Um apelido que ficou na memória dos adeptos portugueses.

Regula foi um dos jogadores que deixou marca no futebol português, quanto mais não seja pelo nome que sempre transportou nas costas.

Aos 28 anos, o jogador nascido em Sarilhos Pequenos atravessa um momento inédito na carreira: está no desemprego e sem empresário.

O médio integra o Estágio do Jogador, iniciativa promovida pelo Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), e foi esse o mote para o início da conversa com o Maisfutebol.

É a primeira vez que estou aqui. O último ano foi atípico, a primeira vez que me aconteceu. Como estava livre, deixei-me ir atrás de promessas. Diziam que era mais fácil, que me punham aqui e ali. O tempo foi passando e deixou de fazer sentido esperar. Decidi dar um passo atrás e ir para o Campeonato de Portugal, mas foi já a pensar na nova época»

O último ano foi passado ao serviço do Pinhalnovense, onde realizou cerca de uma dúzia de jogos. Uma alternativa que considerou viável para continuar a competir, mas à qual não deu continuidade.

«Decidi que ficar à espera que o telefone tocasse não adiantava nada. No Estágio podia continuar a receber propostas e ter outras mais, quem sabe. Treinava com um Personal Trainer, mas assim estou em equipa, a limpar a cabeça e numa realidade mais próxima do que quero apanhar. Não tenho vergonha de lá estar», confessou.

Formado entre o Sporting e o Vitória de Setúbal, foi no emblema sadino que Paulo, nome próprio, deu os primeiros passos como profissional. Ainda assim, foi mais a sul que viveu uma das páginas mais bonitas da carreira.

Em 2011, Regula era jogador do Olhanense, numa campanha que iria resultar na melhor classificação de sempre do clube na I Liga, um 8.º lugar.

Ao leme dessa equipa estava um novato nestas andanças de treinador.

Sérgio Conceição.

«Se calha a ser outra pessoa, acho que a coisa aquecia…»

A vida dá muitas voltas, mas há coisas que ficam para sempre, como as recordações de Paulo acerca do novo treinador do FC Porto.

Quando Sérgio Conceição chegou a Olhão, no currículo tinha apenas uma experiência como adjunto no Standard Liège. Mas o jeito para a coisa estava lá, contou Regula. Isso e uma personalidade que todos ficariam a conhecer rapidamente.

«A personalidade forte é um traço característico dele, muito embora seja também um bom treinador. Para além de trabalhar muito bem, transmite aquela garra para o grupo. Não era fácil vencer-nos, éramos unidos e lutadores. Caprichava muito no capítulo do passe, era muito exigente. Se passássemos mal ficava doido, tínhamos de o fazer como se fosse um jogo mesmo. Notava-se que já tinha bases, talvez de treinadores que apanhou como jogador», indicou.

Na cabeça do jogador ficou até um célebre episódio que ainda hoje «saca» uns sorrisos ao novo mister do FC Porto quando se encontram.

«Uma vez fizemos um treino à tarde e a sessão durava há pouco tempo. A assistir aos treinos estava quase sempre o avô de um amigo nosso, que vivia muito o clube», começou por contar, prosseguindo:

«Tínhamos lá um lateral que não jogava muito. Houve uma jogada em que a bola entrou nele e o velhote na bancada começou a gritar “vai, finta, faz, acontece”, tipo indicações. Olhámos para o mister e vimos que lhe tinha parado o chip (risos). Acabou o treino»

«Como era um velhote, não ia para cima dele, claro, então preferiu apenas acabar com o treino (risos). Deu-nos uma dura quando chegámos ao balneário, depois. Se calha a ser outra pessoa, ui, acho que a coisa aquecia (risos)», contou.

Questionado sobre a aventura do antigo treinador no Dragão, Regula foi perentório na resposta: «Para mim é o treinador ideal para o FC Porto neste momento. Vai exigir muito dos jogadores e talvez não estivessem habituados a isso. Vai revolucionar o FC Porto com a sua exigência, os seus métodos e a sua personalidade.»

As aventuras e desventuras na terra onde o sim é não…e vice-versa

A cumprir a terceira época como jogador do Olhanense (com uma cedência à Naval pelo meio), Regula decidiu tentar a sorte no estrangeiro.

Em janeiro de 2015 mudou-se para a Bulgária e para o Litex, treinado por Krasimir Balakov.

Nesses seis meses, o português viu a equipa apurar-se para a Liga Europa e conseguiu convencer adeptos e dirigentes da sua qualidade, mas o destino trocou-lhe as voltas.

Ao saber que ia ser pai, Paulo optou por regressar a Portugal. Na mala trouxe uma experiência «positiva» em termos futebolísticos, mas não tanto a nível pessoal.

É que, ao que parece, a Bulgária é um país de opostos.

Literalmente.

«É um país muito diferente do nosso, muito fechado, ainda com aquele fantasma da ditadura. O alfabeto é diferente, até o “sim” é diferente lá, porque é o nosso “não” e vice-versa. Quando cheguei lá não tinha carro, então tive de apanhar um táxi no aeroporto. Estava a nevar como o caraças, um frio de rachar. Aproximei-me de um táxi e perguntei se podia entrar, ao que o taxista diz-me que não, mas a sorrir»

«Tentei o outro a seguir, mas o taxista do primeiro sai do carro e insiste que eu entre, mas a dizer que não (risos). Depois lá me conseguiu explicar, no pouco inglês que falava, que era para entrar. Quando cheguei ao estádio é que os meus colegas me disseram. Estamos num café e perguntamos se tem determinado prato e dizem que não mas a sorrir, coisas desse género. Só fiz figuras de parvo (risos)», recordou.

Depois do regresso a Portugal, andou pelo Atlético e, na última época, esteve então no Pinhalnovense. Até chegar à situação atual.

Aos 28 anos, ainda longe do final da carreira, o médio mostra-se otimista quanto ao futuro.

«Têm surgido propostas, mas ainda não as que pretendia. Gostava de voltar à I Liga para poder relançar a minha carreira, era o ideal. Sinto-me bem. Tenho noção das dificuldades que o futebol português atravessa, mas tenho esperança que as coisas se vão resolver. Trabalho para conseguir triunfar, depois o futuro a Deus pertence.»