Deixou Portugal em 2013 para embarcar com Vítor Pereira na aventura do Al-Ahly da Arábia Saudita. Julgou que voltaria, mas começa a acreditar que não. Márcio Mossoró está na segunda temporada no Basakhesir, da Turquia. Está feliz.

À margem do comentário sobre a rivalidade entre o Sp. Braga e o Benfica, que viveu por dentro nas cinco temporadas em que vestiu a camisola do «Arsenal do Minho», o brasileiro, agora com 32 anos, abordou outros temas, em entrevista ao Maisfutebol, entre passado e presente, sempre com o futebol a dominar.

Da passagem pelo Médio Oriente ao carinho que ainda sente dos adeptos bracarenses, mas que, acha, não é partilhado no interior do clube que foi seu. Passando, lá está, pelo cenário atual, em que morde os calcanhares aos grandes da Turquia e em que se sente, em alguns pontos, num momento de forma como nunca encontrou em Portugal.




Como está a correr a experiência na Turquia? Que balanço faz deste ano e meio no Basakhesir?

Estou a gostar bastante. Está a correr muito bem. Estamos igualados com o Galatasaray e o Akhisar no terceiro lugar e estamos numa fase muito boa. Vamos com quatro jogos sem derrotas. Tem corrido super bem. Esperava que a adaptação fosse mais difícil, mas todo o mundo recebeu-me super bem e isso ajudou a que o meu futebol pudesse render rapidamente. O primeiro ano foi bom e este segundo está a correr ainda melhor.

Acha que está num dos melhores momentos da carreira, agora que tem 32 anos?


Estou num momento bom. Tive outros brilhantes no Sp. Braga, mas agora tenho mais idade e mais experiência. Percorri o futebol noutros países e acredito que estou muito mais maduro. Além disso, fisicamente e taticamente, acho que estou melhor do que em Braga.

Que diferenças principais encontra entre a Liga turca e a portuguesa?

No campeonato daqui o jogo é mais direto. Gosto mais do futebol de Portugal, sinceramente. Aqui é jogo mais rápido, menos técnico. Também é bom, aprendi bastante. Permite-me, também, ensinar bastante aos mais novos. Há três equipas grandes como em Portugal, que discutem o campeonato. Uma vez ou outra aparece um Trabzonspor ou um Bursaspor que se intromete, mas é raro. Nós também estamos a tentar entrar no meio deles. A maior diferença é que acho que as equipas médias são muito mais fortes do que em Portugal. Os três grandes de Portugal aqui teriam mais trabalho…

Deixou o Sp. Braga em 2013 para jogar na Arábia Saudita, no Al-Ahly. Foi na altura certa?

Creio que sim. Estava na hora de dar uma saída…Quando surgiu a proposta quis muito ir e trabalhar com o Vítor Pereira foi um ganho muito importante para mim. Gostei muito dele, é um treinador espetacular. Ainda não o defrontei aqui na Turquia, mas já estive bastantes vezes com ele a jantar, por exemplo. Ficamos com uma relação de amizade.

Do que viu da Liga da Arábia Saudita, pareceu-lhe um campeonato com potencial para crescer?

Não acredito. Acho que vai ficar por aquilo mesmo. Tem muitas limitações, como por exemplo com jogadores estrangeiros que impossibilitam um crescimento mais rápido. Mas tem as suas partes boas. É bom para a seleção de lá, por exemplo.

Pelo que dá para perceber no seu discurso a mudança para o Al-Ahly foi uma decisão muito bem pensada…

Pelo contrário. Foi numa boa altura, sim, e quis muito ir, sim, mas tenho de admitir que fiquei surpreendido por deixar o Sp. Braga. Houve outras alturas, antes disso, em que achava que podia sair e não se concretizou. Naquele ano achava que ia ficar, até já estava de férias quando surgiu a proposta. Não foi nada planeado. Aliás, gostava de me ter despedido de outra forma dos adeptos. Tenho um carinho muito grande por eles, ainda hoje recebo muitas mensagens.

Gostava de voltar um dia?

Está a ficar difícil. O tempo passa e a gente sabe que as coisas nem sempre são como gostaríamos que fossem. Depois de sair do Sp. Braga vi que as coisas não eram como eu imaginava. Gostava de voltar, mas, neste momento, não acredito que seja possível. Não está tão fácil como eu imaginava que fosse. Houve muitos que fizeram muito menos do que eu pelo Sp. Braga e voltaram. Eu, quando saí, sempre achei que um dia ia voltar, mas agora acho que não. Depois de sair a ligação perdeu-se. Senti que não era lembrado. Não estou a falar dos adeptos, deles só tenho coisas boas a dizer. Estou a falar de dentro.

Mas já tentou voltar?

Sim. Quando saí do Al-Ahly, antes de ir para a Turquia, fiz questão que houvesse contactos para perceber a situação. Fiz tudo. Só faltou oferecer-me…Se fosse pelos adeptos e pela minha vontade tinha voltado, nessa altura. Mas o Pedro Pereira, que era diretor desportivo, disse-me que não entrava nos planos do treinador [ndr. Sérgio Conceição]. Foi aí que comecei a ver que as coisas não eram como imaginava. Até porque a minha saída foi boa para o Sp. Braga na altura. Puderam encaixar algum dinheiro. Pensei que poderiam ter isso em consideração, mas percebi que não me viam da mesma forma.

Ficou magoado com o clube?

Fiquei muito magoado, muito triste e frustrado. Estive cinco anos no Sp. Braga e dei tudo sempre. Dei sempre tudo pelo melhor para o clube. Acho que consegui ajudar a valorizar o clube e a ser mais respeitado. Esperava ser visto de outra forma pelas pessoas de dentro.

Antes de consumar a saída, nomeadamente noutros defesos, teve outras oportunidades para rumar a outras paragens?

Houve outras abordagens, mas nunca apareceu algo real. Pelo menos que tenha chegado a mim. Mas hoje agradeço a Deus por ter sido assim. Sinto-me feliz, vim para a Turquia com um contrato de um ano, já renovei por dois e aqui sinto-me valorizado. Mais do que no Sp. Braga.