Vice-campeão do mundo de Sub20 em 2011, jogador dos quadros do AC Milan entre 2011 e 2015, contratado pelo Benfica no passado verão e ligado às águias até 2019.

O passado recente de Pelé é rico e prometedor. O médio, 24 anos, aprofunda em Paços de Ferreira a experiência na I Liga e prepara o desejado regresso à Luz, onde esteve duas semanas na pré-época.

Médio completo, figura importante nas escolhas de Jorge Simão, Pelé fala com desassombro sobre defeitos e qualidades, virtudes e receios.

Em entrevista ao Maisfutebol, o atleta nascido na Guiné Bissau, mas criado entre Chelas e o Cacém, assume a necessidade de ter alguém que o motive continuamente e que não o deixe adormecer em campo.

Uma conversa franca, longa, sem tabus. Judilson Mamadu Tuncara Gomes, eis Pelé.
 

ARTIGOS RELACIONADOS:

«Fui dispensado do Atl. Cacém porque não passava a bola»

«No AC Milan diziam que eu era desleixado»

«Fiquei triste por sair do Benfica, mas Rui Vitória foi correto»

 

A mudança para Paços de Ferreira está a corresponder às expetativas?

«Sim, completamente. Tivemos agora duas derrotas seguidas, infelizmente, mas vamos voltar às vitórias rapidamente. Estou num clube muito agradável, organizado e estável. Ouvia falar do Paços, mas não conhecia bem o clube. Estou a gostar muito de estar aqui, só posso dizer bem de tudo».

Qual é o objetivo pessoal para esta época?
«Ajudar a equipa a atingir os seus objetivos, trabalhar bem e evoluir».

Trabalhou com o Jorge Simão no Belenenses. Ele foi decisivo na sua escolha pelo Paços?
«Foi importante, sim. Conheço-o bem e ele mostrou muita vontade de contar comigo. Além disso, falei com vários colegas que já jogaram no Paços de Ferreira e todos me falaram bem do clube. Escolhi bem».

Que tipo de treinador é o Jorge Simão?
«É muito exigente e eu preciso disso. Às vezes acomodo-me, preciso que o meu treinador puxe por mim. Sou um jogador que se acomoda um pouco, preciso de um raspanete para acordar. Conheço bem o mister e sei que ele me obriga a dar o máximo em todos os treinos. Não me deixa adormecer».

Aqui em Paços mantém as funções que tinha no Belenenses?
«Tenho sido mais vezes um número oito do que um número seis. Quando jogo com o Romeu, ele fica um pouco mais recuado e eu à frente. Quando jogo com o Christian, sou eu que recuo. Sinto-me bem nas duas posições, eu quero é jogar e ajudar».
 

«O Nélson Oliveira arrasava as defesas»


Acredita que pode chegar ainda esta época à Seleção Nacional?

«Estou a trabalhar muito. Espero merecer a confiança do selecionador. Quando isso suceder, estarei lá com todo o orgulho. Desejo que aconteça, esta época ou na próxima. É um dos meus grandes objetivos».

Este selecionador nacional está a olhar mais para quem merece?

«Sim, tenho essa impressão. Está a dar oportunidades a jovens. Rúben Neves, Danilo, Gonçalo Guedes, até o Lucas João e o William… tenho de continuar a trabalhar e esperar para entrar na lista de convocados. Estamos todos a lutar por uma vaga e os que já lá estão sabem que não podem facilitar».

O Mundial Sub20 foi o momento mais feliz da sua carreira?

«Sim, apesar da derrota na final foi um dos mais felizes. A experiência foi espetacular. Antes do Mundial só tinha jogado uma vez num estádio cheio, na Luz. Cheguei ao Mundial e joguei sempre em grandes ambientes. Foi extraordinário. Fiz bons jogos, chegámos à final e assinei pelo AC Milan».

Saíram de Portugal anónimos e acabaram como heróis nacionais…

«Falávamos entre nós sobre isso. Sentimos que poucas pessoas estavam interessadas na nossa equipa no início desse Mundial. Depois do Mundial fizemos com que o jogador português fosse olhado de outra forma».

Quem era o melhor jogador dessa seleção?

«Difícil… (risos) Tínhamos uma equipa muito compacta, muito unida, todos defendiam e atacavam. É difícil escolher só um. Dávamo-nos todos muito bem. Mas o meu irmão, que tem dez anos, até hoje não se esquece do Nélson Oliveira. Às vezes telefona-me e pergunta logo: ‘estás com o Nélson ?’».

Foi ele a face mais visível do sucesso da nossa seleção?

«Sim. Só não foi o melhor do Mundial porque o Brasil ganhou a final. Fez um torneio extraordinário. Levava as defesas todas à frente, arrasava-as. É bom jogador e uma pessoa impecável».  

Quatro anos depois, o Nélson continua sem se impor no Benfica. Porquê?

«Não sei, a qualidade está lá. Não sei se subiu muito rápido… não teve um treinador que apostasse mesmo nele. Vi-o fazer bons jogos, mas não teve continuidade no Benfica. É pena. Se ele tivesse ficado este ano no Benfica, acho que ia jogar muitas vezes. Podia alternar com o Jonas, o Mitroglou ou o Raúl Jiménez. O Nélson merecia mais oportunidades».  

O Ilídio Vale foi o grande responsável pelo sucesso dos Sub20?

«Gostávamos muito da forma de trabalhar dele. Ainda hoje o professor me telefona. Quando soube que ia assinar pelo Benfica ligou-me logo, deu-me a opinião dele e conselhos. É importante saber que se preocupa connosco».

Imagino que não seja fácil falar sobre a final desse Mundial.

«Bem, foram tantas emoções ao mesmo tempo… O jogo deu de madrugada em Portugal e o país estava agarrado à televisão. Os meus amigos estavam num bar e toda a gente se juntou para ver o jogo. Mesmo com a derrota, toda a gente me deu os parabéns. Senti-me um herói».