Golo número um. «Foi de livre direto. Parti para a bola muito confiante. O arco saiu perfeito».

Golo número dois. «Recebi um passe atrasado, na zona do penálti. Coloquei bem o pé e a bola entrou muito colocada na baliza».

Golo número três. «Entrei bem na área, solto, e encostei de primeira. O cruzamento feito na esquerda também foi muito bom».

Golo número quatro. «O meu colega chegou à linha de fundo e fez o passe atrasado. Surgi outra vez no coração da área e rematei de pé esquerdo. O guarda-redes também colaborou».

Golo número cinco. «Contra-ataque muito rápido. Recebi de pé esquerdo e rematei logo de pé direito. O pontapé saiu perfeito».    

A entrevista a Carlos Eduardo, o homem do momento em França e, muito provavelmente, no futebol europeu, tinha de começar assim. Na primeira pessoa, sempre muito equilibrado no discurso, o médio cedido pelo FC Porto ao Nice recordou «a noite perfeita» em Guingamp.

«Nunca tinha feito cinco golos num jogo, claro. Creio que o meu recorde eram dois», conta o jogador de 25 anos ao Maisfutebol.

ENTREVISTA A CARLOS EDUARDO: os ídolos, o pai no futebol e o sonho da «canarinha»



Convidámos Carlos Eduardo a abraçar a conversa por aí, mas passámos depois pela experiência dele na Ligue 1, a vida na Côte d’Azur, as memórias de infância e, naturalmente, a ligação ao FC Porto.

O médio tem contrato até 2017 com os dragões e, talvez por isso, nos tenha pedido para não falar sobre temas relativos à (má) temporada de 2013/14. Carlos Eduardo fez 30 jogos e seis golos sob a orientação de Paulo Fonseca e Luís Castro.

Já consegue explicar os cinco golos? Foram um mero acaso ou consequência feliz do seu novo posicionamento em campo?
«Nesta altura eu estou a jogar na posição ‘8’. Tenho muita liberdade e surjo várias vezes na área adversária. Mas quando cheguei até jogava mais adiantado, na posição ’10’. O técnico muda um pouco o sistema nos jogos fora de Nice. Sobre os golos… (risos) Bem, não é fácil explicar. Estava muito concentrado e senti que podia marcar de qualquer lado. Só no fim é que parei para pensar: ‘caramba, o que eu acabei de fazer’».

O que lhe disseram os colegas quando chegou ao balneário?
«Não disseram nada, partiram logo para a festa. Pegaram em mim, gritaram, atiraram-me ao ar. Foi uma noite histórica, nunca o Nice tinha marcado sete golos fora de casa e creio que só uma vez um jogador em França tinha feito o que eu fiz».

O que vale este Nice? É uma equipa capaz de chegar à Liga Europa?
«Em França há clubes com muito dinheiro. Mónaco, PSG, St. Etienne, Lille… o nosso objetivo é andar entre os oito primeiros. Na fase final, se estivermos bem, podemos assumir outro desafio».

Quando saiu do FC Porto e veio para o Nice o que conhecia deste novo projeto?
«Bastante. Tive, aliás, outros convites [Turquia] mas o meu amigo Adeilson, ex-colega no Fluminense, jogou cá e disse-me muito bem do clube e da cidade. Fui muito bem recebido e estou num clube organizado e claramente em crescimento. Não vim para o desconhecido, sabia perfeitamente o que ia encontrar cá».

O treinador Claude Puel disse recentemente que só falta ao Carlos Eduardo ser mais regular. Sente que as pessoas do Nice esperam muito de si?
«Sinto, e isso é o mais importante, uma grande vontade de aprender e evoluir. Estou disposto a fazer tudo dentro do campo, qualquer posição, para ajudar a equipa».

Na época passada teve uma lesão complicada no FC Porto. Como é que está agora  fisicamente?
«Estou numa fase muito boa. O ano passado foi complicado, tive um problema no tornozelo e no tendão de Aquiles. Isso acabou por prejudicar a minha afirmação».

Este verão acabou por sair do Dragão. Continua a seguir o FC Porto?
«Vejo todos os jogos. As ideias do novo treinador [Lopetegui] estão a ser bem assimiladas e a equipa está bastante mais forte este ano. Fico muito feliz porque gosto do clube».

Casemiro, Campaña, Óliver, Evandro, Quintero, Brahimi, até Rúben Neves e Otávio. Muitos nomes para poucos lugares no meio-campo. A sua saída era inevitável?
«Não sei. Eu e o clube achámos que era a melhor solução. Entendemos isso. Está a ser bom para mim jogar em França».

De todos estes médios, qual foi aquele que mais o impressionou?
«O Quintero é um craque. É fora do normal. Vai conseguir mostrar toda a sua qualidade, se tiver continuidade. Joga muito, é genial».     

Está há dois meses no Nice. Já consegue dizer qual a maior diferença entre as ligas francesa e portuguesa?
«A maior diferença está na vertente física. Aqui em França todos os jogos são extremamente exigentes do ponto de vista da intensidade. Mas estou a adptar-me bem. Os anos passam e a experiência ajuda a perceber-me o que cada jogo pede. Amadureci muito no FC Porto e também no Estoril».