* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
Siga o autor no Twitter


Nenhuma dialética de investigador é exigível nesta conclusão: Dulce Félix, vice campeã europeia dos dez mil metros, é um rosto a seguir com obrigatoriedade na Maratona feminina dos Jogos Olímpicos. Caso encerrado.

As provas são contundentes: ouro em Helsínquia-2012 nos europeus dos dez mil metros; duas vezes prata e duas vezes bronze nos europeus de corta-mato; 21ª na Maratona dos Jogos de 2012 e um recorde pessoal na mesma distância estabelecido em 2015 (02h25m15s).

«Comecei por brincadeira nesta vida do atletismo, ainda muito menina», explica, atrás de uma timidez que nunca a abandona no discurso, ao Maisfutebol.

«Treinava às seis horas da manhã, ia trabalhar a seguir e ao fim da tarde voltava a treinar», atira, sempre afligida pelas perguntas do entrevistador, como se desta conversa dependesse o sucesso ou o insucesso olímpico.

«Passava oito horas de pé por dia, em frente a uma máquina»

Dulce é uma mulher de trabalho, uma campeã. Até finais de 2008, já investida de apreciáveis resultados, Dulce dividia as suas forças entre as pistas e o labor numa fábrica de confeções em São Martinho do Conde, Guimarães.

«Fazia toalhas e outros tecidos, passava oito horas de pé por dia, sempre em frente a uma máquina». Tudo isto a troco de 450 euros. Insustentável, pelo menos a partir do momento em que o atletismo gritava a plenos pulmões e suplicava-lhe por atenção.

Numa primeira fase, Dulce pediu ao patrão uma ligeira alteração no horário de trabalho. Entrava duas horas mais tarde, de forma a treinar de manhã com qualidade, e saía às 16 horas. Pedido aceite.

Durante uma época, Dulce geriu assim os treinos e o compromisso com a fábrica. Até deixar de ser possível. Os resultados explodiram, Dulce Félix tornou-se uma atleta de nível internacional e abraçou o profissionalismo. Atletismo a full time.

Tudo começou no ACR Conde, passou pelo Vizela e posteriormente para o Sporting Braga. Aos 33 anos, ligada ao Sport Lisboa e Benfica, parte para as Olimpíadas com objetivos altíssimos.

«Há quatro anos fui 21ª classificada e senti que a prova não me correu bem. Este ano sinto que posso estar entre as dez melhores e vou lutar para isso», confessa ao Maisfutebol.

Os sinais prometedores, os tempos de competição ainda mais. Não é preciso ser Sherlock Holmes para perceber que esta mulher é de armas. Uma medalha olímpica ficava-lhe tão bem.