Chegou a ser o dono da baliza do Benfica, mas as lesões e a concorrência roubaram-lhe espaço e em 2011 tomou a decisão de sair do clube onde esteve 12 anos. Saiu porque queria jogar, sentir o nervosismo da competição. No fundo, voltar a sentir-se vivo para o futebol.

Aos 33 anos e depois de quatro épocas no estrangeiro José Moreira está de regresso a Portugal, pela porta do Olhanense, da II Liga. Um passo atrás? «Dois à frente», responde. O Maisfutebol falou com ele sobre o que o levou a prosseguir a carreira no clube algarvio, sobre o campeonato português, o Benfica, Júlio César e Casillas, e ainda sobre um dos objetivo que o move: o regresso à Seleção Nacional.


Voltar já para Portugal estava nos seus planos?
Não fazia parte dos meus planos, mas sabemos que a vida muda. E no futebol muda muito rapidamente. Estou muito feliz por ter tomado a decisão de assinar pelo Olhanense

A ideia era continuar em Chipre?
A minha primeira ideia era continuar no estrangeiro. Mas as coisas entretanto começaram a não virar-se para esse lado e depois tive o convite do Olhanense. Falei com a minha família e aceitei. Acho que foi a altura ideal para voltar.

Já tinha saudades de Portugal?
É óbvio. Mas fui muito feliz nos quatro anos em que estive fora. Agora voltei a Portugal e estou muito feliz por estar em Olhão.

O que é que o convenceu no Olhanense?
Primeiro foi a confiança que depositaram em mim e a vontade e o esforço que fizeram para me trazer para o Olhanense. E depois o projeto que o clube tem. O Olhanense está num ano zero. Estou aqui para ajudar. Todos juntos esperamos colocar o Olhanense no lugar que ele merece.

A promoção à Liga é um objetivo concretizável num ano zero?
Prefiro pensar jogo a jogo. Se pensarmos assim e ganharmos todos os jogos, de certeza que no final do ano vamos estar em zona de subida. Mas todos sabemos que a II Liga é um campeonato muito renhido em que se vai decidir quase tudo nas últimas jornadas.

Houve propostas de outros clubes de Portugal ou do estrangeiro?
Não vale a pena falar nisso. Aceitei a proposta do Olhanense e estou feliz aqui. Vou dar o máximo.

Jogar é mais importante do que o dinheiro?
Quando saí do Benfica para o Swansea, o meu objetivo era claro: jogar. Até aos 24/25 anos eu joguei sempre. Depois tive um interregno de quatro ou cinco anos em que fazia menos jogos por época. Depois joguei na época do Quique Flores, mas com o Jorge Jesus não joguei. E achei que estaria na altura de pensar em sair.

(...)
Queria sentir o stress do jogo. O que eu gosto é de jogar. Em Inglaterra, infelizmente não pude jogar, mas no Chipre voltei a fazer aquilo que gosto: de jogar. Agora quero dar continuidade.

Foi difícil sair do Benfica em 2011? Um clube onde tinha feito toda a carreira profissional?

É óbvio. Não vou mentir que foi difícil. Foram 12 anos que passei naquela casa. Passei lá uma grande parte da minha vida, mas temos de tomar decisões. Não me arrependo de ter saído. Não escondo que aqueles anos vão-me fazer sempre benfiquista, mas agora estou no Olhanense.


«Olhanense? Podem pensar que eu dei um passo atrás. Eu talvez considere que dei dois à frente»

Saiu do Benfica para continuar a sentir-se vivo no mundo do futebol?
Exatamente. Um jogador é como um pintor. Se o pintor for muito bom e não pintar um único quadro, não consegues ver o trabalho dele. O guarda-redes até pode treinar sete dias por semana ao mais alto nível, mas se não o vires no jogo não sabes se ele está bem ou mal. O que eu queria era chegar ao fim de semana e jogar. Queria provar outra vez que era o mesmo ou melhor, mas precisava de jogos. E agora tenho jogado.

