João Carlos Teixeira está a crescer no Liverpool. O jovem que acabou de fazer 23 anos integrou-se no plantel principal, já fez três jogos esta época e marcou na quarta-feira o primeiro golo em Anfield Road. Um momento que, refere, dificilmente vai esquecer.
 
O português, recorde-se, foi descoberto na Youth League, quando brilhou pelos juniores do Sporting em Liverpool. A transferência aconteceu muito depressa e desde então já está há cinco anos nos Reds, tendo cumprido vários passos até à equipa principal.
 
Em entrevista ao Maisfutebol, João Carlos Teixeira afirma-se apaixonado pelo clube inglês. Em final de contrato, já começou a conversar para renovar e esperar ficar por muito tempo: é lá, aliás, que se vê daqui a cinco anos, a ser titular da equipa.
 
Pelo caminho admite que uma transferência tão cedo para Inglaterra o afastou da vista dos portugueses, por isso terá falhado o Euro sub-21. Mas garante que não se arrepende da escolha que fez e afirma que quer estar nos Jogos Olímpicos deste ano.

 
Podemos dizer que esta já é a melhor época do João Carlos Teixeira?
Se é a minha melhor época…? Sinceramente não sei. Não tenho jogado muito, tenho ido muitas vezes para o banco e não gosto disso. Fiz três jogos pela equipa principal, é verdade, na quarta-feira marquei o meu primeiro golo pelo Liverpool em Anfield e isso é muito especial. Tem sido bom, mas quero jogar mais. Preciso de jogar mais.
 
Mas está a treinar com a equipa principal, já vai jogando...
Sim, exatamente. Acho que estou a afirmar-me aos poucos.
 
Já agora, por que é não festejou o golo de quarta-feira?
Eu festejei, mas de uma forma serena. Era o terceiro golo da equipa, estávamos confiantes no jogo, por isso achei que não fazia sentido festejar de uma forma exuberante.
 
Já foi eleito o melhor jogador da Academia do Liverpool. Sente que é um dos meninos bonitos do clube?
Sinto que sou como os outros, honestamente. Estou aqui para trabalhar e tenho que demonstrar que posso jogar mais. Mas claro que ganhar esse prémio foi especial. O Liverpool é muito grande, é um clube emblemático no mundo e aquele prémio tem uma grande importância para mim. Mas não tira o foco daquilo que eu quero.
 
E o que é que o João quer?
Eu quero mais minutos. O que eu mais quero é ter mais tempo de jogo.
 
Mas quer ter mais minutos no Liverpool ou admite sair para jogar mais?
Não, não, não. Quero ter mais minutos no Liverpool.


 
Não gostava por exemplo de ser emprestado a um clube português?
Portugal é o meu país, mas o futebol é muito diferente e perdia um bocadinho os hábitos daqui. Claro que jogar no Sporting, no Benfica, no Porto ou no Sp. Braga é diferente, são equipas com uma boa dimensão, mas mesmo assim o futebol é diferente e não sei até que ponto isso seria benéfico para mim...
 
Portanto não admite voltar a Portugal nem para jogar num grande...
Não, não disse isso. O que disse é que gostava de ficar no Liverpool, e em Inglaterra. Mas não fecho as portas a outras propostas. Para já os meus planos passam por ficar no Liverpool e jogar mais aqui, mas nunca se sabe como vai ser o futuro.
 
Durante estes anos que está em Inglaterra teve saudades do futebol português?
Não podemos esquecer que o futebol em Inglaterra é emocionante e é mais vivido do que é em Portugal. Eu acompanho sempre o futebol português, tenho amigos a jogar em Portugal, principalmente no Sporting, e sigo para ver como eles estão a portar-se. Fico feliz quando eles jogam e gosto de ver amigos como o João Mário, o William ou o Adrien ter influência no futebol do Sporting. Por isso tenho saudades do meu país, tenho saudades de jogar no Sporting com os meus amigos e gostava de ser mais reconhecido em Portugal. Nunca joguei na equipa principal do Sporting, mas sinto saudades da formação. Isso sim. Mas de resto estou bem em Inglaterra.
 
Sente que está a cumprir o sonho de muitos jovens, é isso...
Sim, sim, exatamente. Sinto que estou a viver uma grande oportunidade.
 
O Liverpool dá-lhe tudo o que precisa para evoluir?
Sim, sem dúvida. Tem uma grande Academia, tem um grande treinador, jogo ao lado de grandes jogadores, por isso tenho tudo para evoluir. Não me falta nada.
 
E já agora considera que sair tão cedo ajudou ou prejudicou a sua evolução?
Nem uma coisa nem outra. Acho que cresci de outra forma. O futebol inglês não é fácil e é preciso muito para um jogador se habituar a este jogo. Sinto que estou mais maduro, melhorei muito fisicamente e sem dúvida que cresci como jogador.
 
Os primeiros tempos foram complicados?
Eu cheguei e tive logo uma lesão, fiquei sete meses parado por causa das costas. Mas no dia-a-dia não foi complicado, porque tive sorte: o Eric Dier estava aqui emprestado ao Everton, andávamos sempre juntos e ajudou-me muito. Ele fala um inglês perfeito, eu também falava bem, embora não fosse como agora, mas não conhecia ninguém e o Dier era uma mais-valia. Os primeiros tempos passaram-se melhor por causa disso, sem dúvida.


