O anúncio da morte futebolística de Kaz Patafta foi um exagero. Aos 26 anos, o outrora prodígio australiano chega ao Laos e propõe-se a disputar o próximo Campeonato do Mundo por este país asiático.

Uma década após ter sido contratado pelo Benfica, Kaz volta a sonhar e a fazer sonhar.

«A minha mãe nasceu no Laos e quis aproveitar essa ligação de sangue. Assinei por um clube forte no país [Lanexang United] e espero estar nos próximos dois jogos da seleção», diz Kaz Patafta ao Maisfutebol, a partir da capital do Laos, Vientiane.

Depois de eliminar o Camboja na primeira fase de qualificação asiática, o Laos (178 no ranking FIFA) defrontará Myanmar a 11 de junho e o Líbano a 16 do mesmo mês. A Coreia do Sul e o Kuwait são os restantes adversários.

«Continuo a ter um enorme desejo dentro do relvado. Fui contratado por um clube ambicioso e jogar na qualificação para o Mundial era tudo o que eu precisava para me reencontrar como futebolista. O futebol está a desenvolver-se muito rapidamente na Ásia e no Laos, estou entusiasmado e quero ajudar em tudo o que for possível»

Imagens de Kaz Patafta no Benfica:



De esquerdino genial a flop oficial. Em poucas épocas, Kaz Patafta provou os lados mais extremados do futebol. Depois da capitanear a seleção da Austrália de sub17 no Mundial2005, o médio foi disputado por vários emblemas europeus e escolheu o Benfica.

Ficou dois anos nos sub19 das águias, treinou com a equipa principal, participou em três amigáveis e regressou à Austrália. Cinco anos de lesões e frustrações atiraram-no para o anonimato e o curso de Direito. Formou-se na Universidade de Deakin e fundou a própria empresa. 

«Estive dois anos parado, mas voltei a jogar num clube semi-profissional e a vontade foi crescendo. Da Austrália passei para a Malásia e depois para a Tailândia, no início do ano. Até me surgir esta fantástica possibilidade de jogar no país onde nasceu a minha mãe. Quando representar o Laos vou fazê-lo com total paixão e responsabilidade».

Kaz Patafta sonha com o Mundial de 2018, na Rússia, mas até já esteve muito perto de jogá-lo em 2006. Ange Postecoglou, antigo selecionador nas seleções jovens dos Socceroos, considerou-o «o jogador tecnicamente mais perfeito» que alguma vez treinara.

Guus Hiddink pensou mesmo em levá-lo ao Campeonato do Mundo da Alemanha.

«Estive no estágio de preparação, ao lado do meu ídolo, Harry Kewell. Na altura era um miúdo de 18 anos, acreditava que o futuro me ia entregar tudo numa bandeja. No futebol as coisas não funcionam assim»
.

PERCURSO DE KAZ PATAFTA:

2004/2005: Instuto de Programa Desportivo da Austrália
2005 a 2007: Benfica
2007/08: Melbourne Victory (Austrália)
2008 a 2012: Newcastle Jets (Austrália)
2013: Canberra FC (Austrália)
2014: Sydney FC (Austrália)
2015: Khon Kaen FC (Tailândia)
2015: Lanexang United (Laos)
 

Kaz Patafta (Newcastle Jets) a perseguir David Beckham

O Laos é um país asiático com 6,5 milhões de habitantes. Tem fronteiras com outros cinco Estados: China, Myanmar, Vietname, Camboja e Tailândia. A capital é Vientiane (800 mil pessoas) e a independência (da França) foi conseguida a 19 de julho de 1949.

A seleção de futebol nunca esteve em nenhum Mundial, mas em 2014 participou pela primeira vez na AFC Challenge Cup, uma prova que dá acesso à Taça Asiática. O Laos conseguiu empatar contra o Afeganistão (0-0) e perdeu contra o Turquemenistão e as Filipinas.  

Os futebolistas mais famosos do país são Visay Phaphouvanin (melhor marcador de sempre) e Billy Ketkeophomphone, avançado do Tours, de França. Mas agora há Kaz Patafta.

Resumo do Laos-Afeganistão na AFC Challenge Cup:

 

No Benfica, Kaz Patafta foi treinado por Rui Vitória e Bruno Lage. «Criei uma relação muito forte com os dois e continuo a falar regularmente com o Bruno», diz Kaz, desde o longínquo Laos.

«As minhas memórias mais fortes estão relacionadas com os treinos e os amigáveis no plantel principal, claro. Só posso agradecer tudo o que as pessoas do Benfica fizeram por mim. O que correu mal foi da minha responsabilidade».

E o que correu, afinal, assim tão mal?

«Quando fui emprestado a um clube australiano, o António Carraça [à época responsável pelo futebol de formação] aconselhou-me a não ir. Tinha razão. Agora sei que a mudança não me ajudou a desenvolver como pretendia, mas na altura pareceu-me a melhor opção».

Kaz Patafta está na corrida para o Mundial. O próximo passo é voltar a ser genial.