Contratado ao V. Guimarães no final de janeiro de 2005, Nuno Assis estreou-se pelo Benfica com um golo e ajudou os encarnados a porem fim à maior seca do clube da Luz sem títulos. Em conversa com o Maisfutebol, o antigo futebolista confessa que Sporting e FC Porto também o queriam na altura e explica por que razões escolheu as águias.

Ainda o tal jogo decisivo contra o Sporting, o tal que selou praticamente a conquista da Liga, e as memórias de Trapattoni. «De vez em quando dava uns gritos, não gostava nada de perder, mas nunca o vi mal disposto.»

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Vinte e nove de janeiro de 2005. Lembra-se do que aconteceu nesse dia?

Foi a minha estreia pelo Benfica. Contra o Moreirense e, curiosamente, no estádio do Vitória.

Foi uma estreia em grande.

Em grande, foi. As expectativas eram muito altas e as coisas correram muito bem. A partir daí tive mais alguns jogos em que as coisas me estava a sair bem, mas depois tive uma fase não tão boa em que caí um pouco. Podia ter feito mais nesse ano, mas acontece a qualquer um. Em termos individuais, as coisas não me correram muito bem nos jogos finais, mas em termos de equipa deu tudo certo porque fomos campeões.

Mesmo assim teve um papel importante na conquista do título. Sente isso?

Sim, sim. Naquela altura a equipa era muito coesa. Tínhamos um grupo forte. Ninguém pensava que pudéssemos conquistar o título, mas o nosso espírito de grupo era fantástico e foi por isso que conseguimos. Também tínhamos um treinador que era um ser humano fantástico.

A celebrar o primeiro golo pelo Benfica no jogo de estreia pelos encarnados: uma vitória por 2-1 sobre o Moreirense

Como surgiu o interesse do Benfica? Através de Vieira, com quem esteve no Alverca, ou de Álvaro Magalhães, com que trabalhou no Gil Vicente?

Talvez através dos dois. Mas fiz uma primeira metade de época fantástica no V. Guimarães. E nem comecei bem. Tive um problema particular e fui parar ao banco. Até que resolvi essa questão e passei a jogar com uma alegria eu não tinha até aí: comecei a fazer golos e a desfrutar do futebol. As coisas correram-me muito bem e apareceram propostas dos três grandes. Mas a primeira que tive foi do Espanhol de Barcelona. Estava tudo certo para ir para o Espanhol no final da época.

Só que surgiu o Benfica.

Sim. Estava inclinado a ir para o Espanhol no final da época. Era uma proposta tentadora, tinha aquele receio de ir para fora porque era a primeira vez, mas tomei a decisão de sair. Mas entretanto surgiram os grandes e era para sair logo. Não ficaria tranquilo por estar a jogar seis meses num clube enquanto estava comprometido com outro: e se acontecesse alguma coisa e a transferência não acontecesse? Apesar dos outros dois grandes, optei por ir para o Benfica por várias razões.

O que o fez desempatar?

[Risos] A minha família era toda benfiquista, mas talvez porque também foi o primeiro dos três grandes com quem falei. Foi a proposta mais tentadora.

Que primeiras impressões teve quando chegou ao clube?

A pressão é grande, mas isso já existia no Vitória, onde não era fácil e já tinha passado por algumas situações complicadas. Já sabia com que tipo de situações poderia ter de lidar. Só que estamos a falar de um clube conhecido mundialmente, que tem muito adeptos e onde a pressão é enorme. Mas o clube não estava a atravessar uma fase boa e eu não tinha nada a perder. Só pensava em aproveitar e desfrutar daquele momento.

Referiu-se há pouco a Trapattoni como um ser humano fantástico, mas tenho de lhe fazer esta pergunta. Há quem ainda hoje questione quem era verdadeiramente o treinador do Benfica: se ele ou Álvaro Magalhães. Quem era?

Ah! As pessoas especulam muito, mas só quem está lá dentro é que sabe. O treinador era o Trapattoni, como é óbvio. Mas é claro que o Álvaro estava por dentro da realidade do futebol português. Tinha um conhecimento vasto e foi uma grande muleta para Trapattoni.

Lembra-se de alguma história caricata que tenha vivido com Trapattoni?

Ele já tinha uma certa idade na altura e ainda jogava connosco nas peladas. Perguntávamos como é que era possível ele, com aquela idade, andar ali a correr. Ainda mexia [risos] E era bastante competitivo. Ninguém gosta de perder, mas estamos a falar de uma pessoa com uma certa idade e que passou por tudo e mais alguma coisa, mas que parecia um miúdo de 20 anos a viver o futebol. De vez em quando dava uns gritos, mas nunca o vi mal disposto. É normal haver dias em que alguns treinadores estejam mais nervosos, mais chateados, mas com Trapattoni estava sempre tudo bem. Era uma pessoa bastante divertida.

Com Simão e Bruno Aguiar a festejar o título em 2005, no Estádio do Bessa

Falou do bom ambiente de balneário que encontrou no Benfica. Foi essa a chave do título em 2005?

Foi. No jogo em casa contra o Sporting ninguém pensava que pudéssemos vencer. O favoritismo era todo atribuído ao Sporting mas nós é que conseguimos, com muita entrega e sacrifício. E tudo começava muito antes dos jogos: nos treinos e nos estágios. Tínhamos um grupo muito forte, o que foi muito importante. Também pode dizer-se que as outras equipas chamadas grandes não estiveram muito bem, mas isso vale o que vale.

Como lidaram com a pressão de não poder falhar na semana que antecedeu o jogo com o Sporting?

Estávamos tranquilos porque ninguém pensava que o Benfica pudesse ser campeão. O favoritismo foi sempre dado a outros. Não tínhamos nada a perder. Sabemos que a exigência do Benfica é sempre ganhar, mas tínhamos esse fator do nosso lado. Foi isso que fez com que déssemos sempre mais um por cento do que o habitual e as coisas correram bem. Fomos justos vencedores e ganhámos quando ninguém esperava: quando é assim, sabe muito melhor.

Sentiram que o título estava ganho depois do jogo com o Sporting?

Foi um passo decisivo. Sabíamos que a partir dali só dependíamos de nós e não podíamos cair. Tínhamos de dar ainda mais para atingir o objetivo. Só faltava um jogo.

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