 
Já agora, quem são os seus amigos aí no Liverpool?
O Tiago Ilori, claro.
 
O regresso dele ao clube deve ter sido uma boa notícia para si, imagino...
Sim, sim, claro. Também foi muito bom termos jogado os dois na quarta-feira a titulares e as coisas terem corrido bem. O Tiago Ilori é um grande amigo. Passamos a vida juntos. Agora até está viver comigo porque as coisas dele, mobílias e roupas, ainda não chegaram de Birmingham. Mas mesmo quando for morar para casa dele, vamos continuar sempre juntos.
 
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Depois, como é natural, também tenho mais relação com os brasileiros, o Lucas Leiva, o Philippe Coutinho, o Roberto Firmino, e com os espanhóis, o José Enrique e o Moreno. Fazemos um grupinho, saímos juntos, vamos jantar a casa uns dos outros, enfim.
 
Falou que o Liverpool tem um grande treinador, como é o Jürgen Klopp?

É como as pessoas veem na televisão. É tão irrequieto entre nós como é publicamente. É um apaixonado que ama aquilo que faz. É muito emotivo e transporta isso para os treinos, para a forma como fala connosco e para a forma como explica o que quer de nós. É elétrico.
 
E é tão divertido como parece?
Completamente. É extremamente divertido. E nós divertimo-nos muito com ele. Diz piadas, brinca connosco, enfim. Ainda outro dia estávamos a fazer um exercício de troca de passes, o Jordan Ibe falhou um passe e ele parou o exercício para lhe ir lá entregar os óculos dele. São coisas assim, sempre pronto para brincar connosco.
 
O João sente que tem crescido com ele?
Sim, sem dúvida. Ele mudou a forma do Liverpool jogar. Com cada treinador aprende-se coisas novas, mas o Klopp já foi campeão alemão, já jogou a final da Liga dos Campeões, é um treinador que me passa muita experiência e eu tenho recebido muito dele.
 
Curiosamente no final do jogo com o Bournemouth uma das imagens que passou foi o Klopp abraçado ao João, a sorrir: sente que ele gosta de si?
Sim, acho que ele gosta de mim. Mas é como ele diz: eu sou vosso amigo, mas não sou o vosso melhor amigo. Mas sinto que ele gosta de mim.


 
Ele diz que é vosso amigo mas não é o vosso melhor amigo?
Sim, diz isso muitas vezes. É uma forma de dizer que é nosso amigo, mas é também o homem que manda e que toma as decisões. Sabemos que se tivermos algum problema ou dificuldade, ele está ali para nos ajudar. Mas depois tem de fazer as escolhas dele.
 
Já agora como tem sido voltar a treinar com o Gerrard?
Ele aqui é como um Deus. Já treinava com o Gerrard há cerca de três anos, mas é muito bom voltar a fazê-lo. Só de o ver jogar aprende-se com ele. Mas mesmo fora de campo é impecável, respeitador, tranquilo, dá-me conselhos, por isso é uma pessoa que sempre me ajudou.
 
O Deco ainda é o seu modelo futebolístico?
Sim, é. É o jogador que mais admiro, é a minha referência. Pela forma como ele jogava no FC Porto e no Barcelona, sempre o admirei.
 
Curiosamente no site do Liverpool você aparece comparado ao Deco...
É verdade. Para mim é lisonjeador. É sempre um grande elogio.
 
Mudando de assunto: o João sonha ir este ano aos Jogos Olímpicos?
Sim, claro. Já sonhava ir ao Europeu, não fui, mas gostava muito de ir aos Jogos Olímpicos. Vamos ver o que acontece.
 
Acha que ir para Inglaterra o prejudicou e ficou mais longe da vista?
Sim, concordo. Acho que me prejudicou um bocadinho. Mas enfim, não há nada a fazer. Agora tenho de jogar na equipa principal do Liverpool para mostrar a toda a gente que posso ir à seleção.
 
Quando olha para colegas seus da formação do Sporting, como o João Mário ou o William, que não só estiveram no Euro sub-21 como também já estão na seleção principal, não pensa que podia ser o João Carlos Teixeira a estar no lugar deles?
Não, não penso nisso, para ser sincero. Foi a minha escolha na altura e só tenho de olhar em frente. O que preciso é de crescer como jogador e de melhorar. Na altura transferir-me para o Liverpool foi uma boa oportunidade, pensei muito no passo a dar e não estou nada arrependido da decisão que tomei. A evolução que tive foi a que pensei.
 
Já me disse que no imediato quer jogar mais no Liverpool, mas olhando para o futuro, para daqui a quatro ou cinco anos, onde chegam os seus sonhos?
Gostava de estar aqui no Liverpool, a jogar todos os jogos, e gostava de jogar na seleção portuguesa.
 
Isso é mesmo amor ao Liverpool...

Sim, é normal. O que há acima de Liverpool? Saindo daqui, não é possível melhorar.
 
Ao Liverpool só lhe faltam os títulos...
(risos) Sim. Mas agora temos o Klopp.