Leandro Silva, médio de 20 anos do FC Porto B, anda nas bocas do futebol europeu: na Premier League Internacional Cup fez um hat-trick, mas fez sobretudo um grande golo do meio campo, num chapéu perfeito.
 
Em entrevista ao Maisfutebol, o jovem jogador recorda a carreira desde que começou com nove anos a fazer mais de cem quilómetros por dia para ir treinar à Constituição.
 
Confessa-se como portista ferrenho e lembra que quando a filha nasceu já estava em Lisboa para defrontar o Benfica: preferiu ficar para jogar o clássico.
 
O Leandro está há dez anos no FC Porto. Como é que tudo começou?
Eu sou de Castelo de Paiva e jogava no clube da minha terra, o Paivense. Vim para o FC Porto com nove anos. Os treinos na altura eram na Constituição.
 
Foi viver para o Porto?
Não, a minha mãe levava-me todos os dias aos treinos, esperava por mim no carro duas ou três horas, o tempo que o treino durasse, e depois voltávamos. Estudava em Castelo de Paiva, às seis da tarde saíamos para o Porto e chegávamos a casa às dez e tal da noite.
 
Foi um grande sacrifício seu e da sua família...
Claro. Não é fácil todos os dias ter de fazer cento e tal quilómetros. Sobretudo quando somos miúdos, saímos da escola cansados e ainda temos cem quilómetros pela frente. Mas não me arrependo de nada. Estar no FC Porto sempre foi um orgulho e espero agora ser recompensado pelos sacrifícios que fiz em miúdo.
 
Nessa altura tinha dias em que não lhe apetecia ir treinar ao Porto?
Não, não, não. Sempre foi um orgulho. Por ser o FC Porto, por ser o clube que é e por ser o meu sonho. Nunca me passou pela cabeça desistir.


 

Imagino que em Castelo de Paiva fosse visto como um miúdo especial...
Sempre fui bem recebido pelas pessoas de Castelo de Paiva, é verdade. Sempre me admiraram e tiveram respeito por mim.
 
É um orgulho para as pessoas da terra?
Às vezes sinto que olham para mim de maneira diferente, mas isso não me faz nem mais nem menos que os outros. Sou a pessoa que sempre fui e é assim que quero ser olhado, porque é a pessoa que eu sou.
 
Na escola todos os miúdos queriam ficar na sua equipa, não?
[risos] Sim, sim. Depois quando vim para o FC Porto toda a gente me falava do clube, perguntavam-me como é que era, se tinha sido bem recebido. É normal. Estava no Paivense, o clube da terra, pequeno, e mudei para o clube que víamos jogar na televisão.
 
Foi o Leandro que tomou a iniciativa de ir aos treinos de captação do FC Porto?
Não. Recebi uma chamada para ir às captações ao Vitalis Park. Estávamos lá cento e tal miúdos. Na sexta-feira treinámos todos, no sábado cortaram alguns, no domingo treinámos vinte e tal e depois ficaram cinco. Disseram que me diziam alguma coisa e ligaram logo segunda-feira para ir assinar contrato.
 
Nessa altura não era médio...

Eu cheguei ao FC Porto como avançado. No primeiro treino, por ser fisicamente forte, o mister Álvaro Silva colocou-me a central. Depois o mister Vítor Pereira passou-me para lateral direito. Mais tarde, já com 15 anos, o mister Rui Gomes experimentou-me a pivô a meio da época, num treino, e nunca mais saí dessa posição. Acho que sou polivalente...
 
Agora que já é sénior, já se separou de Castelo de Paiva?
Estava a viver com a namorada em Valadares, mas fomos pais e para ela não ficar sozinha, para ter apoio da família durante as minhas viagens, voltámos para Castelo de Paiva.


 
Ser pai mudou a sua vida?
Completamente. No dia em que a minha filha nasceu, estava a jogar o clássico com o Benfica. O FC Porto perguntou-me se queria ir assistir ao parto, mas como já estava em Lisboa, e como o jogo era com o Benfica, quis ficar e jogar. No fim do jogo fui para o controlo antidoping e nem me estava a lembrar do parto. Só depois é que pedi ao roupeiro para ir buscar o telemóvel e quando olhei para ele já tinha a fotografia da minha filha.
 
Foi um choque?
Não. Foi a melhor coisa da minha vida. Mudou tudo. Mesmo enquanto profissional de futebol. É normal. Sou pai e tenho uma família para sustentar. Se calhar os rapazes da minha idade querem aproveitar a juventude, eu tive de me deixar disso e dedicar-me à minha filha.
 
Para terminar, onde é que o Leandro se vê com 26 anos?
Na equipa principal do FC Porto.
 
Com que número nas costas?
Isso é indiferente. Quero é jogar na equipa principal do FC Porto. Foi o que sempre sonhei desde pequenino.
 
Imagino que seja portista...
Sou portista desde que nasci. O meu padrinho jogou no FC Porto até júnior. O meu avô acompanhou o meu padrinho como os meus pais me acompanharam a mim e por isso o FC Porto é um clube especial aqui dentro de casa.

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