneira diferente. Pensei que estava a dar um passo em frente e fui percebendo que era um passo atrás. Já passou, saí para a China, agora estou nos EUA e amanhã veremos.