Quem olha para o Moreira e para os anos que passou no Benfica deve achar estranho vê-lo na II Liga. Não foi um passo atrás?
A única coisa que eu considero um passo atrás é o facto de o Olhanense estar na II Liga e quando eu saí de Portugal estava na I Liga. Podem considerar que eu dei um passo atrás. Eu talvez considere que dei dois à frente. No Olhanense as pessoas sabem quando jogo mas, se calhar, nem sabem que no ano passado joguei na Liga Europa contra o Dínamo Moscovo.

Como perspetiva a Liga portuguesa, que ainda vai na 7.ª jornada? Fala-se que o Benfica estará mais fraco devido à saída de Jorge Jesus e de jogadores importantes...
Acredito que o campeonato português vai ser decidido entre a última e a penúltima jornada. Os três históricos candidatos começaram bem e estão todos com grandes equipas. E as equipas consideradas mais fracas estão mais fortes.

O Sporting está mais forte com Jorge Jesus? Vai ser mais competitivo?
Se vai ser ou não, isso só veremos no final da época. Todos sabemos o grande treinador que ele é, mas outras equipas também têm grandes treinadores e grandes plantéis.

No Benfica, Rui Vitória tem apostado em Gonçalo Guedes e Nélson Semedo neste início de época. Com a chegada dele, os jovens da formação vão ter mais oportunidades?
É público que o objetivo do Benfica é começar a apostar nos jogadores da casa. E está-se a ver isso no campo. O futebol vive dos resultados e, quando os resultados são bons, há mais margem e manobra para fazer outras coisas.

Os dois campeonatos consecutivos ganhos pelo Benfica dão essa margem de manobra?
A partir do momento em que ganhas títulos... Foi isso que o Benfica fez. Se foi uma aposta boa ou não, isso só poderá dizer-se no final da época. Mas, na minha opinião apostar em jovens portugueses é sempre bom.

Júlio César e Casillas fazem bem ao campeonato português?
Sim. São dois enormes guarda-redes, com provas dadas. Todos sabemos o valor deles. Abrem o nosso campeonato a quase todo o mundo porque são jogadores que têm milhões de fãs por todo o lado.

A chegada de Casillas ao FC Porto surpreendeu meio mundo...
É como eu já disse: no futebol, as coisas às vezes mudam de um dia para o outro. Um guarda-redes pode ter feito 50 defesas num jogo. Mas se sofre um golo no fim e tem culpas, é assobiado. No futebol tudo muda muito rápido. Se calhar, há seis meses o Casillas não pensava em sair do Real Madrid. Mas mudou, se calhar está feliz e não está nada arrependido.

Júlio César deve renovar pelo Benfica?
É o presidente que toma a decisão. É um grande guarda-redes!


«Júlio César e Casillas nosso campeonato a quase todo o mundo porque são jogadores que têm milhões de fãs por todo o lado»


Onde é que Portugal poderá chegar no Europeu do próximo ano?
Todos os portugueses têm de acreditar e apoiar a Seleção para o objetivo de ser campeã europeia. Portugal tem excelentes jogadores, jogadores experientes, jovens valores... Acredito que o objetivo possa ser ganhar o europeu.

E a baliza de Portugal está bem entregue a Rui Patrício?
Neste momento foram chamados três guarda-redes e são todos grandes guarda-redes. Qualquer que seja a escolha do mister, Portugal estará sempre bem servido.

Regressar à Seleção ainda faz parte dos seus planos?
É um sonho e um objetivo que tenho. Posso não conseguir voltar, mas vou lutar por isso até ao último dia da minha carreira.

Até quando? Já o ouvi dizer que quer continuar até aos 40.
Se eu pudesse jogar até aos 90 anos, jogava. Quantos anos tem o Schwarzer? Tem 43. O Ceni está a jogar no São Paulo. O Júlio César também já não vai para novo e o Buffon tem 37.

Sente-se hoje um guarda-redes melhor do que quando saiu do Benfica?
Acredito que sim. Quando eu tinha 19 ou 20 anos só sabia fazer defesas. Hoje em dia prefiro corrigir os meus defesas para que a bola nem chegue até mim. Estou mais experiente, tenho mais jogos e passei por experiências pelas quais nunca tinha passado.