Os estilhaços do clima que se viveu esta época no futebol português chegou a Israel, onde Miguel Vítor viu com muito desagrado aquilo que aconteceu em Portugal, e que lamenta, que só sirva para «estragar a imagem de uma coisa tão boa que tínhamos do nosso país».

O defesa assume mesmo que tudo aquilo que se passou lhe tirou a vontade de ver os jogos da Liga Portuguesa. 

Como termo de comparação, o português deu o caso de Israel, um país que há vários anos vive com focos de conflitos, mas onde o futebol é sempre encarado como um espetáculo para desfrutar, com famílias nos estádios e segurança garantida. 

E é por isso que Miguel Vítor garante que no país onde chegou há dois anos seria impossível registar-se a violência que aconteceu em Portugal. «Colegas dizem-me que há alguns anos também houve violência cá, mas agora é impossível. Os adeptos são logo condenados com prisões efetivas», relata.

Acha que, no caso de Israel, o futebol pode ser uma forma de aliviar a tensão ou torna-a mais forte devido a rivalidades entre os clubes?

Não. Aqui as rivalidades são levadas muito mais na desportiva, como tem de ser. Não há qualquer tipo de confusões nos estádios, como às vezes se vê em Portugal, ou como também senti na Grécia. Em Israel vem muita gente aos estádios, mas é para apoiar a equipa, é raro ver algum tipo de confusão. Vemos sempre muitas mulheres e crianças nos jogos porque vão lá para desfrutar de um espetáculo e não sentem qualquer tipo de insegurança. Por exemplo, as minhas filhas vão ver todos os jogos e nunca têm problemas. Na Grécia, por exemplo, quando havia um jogo grande, não as podia levar porque havia sempre o perigo de acontecer algum conflito entre os adeptos e a polícia. Uma das coisas muito positivas de Israel é que os adeptos vão apoiar as suas equipas e não provocar qualquer tipo de conflito.

Estando fora do país, como vê aquilo que tem acontecido no futebol português?

Sinceramente, é muito triste ver aquilo que está a acontece. Cada vez se fala menos de futebol e mais de coisas extra-futebol. Esta foi uma época em que perdi um bocado a vontade de ver futebol em Portugal. Foi raro ver um jogo e qualquer tipo de programa desportivo porque está tudo num nível só de acusação. E é muito grave. Jogadores que cometam algum erro contra uma equipa grande são logo acusados de estarem comprados e eu tenho a certeza de que isso não aconteceu.

Os jogadores não conseguem passar ao lado dessas situações?

Não. É muito grave estar a lançar esse tipo de suspeitas porque depois os jogadores vão jogar contra essas equipas e nunca estão tranquilos. Nunca podem fazer o seu melhor porque vão estar sempre a pensar que se errarem vão surgir notícias de que recebeu dinheiro deste ou daquele. Está um clima de suspeição muito grande que não dignifica em nada o nosso futebol. A seleção foi campeã da Europa, as nossas equipas fazem boas campanhas europeias, o jogador português é muito valorizado em todo o mundo, mas o nosso campeonato não está a contribuir nada para isso. Pelo contrário. Só serve para estragar a imagem de uma coisa boa que tínhamos no nosso país.

E estando num país mais conhecido pelas questões de insegurança, como vê a violência no futebol português?

Aqui seria impossível acontecer. Tal como os conflitos que se veem em Portugal com as claques. Porque aqui há medidas muito pesadas para os adeptos que cometem esse tipo de infrações. Nunca assisti a nada, mas alguns colegas já me disseram que há alguns anos chegaram a haver confrontos. Só que os adeptos são logo condenados com prisões efetivas. E acho que essa é uma forma de acabar com isso.

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