Minuto 70 do Barcelona-Deportivo. Os catalães venciam com a tranquilidade esperada (2-0) e Víctor Sanchez, treinador da equipa da Corunha, mexe com a pedra menos provável: Miguel Cardoso.

O português de 21 anos ,que chegou ao Deportivo em 2013 e em março deste ano assinou contrato profissional, estreou-se na Liga espanhola num palco de sonho, o Camp Nou. E logo com imagem muito positiva. Sete minutos depois de entrar, com um toque precioso, deixou Lucas Pérez na cara de Claudio Bravo. O seu colega não perdoou e relançou o Deportivo no jogo. A quatro minutos do fim, Bergantiños gelou o estádio com o empate.

Na génese de tudo esteve, então, o avançado que chegou do modesto Real Massamá e, paulatinamente, ganhou o seu espaço. Primeiro no plantel, agora entre as opções do técnico.

O momento é, por isso, de euforia controlada para o português. Foi esse o espírito que passou em conversa com o nosso jornal, no dia seguinte à estreia.

«O balanço da estreia é muito positivo. É aquilo a que costumam chamar estreia de sonho. Estava longe de imaginar. Nunca pensei que pudesse fazer o meu primeiro jogo na Liga contra o Barcelona e ainda por cima no Camp Nou. Foi excelente», descreve, ao Maisfutebol.

Miguel Cardoso conta que só mesmo quando foi chamado para entrar ficou convicto que a estreia ia acontecer. Tinha a esperança, antes, mas pouco mais. «Depois de estar convocado e de ter conseguido ficar nos 18 sabia sempre que havia a possibilidade, mas continuei sempre com os pés no chão e longe de imaginar que poderia ser ali. Não esperava, sinceramente. Nunca pensei que ia jogar. Mesmo quando estava a aquecer achava que havia outras possibilidades. Depois ouvi o treinador a chamar o meu nome e aí sim. Fiquei contente claro», resume.

«É uma sensação mista de alegria e ansiedade, mas uma ansiedade positiva. Aquela vontade de estar em campo. Quando me chamou e por muito que ainda me estivesse a dar instruções já só pensava em entrar, desfrutar do momento e fazer o meu melhor», confessa.



«Ainda tive uma oportunidade em que poderia ter feito melhor»

Esta foi a terceira vez que Miguel Cardoso foi para o banco da principal equipa do Deportivo esta época. Tinha acontecido em outras duas deslocações, ambas à cidade de Valência: para defrontar o clube homónimo, na 2ª jornada, e o Levante, na 11ª ronda.

Depois disso e antes desta estreia na Liga, fizera o primeiro jogo pela equipa principal do Deportivo na Taça do Rei. Foi titular frente ao Llagostera, também fora de portas. Saiu aos 70 minutos, com o jogo empatado um. Pouco depois, Oriol Riera deu a vitória ao Depor.

Este jogo em Camp Nou, contudo, é o ponto de partida escolhido. E elogiado. «O treinador deu-me os parabéns pela estreia e pela forma como entrei no jogo. Eu agradeci-lhe a oportunidade. Todos os colegas que estava no jogo felicitaram-me. Disseram que entrei muito bem. Eu só tenho a agradecer-lhes, são eles que me ajudam diariamente a crescer e a evoluir»
, sublinha.

Além da assistência para o 2-1, Cardoso atirou às malhas laterais o que seria o golo do triunfo e o consumar de uma reviravolta histórica: «Marcar era a cereja no topo do bolo. Ainda tive uma oportunidade em que poderia ter feito um pouco melhor, mas pronto, fica para a próxima.»


A festa do Deportivo em Camp Nou

Deportivo: dois anos seguidos a ser feliz em Camp Nou

É o segundo ano seguido em que o Deportivo arranca um empate em Camp Nou e em ambos por 2-2. Na temporada transata, de resto, foi o jogo da festa da manutenção, quando já poucos acreditavam. Diogo Salomão foi o herói.

«Ir a Barcelona e empatar não é para qualquer equipa e conseguir fazê-lo dois anos seguidos, então, é fantástico», comenta Miguel Cardoso. Ainda assim reconhece: «É preciso trabalhar muito e ter alguma sorte também. Porque contra grandes equipas, como Barcelona ou Real Madrid, por muito que se lute, a sorte tem de ajudar porque num pormenor eles marcam e vai tudo por água abaixo.»

Ao contrário do ao passado, contudo, o Deportivo visitou Camp Nou bem mais tranquilo. A época está a ser deveras superior. A equipa ocupa, nesta altura, o 6º lugar da Liga e luta por um posto que permita o regresso às competições europeias.

O português acha que a diferença está num pormenor: «Este ano o Deportivo tem mais experiência.»

«São jogadores mais experientes, com mais anos de I Liga, alguns internacionais até. Acho que a grande diferença para o ano passado é essa, essencialmente», acrescenta.



«Trocar a camisola? Preferi guardar a minha»

Do jogo de Camp Nou, Miguel Cardoso trouxe apenas uma recordação: a camisola do jogo. «Não tive oportunidade de trocar», começa por dizer.

«Fiquei com a minha, que também é importante para mim por ser a da estreia na Liga espanhola. Preferi assim. Vou guardá-la para sempre. Não fiz muita questão, também. Claro que se tivesse oportunidade de trocar um Messi ou um Neymar não sei se dava tanta prioridade à minha»
, atira entre risos.

O jogo também não lhe rendeu nenhum benefício ou despesa nas habituais apostas entre colegas. Luisinho e Sidnei são os que estão mais próximos, mas não houve promessa. «Ainda lhes estou a dever um jantar por ter ficado no plantel. Por isso é melhor ir um jantar de cada vez…», brinca.

Para fim de conversa, Miguel Cardoso abordou a possibilidade de jogar, um dia, na Liga portuguesa, visto que se mudou para Espanha sem nunca ter passado pelo principal escalão luso.

«Qualquer jogador gostaria de jogar na Liga do seu país. Não sei se vai acontecer ou não, mas um dia gostaria de ter essa oportunidade. Fiz a minha formação no Benfica e nunca joguei numa equipa da Liga, por isso não posso dizer se o problema é a falta de aposta nos jovens. Gostava de jogar em Portugal, mas vamos ver. Neste momento o mais importante é continuar a crescer no Deportivo», conclui.