A 11 de fevereiro de 2011, o Maisfutebol entrevista Júlio Alves pela primeira vez. O médio do Rio Ave estreara-se dias antes na I Liga e ameaçara o FC Porto de livre direto, no Dragão.

Cinco anos depois, precisamente a 11 de fevereiro de 2016, o reencontro entre o nosso jornal e o irmão mais novo de Bruno e Geraldo Alves.

Entre uma e outra conversa muito muda na vida e na carreira de Julinho. É vice campeão do mundo de Sub20, assina pelo Atlético Madrid e ruma ao Besiktas sem nunca ter sido verdadeiramente colchonero.

À ascensão repentina, a queda proporcional. Dos cinco anos de contrato com os turcos, Júlio passa apenas um em Istambul. Muda-se para o Sporting B e depois para o Rio Ave. Não reencontra a felicidade.

Agora, aos 24 anos, Júlio Alves é um futebolista desempregado, mas maduro e consciente. Num discurso de rara lucidez e desassombro, assume todos os erros, identifica problemas de personalidade e promete estar determinado a recomeçar do zero.

Pede uma oportunidade e recorda o enorme potencial que tem. Um ato de contrição e otimismo.   


Em 2011, com 19 anos, foi vice campeão mundial de Sub20 e contratado pelo Atlético Madrid. Em fevereiro de 2016 está sem clube. Qual é a explicação para isto?
«Aconteceu-me um imprevisto no início da época. Tinha tudo acertado para ir para o Santa Clara, através do treinador Horácio Gonçalves, e rescindi o meu contrato com o Rio Ave [expirava em junho de 2017]. Infelizmente, fui apanhado no meio de uma guerra entre direções. Fiquei num impasse. A direção que acabou por assumir o controlo do Santa Clara não era a que me pretendia levar e o interesse morreu. Isso já depois de eu ter interrompido a minha ligação ao Rio Ave. Nem para um lado, nem para o outro».

Em janeiro não houve possibilidade de assinar por outro clube?
«Estive praticamente dois anos sem jogar no Rio Ave. E agora estou há meia época parado. Não é fácil arranjar um clube. Talvez seja possível lá fora, porque aqui em Portugal os clubes têm os plantéis fechados».

Era representado pela Gestifute, do Jorge Mendes. Já não é ele o seu empresário?
«Não, nesta altura não tenho empresário. E preciso de um que me ajude a recomeçar do zero. Tenho falado com algumas pessoas, mas ainda não tive um convite bom».

O que tem feito para manter a forma física nestes últimos seis meses?
«Treino todos os dias de manhã, sozinho. À tarde não faço nada de especial. Jogo futevólei na praia ou em casa de um amigo meu. Às vezes vou até ao ginásio também».

Dizia que esteve duas épocas sem jogar no Rio Ave [quatro jogos oficiais, no total]. Teve alguma lesão?
«Não, nenhuma. Grande parte da responsabilidade foi minha. Houve falta de empenho em alguns períodos e também falta de oportunidades. Um pouco das duas coisas».

Tem uma personalidade que o faz acomodar-se? Desiste facilmente?
«Sim, infelizmente sim. Acomodo-me facilmente. Se eu fosse uma pessoa mais lutadora teria certamente ganho o meu espaço no Rio Ave. Acomodei-me».

Teve algum problema pessoal grave ou o problema foi só causado pelo futebol?
«Nenhum. Foi só o futebol. Muita da culpa foi minha. Não sou daqueles jogadores que luta desesperadamente por um lugar. Se calhar acomodo-me. Dou o meu melhor, mas se não for titular reajo mal, deixo-me ficar. Sempre fui assim, porque nunca tive o hábito de ser suplente».

O seu pai [Washington] é uma pessoa experiente no futebol. O que lhe dizia nessa fase?
«Dizia para eu me esforçar e não baixar os braços. Mas não sou assim. Tive tudo na vida, tive uma vida facilitada. Os meus irmãos mais velhos tiveram de lutar muito, eu não. Já nasci em berço de ouro e já só havia coisas boas em casa. Falta-me a garra, sinto que não tenho isso. Tenho outras qualidades».      

Tem alguma coisa a apontar à Gestifute, a empresa que o representava?
«Não. Foram sempre prestáveis e simpáticos comigo. Mas há uma altura em que o melhor é as pessoas separarem-se. O Jorge Mendes falava essencialmente com o meu pai e o meu irmão Bruno. Comigo falavam mais os colaboradores. Eu não tinha muito acesso ao Jorge Mendes».  

Está a ser difícil viver na pele de desempregado do futebol?
«Muito, muito mesmo. As pessoas não imaginam o quão difícil está a ser para mim. Não é fácil acordar e não ter a motivação de treinar com o meu plantel. Tento combater isso e faço coisas diferentes todos os dias. Mas às vezes custa-me adormecer, penso muito na minha vida».

Continua a ser uma pessoa otimista?
«Sim, é isso que me tem valido. Já conquistei muita coisa boa no futebol. O que se seguiu é que foi estranho. Tinha de estar preparado para os percalços e não estava».

Arrepende-se de alguma coisa?
«Não. Sempre fui correto com toda a gente. Apenas me arrependo de ter sido um atleta acomodado. No tratamento humano sempre fui cordial e simpático, nunca fiz nada de mal. Tenho sede de conquistas e as pessoas têm de saber disso».