Fernando Fonseca é a grande novidade na lista de convocados do FC Porto. Sem o castigado Maxi Pereira, Nuno Espírito Santo abdicou de Miguel Layún e pode lançar o jovem lateral direito frente ao Marítimo. Tem 20 anos e fez 30 jogos pela equipa B na presente época. Em dezembro de 2016, apresentou-se em longa entrevista ao Maisfutebol. Ela aqui fica:

Fernando mergulhava de cabeça no «caudal sagrado» do Douro. Menino rebelde, menino da Sé e da Ribeira, desconhecia por certo a expressão eternizada por Miguel Torga. Isso não era importante.

«Eu procurava a adrenalina, a adrenalina pura», conta Fernando, Fernando Fonseca, lateral direito do FC Porto ao Maisfutebol. Uma conversa longa, repleta de revelações, a começar numa viagem às águas tumultuosas do rio e a terminar nos dias de agora.

E o agora é 2016, ano de sonho para Fernando. Cresceu nos Sub19 do FC Porto, entrou nas escolhas do selecionador Rui Jorge para os Jogos Olímpicos, impôs-se na equipa B azul e branca – 12 jogos, 1000 minutos na II Liga – e já foi chamado por Nuno Espírito Santo para os 18 eleitos num jogo da Taça da Liga.

«Sou um lateral de raça, não faço uma finta. Adoro laterais como João Pinto ou Maxi Pereira». Fernando, 19 anos, acumula genuinidade e paixão nas palavras, só pensa no FC Porto.

«Quero muito isto, quero muito jogar no Dragão, quero muito ser o próximo lateral direito do FC Porto».

Fernando Fonseca tem contrato até 2020, recentemente renovado, e um percurso para cumprir. Trabalha às ordens de José Ferreirinha Tavares, é chamado pontualmente por Nuno, faz parte do lote de indiscutíveis da seleção de Sub21.

Esta é a parte visível de um menino diferente. Pelo passado, pelas imposições de uma vida dura, iniciada na Ribeira e continuada em Crestuma, ironia das ironias, ali a dois passos do Centro de Treinos do Olival.

A bola sempre esteve com ele. No caminho para a escola primária, nos primeiros jogos de futsal, na mudança para o Boavista e no salto que julgava impossível para o FC Porto.

Fernando é um rapaz de sangue quente, admirador de futebolistas altruístas, antes quebrar do que torcer. «No youtube não procuro vídeos do Ronaldo e do Messi». Não, Fernando prefere Jaap Stam, Javier Zanetti ou o truculento génio de Eric Cantona.

O rapaz nunca está chateado e jura determinação em orgulhar a família. Coleciona tatuagens a pensar na mãe e nas irmãs, reverencia o padrasto, não esquece o pai, serve apaixonadamente o clube. «Quero estar representado no Museu, vou lutar por isso».

Longe, distantes, vão os dias em que pensou desistir. Não era opção prioritária nos Sub17. «Chegava a casa todos os dias a chorar, a dizer à minha mãe que me queria ir embora». A mãe não deixou, o padrasto não deixou, Fernando passou de dispensável a indiscutível.

António Folha e Bino moldaram-lhe o comportamento em campo, Fernando Fonseca cresceu, passou a ser definitivamente lateral direito e a sua história passou a acumular minutos e exibições gratificantes.

Saiu de casa da mãe, frequenta o balneário da equipa A, ostenta no currículo quatro presenças no torneio olímpico de futebol, é uma das promessas mais seguras do FC Porto, mas continua a ser o mesmo Fernandinho que cresceu entre a Rua Escura e Crestuma.

O defesa já não salta do tabuleiro inferior da Ponte de D. Luís para as águas turvas do Douro. A adrenalina, essa, continua a correr-lhe nas veias, pintada de azul e branco.

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[artigo original publicado a 26 de dezembro de 2016]