Fernando Fonseca chegou ao FC Porto com tenra idade, pensou em sair do clube quando não jogava, falhou um Europeu de sub-19 para logo depois ser chamado para os Jogos Olímpicos, caminha a passos largos para a equipa principal dos dragões.

O lateral direito de 19 anos tem já uma história para contar e não se esquece das dificuldades que encontrou pelo caminho. É um jovem que sonha sem fechar os olhos, um homem que se forma sem perder a noção da realidade.

A certa altura, quando fala sobre tatuagens, reconhece que tudo pode mudar num instante e passar de grande promessa a um anónimo trabalhador de uma qualquer loja.

Já se percebeu que a sua família é muito importante para si.

«Sim, a minha família é tudo para mim. Tenho o sonho de ser jogador mas um muito maior: ver a minha família feliz. Luto pelo meu sonho e pelo sonho da minha família.»

Por falar nisso, tem várias tatuagens, o que representam?

«Adoro tatuagens, se pudesse cobria todo o meu corpo com tatuagens, da cabeça aos pés. Mas tenho a noção que isto de um dia para o outro pode correr mal, hoje estou aqui mas amanhã posso estar a trabalhar numa loja e lá não me aceitariam assim.»

As tatuagens que já tem são sobre o quê?

«Eu faço do meu corpo a minha história. Se tudo correr bem, quero colocar no corpo mais vitórias e mais conquistas. Sou sincero: quando disse à minha mãe que ia fazer a primeira tatuagens, ela disse que não, mas eu disse-lhe que era para ela e assim ela concordou. Depois foi a segunda, ela ficou surpreendida e eu disse-lhe que era o olho dela. Depois apareci com as assinaturas das minhas duas irmãs, depois uma coroa a dizer mãe em baixo.»

Quantas têm nesta altura?

«Agora tenho 15 ou 17, creio. Tem de ser um número ímpar, porque número par dá azar. Entretanto tenho três que não são sobre a família, são coisas que me definem: Never give up (nunca desistir), Veni Vidi Vici (vim, vi e venci) e Omnia vincit amor (o amor supera tudo).»

Disse que são coisas que o definem, porquê?

«São palavras que me caraterizam, até por uma fase que passei aqui no FC Porto, em que não jogava. Foi aí que a minha vida mudou completamente, nos sub-17. Chegava em casa todos os dias a chorar, a dizer à minha mãe que me queria ir embora, que não estava bem, não era feliz. Fomos tentar arranjar empresários, na altura surgiu um mas o padrasto parece que adivinha e disse que ele não era de confiança. E não era. Foi aí que decidi: vou ter uma oportunidade e vou agarrá-la.»

E essa oportunidade chegou quando?

«Na primeira fase do campeonato de sub-17 fiz dois ou três jogos, na segunda fase mudou, acabei o ano como titular e como jogador da seleção. Infelizmente, fiquei doente e falhei o Euro sub-17. Se há pessoa a quem devo muito foi também ao mister Folha, que colocou o pescoço em jogo por mim. Eu nos sub-15 não jogava, devido à escola e por culpa minha, que não organizei bem as coisas. Mas o mister confiou em mim, manteve-me na equipa e acho que justifiquei.»

Ainda vive com a sua mãe e as suas irmãs?

«Nesta altura não, estou a morar na Boavista com a minha namorada, deixei lá a minha mãe. Ela não queria que eu levasse a minha cama, ficou triste, mas pronto, teve de ser.»

Nesta altura tudo lhe corre bem, mas é importante saber que as coisas podem mudar?

«Nunca sabemos o dia de amanhã, por isso é que aproveito todos os dias ao máximo. Também é por isso que não encho o meu corpo de tatuagens como queria, não vou agora atirar-me da ponte como ia, porque me pode correr mal. Sei que aquele Fernando que viam como futuro jogador pode ser um Fernando que amanhã esteja numa loja. Não quero desperdiçar o meu futuro por coisas estúpidas.»

Que sacrifícios fez na adolescência para chegar a este nível?

«Lembro-me por exemplo de andar na escola de Olival e fazerem uma visita de estudo que passava por dormir num Convento. Era algo a que eu queria muito ir, seria uma grande experiência, mas eu sempre coloquei o futebol à frente. Tenho um amigo que era dessa turma, o Hélder Cruz, que está agora no Desp. Aves. É um grande jogador e ainda pode chegar longe. Para atingir o topo, um jogador tem de abdicar de muita coisa. Tem de acordar por exemplo às sete da manhã para treinar, tem de deixar a mãe e as irmãs em casa a um domingo, que é um dia de família, para jogar, etc.»

Suspendeu os estudos no 11º ano. Era impossível continuar?

«Muito difícil. Os treinos passaram a ser de manhã, ou final da manhã, as aulas começavam às 14 horas, era muito complicado e decidi parar. Mas hoje arrependo-me, os estudos são fundamentais e se der para voltar a pegar nos livros, eu pego.»

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