Os quatro golos apontados nesta temporada conferem a Frederico Venâncio a legitimidade de reclamar para si o raro estatuto de defesa-goleador. Em pouco mais de meia época, o capitão do V. Setúbal já faturou tantas vezes como no resto da carreira. «Se me perguntassem no início da época se eu esperava ter quatro golos a meio da época, eu dizia logo que não acreditava», admite.

Em conversa com o Maisfutebol, Venâncio falou sobre o momento que atravessa, os objetivos da equipa para o que resta da época e, em vésperas da final four da Taça da Liga, expressa o desejo de erguer o troféu na Praça do Bocage depois de ter assistido a duas celebrações quando ainda estava na formação dos sadinos. «Em 2005 [Taça de Portugal] era apanha-bolas nos jogos em casa», recorda.

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Só 23 anos, mas é capitão do V. Setúbal e já leva mais de 100 jogos desde a estreia. Não se sente já quase um veterano?

Um veterano [risos]? Isso não, fogo! Ainda só tenho 23 e vou fazer 24. Sou um jovem! Estes jogos todos dão-me alguma maturidade, experiência a mais, mas sentir-me um veterano, não.

Marcou ao Benfica e ao Sporting nesta época. Qual foi o golo mais especial?

Os dois! São duas grandes equipas portuguesas e marcar um golo nesses dois jogos é muito difícil, ainda para mais pela posição que ocupo. Foram os dois especiais porque ajudaram a equipa a conseguir bons resultados, que é o mais importante.

Já tem quatro golos nesta temporada, tantos quanto os que tinha marcado desde que se estreou como sénior.

Exacto.

Já que lhe estou a tomar o gosto [aos golos], gostava de continuar assim e a ajudar a equipa»

E fazer uma perninha lá na frente?

[risos] Temos pontas de lança para isso. É claro que estou num bom momento e as coisas têm aparecido. Sinceramente, é uma situação que não esperava. Se me perguntassem no início da época se eu esperava ter quatro golos a meio da época, eu dizia logo que não acreditava. Mas é uma situação que me deixa contente. Claro que estes números, e comparativamente ao total das outras épocas, deixam-me muito contente.

Reconhece que são números atípicos.

Atípicos no meu caso. Se pudesse marcar quatro golos todas as épocas, seria muito bom. Mas há centrais muitos centrais que têm esses registos. No meu caso é atípico mas, já que lhe estou a tomar o gosto, gostava de continuar assim e a ajudar a equipa, que é o melhor.

A celebrar o golo apontado ao Sporting na Taça da Liga. O V. Setúbal venceu por 2-1 e afastou os leões da competição

Há aqui um misto de uma dose de sorte com trabalho nos treinos?

Treinamos essas situações e cada jogador sabe o papel que tem de fazer. Mas é claro que às vezes também é uma questão de sorte, como aconteceu com o meu último golo, contra o Nacional: faço o movimento habitual e a bola veio ter comigo depois de uma disputa de bola entre o Fábio [Cardoso] e um adversário. Lá está: é uma questão de sorte, mas também de treino. O segredo está no trabalho que temos feito ao longo desta época e principalmente nos treinos.

José Couceiro dedica mais tempo às bolas paradas?

Também já apanhei treinadores que davam importância a essas situações. Ele dá mais porque sabe que a maior parte dos jogos resolvem-se pelas bolas paradas, seja um canto, um livre direto, um livre indireto ou um próprio penálti. Às vezes, num jogo em que as coisas estão complicadas, uma bola parada pode dar-lhe um novo rumo e catapultar a equipa que marca para fazer uma melhor exibição. Trabalhamos essas situações seriamente e não falo em termos ofensivos. Também trabalhamos esses aspetos defensivamente porque sabemos que o que fazemos às outras equipas elas também nos podem fazer.

Nesta época tem alternado na defesa com Vasco Fernandes e Fábio Cardoso. Esta é a concorrência mais forte que já enfrentou no Vitória?

Sim. Somos quatro centrais que trabalhamos de forma muito séria: eu, o Fábio, o Vasco e o Pedro Pinto. São centrais com qualidade. É claro que este ano está a levar-me a dar sempre o melhor em todos os treinos. Isso é bom para mim e para eles. É uma competitividade saudável, positiva, que nos obriga a estar sempre muito concentrados e a estar no limite. Quem tira proveito disso é a própria equipa, que sai a ganhar.

Esta tem sido a minha melhor época, não só pelos golos mas em termos de exibições»

Sente que tem evoluído?

