Parece impossível, por estes tempos, ver outro campeão em França que não o Paris Saint-Germain, uma das equipas que mais investe no futebol. Se, em 2017, a festa teve outros tons, o mérito também é de um português. Leonardo Jardim levou o Mónaco ao título francês, com um campeonato irrepreensível praticamente de início a fim.

De caminho, ainda brilhou na Liga dos Campeões, chegando às meias-finais, depois de deixar para trás o Manchester City de Guardiola ou o Borussia Dortmund. «Foi um ano que permitiu uma grande visibilidade do meu trabalho», assume Leonardo Jardim, treinador do ano para o Maisfutebol.

Nesta pequena conversa com o nosso jornal, faz o balanço dos pontos que marcaram o seu ano, desde a festa de maio à perda de várias referências no verão, o que leva ao início de um novo ciclo. Jardim confessa-se preparado para começar de novo e motivado para tentar, quem sabe, repetir mais à frente os feitos de um inesquecível 2017.

Como enquadra o ano de 2017 na sua carreira, foi o melhor?

Acho que foi um ano que permitiu uma maior afirmação em termos nacionais e, principalmente, internacionais. Apesar de em 2015 ter chegado aos quartos de final da Champions League, este ano ter chegado às meias-finais foi um patamar que deu muita visibilidade ao nosso trabalho. E também a vitória no campeonato francês. Em termos internacionais foi um ano que permitiu uma grande visibilidade ao meu trabalho e da minha equipa técnica.

O que acha que fez mais pela sua imagem, a carreira na Liga dos Campeões ou o triunfo no campeonato?

O conjunto das duas veio valorizar muito a minha imagem. O campeonato em França, porque tive um grande reconhecimento. O Mónaco ganhou o campeonato contra um grande favorito, não era a equipa que apostou mais para ser campeão. Éramos um outsider e conseguimos ganhar o campeonato. Mas a Champions, pronto, é uma competição em que chegar às meias-finais é sempre altamente prestigioso. Mesmo no nosso país há poucos treinadores que jogaram os quartos de final e umas meias finais da Champions. Em termos internacionais isso permitiu uma grande valorização.

Honestamente, no início da época achava possível bater o PSG?

O campeonato começou bem. Conseguimos reforçar a equipa, ao contrário de outros anos. Conseguimos meter alguns jogadores de qualidade, conseguimos comprar o Mendy, o Sidibé e o Glick, que eram jogadores de alguma qualidade. Houve também o regresso de empréstimo do Falcao. Isso deu outra consolidação à equipa. Começámos muito bem o campeonato e em termos internacionais conseguimos a entrada na fase de grupos da Champions, eliminando Villarreal e Fenerbahce. Aí já deu para ver que a equipa estava competitiva. A pré-temporada também mostrou grande qualidade. Depois, no início do campeonato ganhamos ao PSG em casa, 3-1, e a partir daí tínhamos alguns dados que nos permitiam dizer que poderíamos lutar por uma conquista interna e foi isso que acabou por acontecer.

Acha que conseguiu acabar com a ideia de ser um treinador defensivo?

Com certeza. Não só este ano, mas ao longo dos últimos anos, temos sido uma equipa que tem feito muitos golos. No ano passado bateu o recorde de muitos anos do campeonato francês no número de golos. Mesmo em termos europeus foi das equipas mais concretizadoras e isso permitiu que as pessoas pudessem ver bom futebol e conseguíssemos bons resultados. Temos de saber rentabilizar aquilo que temos e procurar bons resultados.

Estava ciente que ia perder tantos jogadores no verão?

Sim, com certeza. O Mónaco vive de um projeto simples: tem necessidade de vender jogadores. Já no primeiro ano tinha perdido o James e o Rivière, jogadores importantes. No segundo o Martial, Carrasco, Kurzawa... Depois chegou o ano em que não perdemos ninguém e apostámos: fomos campeões. Este ano sabíamos que com este sucesso desportivo íamos valorizar muito os nossos jogadores e algum ia acabar por sair. Sabemos que este ano é outra vez de equilíbrios. Voltar a trabalhar com jogadores que estavam emprestados, que têm talento mas precisam de passar ainda por uma fase de aprendizagem para chegarem ao nível que pretendemos.

Acredita que possa ser cíclico, ou seja, que brevemente o Mónaco pode voltar a segurar os seus talentos e conquistar o título em França, sem descartar já este ano, como é óbvio?

Depende. O PSG hoje em dia é das equipas que mais apostam. Não só em França, em todo o mundo. Neste verão foi das equipas que mais investiu em jogadores e tem como objetivo não só ganhar o campeonato francês mas a própria Liga dos Campeões. Esse é que é o grande objetivo do PSG. Sabemos que teremos sempre um grande adversário pela frente. Para ganhar em França é preciso ser uma super equipa. Não chega ser uma boa equipa.

Este projeto do Mónaco ainda o motiva ou gostava de, em breve, tentar outras coisas?

O projeto do Mónaco motiva-me porque permite-me treinar ao mais alto nível. Mesmo com esta estratégia de venda de jogadores, o meu balanço é extremamente positivo. Vejo poucos treinadores na Europa que nos últimos três anos tenham jogado uns quartos de final da Champions, umas meias finais, tenham sido campeões no seu país. Por isso acabo por conciliar estas duas ideias: estar numa equipa altamente competitiva, que tem estado ao mais alto nível nos últimos anos e também um projeto em que tenho ajudado a formar jogadores.

Tem visto a Liga portuguesa? O que lhe parece este ano, em relação à luta pelo título?

O campeonato está muito mais equilibrado do que nos anos anteriores. As equipas estão mais próximas em termos de rendimento. É isso que a tabela nos diz. Sinceramente, não tenho seguido muito de perto os jogos. Jogando de três em três dias não há muito mais tempo para ver outros jogos que não os dos nossos adversários. Mas acho que o campeonato está a ser muito mais equilibrado este ano.

Vê algum favorito?

A diferença pontual é muito curta. Há muitos jogos para ser feitos. O favorito será o que conseguir uma maior estabilidade e regularidade até ao final