Certamente! É como disse: essa competitividade obriga-me a dar o meu melhor e a estar muito concentrados. Ajuda-me a evoluir.

Ainda jogou com o Fábio Cardoso na formação do Benfica, certo?

Sim. Lembro-me de jogarmos no Benfica em juniores de segundo ano. Ainda fiz alguns jogos com ele. Acho que ainda chegámos a formar dupla.

E este reencontro?

É um bom reencontro. Não só com ele como com o próprio Varela. Fomos colegas não só no Benfica, como na seleção. São sempre situações que nos marcam. Estarmos neste momento aqui no Vitória a partilhar a mesma camisola e a mesma glória que este clube tem é marcante.

Nota-se que sente o Vitória de forma especial…

Sim! Desde criança que aprendi a gostar do Vitoria, clube da cidade onde cresci. Formei-me aqui como jogador e pessoa. O Vitoria sempre me acompanhou nestes anos todos e aprendi a amá-lo de uma forma especial.

Que balanço já pode fazer desta época quer a nível pessoal quer em termos coletivos?

Em termos coletivos, o balanço está a ser positivo: 22 pontos na primeira volta é sempre muito bom. Ficamos muito mais perto de atingir o nosso objetivo. Estamos também na meia-final da Taça da Liga e gostaríamos de estar também na meia-final da Taça de Portugal, mas não conseguimos. Mas estar na Taça da Liga também é muito positivo. Individualmente, devo confessar que esta tem sido a minha melhor época, não só pelos golos mas em termos de exibições.

Taça da Liga…

Sabemos que temos um adversário difícil, que é o Sp. Braga, mas somos um clube com tradição. Ganhámos a primeira edição e queremos chegar à final para dar uma alegria a estes adeptos, este clube e esta cidade.

Era importante para o Vitória ganhar um troféu nove anos depois do último?

É importante todos os anos. Este, se calhar, é mais porque estamos mais perto de o conseguir.

Esses 22 pontos com que o V. Setúbal fecha a primeira volta são os mesmos que a equipa tinha na época passada na mesma altura. Curiosamente, o contexto do mercado também foi semelhante, com dois jogadores importantes a saírem [Suk e Rúben Semedo]. Agora foram Geraldes e Ryan Gauld, que estavam a ser titulares. O que se passou no final da última temporada, com a manutenção a ficar garantida só na última jornada, serve de aviso?

Serviu-nos de lição e para ganhar experiência para reagirmos de maneira diferente. Esta altura de janeiro é sempre complicada para equipas como o V. Setúbal, onde há jogadores que sobressaem na primeira volta e acabam por sair. É bom para eles, mas abre portas para os que cá ficam, que também têm qualidade. Contra o Nacional, o Arnold [extremo] teve a oportunidade de jogar a lateral direito e vai dar o melhor para aproveitá-la.

Depois de passarmos essa barreira [dos 30 pontos] as coisas poderão acontecer mais naturalmente. Se ficássemos na primeira metade da tabela seria muito bom para o clube»

Mas sente que o plantel é mais equilibrado este ano? Dá mais garantias mesmo após as saídas?

Sim. Temos uma equipa com muitas opções, com muitos jogadores jovens. E até os jogadores que vieram da formação têm potencial e o mister está a saber aproveitar todos os jogadores para formar um plantel forte. Ele fez a equipa e sabe o potencial que esta equipa tem e nós também o sentimos e acreditamos que podemos fazer coisas boas.

Onde acha que o V. Setúbal pode chegar? José Couceiro tem tido que o objetivo é a manutenção, mas não olham mais além disso?

Para já estamos focados jogo a jogo. Não queremos pensar muito à frente para depois não acontecerem situações desagradáveis. O primeiro objetivo é garantir a manutenção o mais depressa possível.

Fala-se muito nessa barreira dos 30 pontos. Se essa meta for atingida cedo, o cenário de apontar à primeira metade da classificação parece-lhe viável?

Acredito que mesmo este ano, com a competitividade do campeonato, não sei se serão suficientes os 30 pontos. Mas depois de passarmos essa barreira as coisas poderão acontecer mais naturalmente. Os jogadores podem jogar com mais tranquilidade. Não é que haja mais pressão agora, mas se calhar os jogadores podem desinibir-se mais. Já não há aquela preocupação de estarmos numa situação complicada, em que as coisas não saem bem e os jogadores começam a perder confiança. Se ficássemos na primeira metade da tabela seria muito bom para o clube.

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